Advice: Ocorridos

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Son não se considerava o maior conservador da Coreia; não era adepto a todos os costumes, quebrava alguns estereótipos e padrões sociais considerados modelo. Uma das maiores coisas que podia fazer era defender a seleção coreana, e seguir regras ditadas pelo pai como forma de gratidão por tudo que faziam por ele, por amor aquilo.

Mas também queria fazer mais por si mesmo.


Mais uma vez ele sentia que as cartas estavam invertidas. A carta em sua vida que deveria mostrar o controle, rumo e oportunidades estava de ponta cabeça, mostrando que as mudanças estavam ocorrendo rápido demais, que não tinha controle sobre as situações, e que queria se opor a elas sem condições de fazê-lo. A carta que deveria mostrar transformações boas, fins de ciclos ruins, estava também invertida lhe causando perdas, destruição e deixando ele resistente a novas mudanças. Era difícil aguenta aquilo, principalmente quando não acontecia apenas consigo e também com as pessoas ao seu redor.


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O coreano caminhava com a cabeça baixa para o departamento médico; a imagem se formando próximo a porta do local, de Richarlison sentado na banheira de gelo em meio ao frio congelante de Londres partiu seu coração em incontáveis pedaços, e quebrou em mais pedaços ao pensar em como ou em que o brasileiro estava pensando. Ele bateu os nós dos dedos fracamente na porta, o brasileiro virou o rosto em direção ao som, desviando a atenção quando encontrou o olhar do mais velho.

Richarlison tentava inutilmente secar as lágrimas que rolavam em seu rosto com a mão molhada pela água gelada. Heungmin se sentou ao seu lado, segurando em sua mão parando aquele movimento agressivo que o camisa 9 da seleção brasileira tinha contra o próprio rosto. Ele tentou sorrir confortavelmente como sempre fazia, mas não conseguiu, principalmente ao escutar o brasileiro fungar triste com as novas lágrimas que se formavam nos olhos - que Son ainda não tinha decifrado totalmente a cor.


- Está doendo, não está? – O coreano perguntou passando a mão que não segurava a do outro jogador no rosto moreno dele, secando todo aquele caminho brilhoso que insistia em sair dos olhos dele.


Richarlison balançou a cabeça em negação, abaixando o queixo e focando o olhar nos cubos de gelo flutuando na banheira.


- O seu coração dói mais, não é? – Heungmin conversava com ele com calma, pensando nas conversas que tinha com sua própria psicóloga, nas dores escondidas por trás de todos os nervos, músculos, pele e tudo mais. – Kane veio conversar com você antes..., já era pra você ter saído da água a algum tempo, querido...


- É o meu sonho Sonny...


Son sabia exatamente sobre o que Richarlison estava se referindo enquanto levantava os olhos vermelhos para lhe encarar, com os lábios tremendo tanto pelo frio quanto pelo choro preso na garganta.


- Eu... Merda.


- Eu sei Richy, não era pra isso estar acontecendo.


- Eu amo essa seleção mais do que tudo que eu posso imaginar. Você entende? Era minha oportunidade... – O brasileiro falava um pouco alto pelo choro querendo cortar toda a sentença. – Se eu não me provar agora não serei convocado para as olimpíadas, e muito menos para a Copa em 2026. Caralho... E-Eu entenderia sabe? Se eu não fosse convocado..., ia doer pra caralho, eu ia provavelmente surtar, mas eu tô fora por lesão... Eu tinha que me machucar de novo logo agora? Eu sou tão azarado assim?

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