Advice: Caixa de Lembranças

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Richarlison tinha prometido para si mesmo que conversaria de forma séria com Son. Que o questionaria, que não deixaria que o coreano tomasse vantagem na situação, afinal ele estava sendo tratado como um fantasma, mesmo existindo..., mesmo estando ali para qualquer um que quisesse ver.


Mas tudo caiu por terra quando viu Sonny chorar.

Eles estavam ajoelhados no chão gelado do vestiário úmido. O coreano ainda tinha o dorso nu. O camisa 9 tirou a jaqueta e colocou sobre os ombros alheios, lhe envolvendo em um abraço desconfortável.


- Me desculpa, me desculpa mesmo. - Era a única coisa que ele conseguiu repetir desde o início. Não imaginava que isso fosse acontecer, era impossível pensar em Son chorando dessa forma.


Os ombros do camisa 7 subiam e desciam em soluços incontroláveis, o rosto molhado já ganhou uma nova coloração avermelhada. Os olhos puxados e outrora brilhantes ardiam tanto quanto fogo.


O brasileiro fazia carinho nos cabelos macios, esperando Son Heungmin se acalmar.

Esperava uma voz quente, um olhar brilhoso, e um sorriso intocável, para reconhecê-lo novamente.


A verdade era que Son acumulava problemas e incômodos, e quando isso o preenchia ele transbordava sem uma forma de parar. Mesmo que Richarlison tenha desencadeado o seu choro, o coreano apenas estava destruíndo a bola de neve que tinha criado nos últimos meses. Estava em uma crise.


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- Sonny... - O camisa 9 começou a falar devagar, quando o choro do coreano diminuiu. - Agora neste momento, você sabe que eu tenho muito a dizer..., mas não consigo expressar isso nem no meu próprio idioma. Eu sou um pouco desajeitado.


Son deu uma risada leve com a cara enfiada entre o ombro e o pescoço de Richarlison. Sim, realmente o brasileiro era um pouco desajeitado.


- Eu não queria ver você mal. Desde a copa parecia que tinham muitas coisas te incomodando. Eu... não queria ser mais uma delas.


O asiático levemente levantou o rosto, encarando os olhos próximos aos seus. Ele abriu os lábios para falar alguma coisa, mas não conseguiu.


- Mas eu fui burro. Burro pra caralho na verdade. Acho que nem nas minhas piores memórias você poderia ser alguém que ficaria puto com fanfics ou coisas do tipo. Você é você poh, não se incomoda com nada, pelo menos desde quando cheguei aqui a única coisa que pode te abalar é o futebol e as partidas.


Son apertou mais os braços que estavam na cintura do brasileiro, e se aconchegou escondendo o rosto no moletom alheio. Ele sentiu que choraria novamente.


- Minha mente ficou em branco... Eu lembrava do seu rosto com clareza me ignorando toda vez antes de dormir, ou fazendo qualquer merda, até lavando a louça. Eu queria te dizer muitas coisas, mas simplesmente não consigo.


- Tudo bem Richy... Você já pode parar. - Heungmin falou em um tom baixo, tocando a palma da mão na bochecha do camisa 9. Ele se apoiou no ombro do outro e se levantou. - Eu estou com frio.


Richarlison riu. O sorriso finalmente estava no rosto alheio..., o sorriso que ele esperou durante uma semana finalmente estava direcionado a si, não apenas para os outros.


- A culpa não é sua, certo? - Sonny disse se vestindo com as peças de roupas acolchoadas com o brasão do time. - Eu também fui... imprudente. Você disse que aparecermos juntos seria ruim, mas eu não precisava te tratar daquela forma em qualquer canto. Acho que apenas tava com medo de que alguma câmera nos fotografasse juntos e que você ficaria bravo. Desculpa.


O brasileiro balançou as mãos e a cabeça em negação diversas vezes.

- Que isso, eu entendo. Acho que nem tinha o direito de estar bravo com alguma coisa. Eu pensei demais e fiz merda.


Son parou em sua frente, passou os olhos pelo cabelo descolorido, e por todo o rosto, sorrindo feliz.


- Estamos resolvidos então? - O asiático esticou os braços, esperando que Richarlison entendesse.


O camisa 9 abraçou o outro fortemente, fazendo até mesmo os ombros de Son se curvarem levemente. Ele cruzou as mãos atrás das costas alheias e descansou ali.


- Eu não aguentava mais ver você só feliz com os outros nesse tempo. Tava me deixando maluco, parecia que... você estava tão satisfeito sem mim.


O coreano riu, levando uma das mãos para a nuca de Richarlison, passando a mão levemente pelo local.

- Você esperava que eu chorasse? Se te deixa mais feliz, eu só sorria nos treinos. Em casa eu te xingava de tudo o que era nome.


O brasileiro se afastou um pouco, encarando o camisa 7. Os rostos tão próximos para não sentirem o frio da cidade.

- É sério?


- Sim, é sério, se minhas paredes pudessem falar, com certeza seriam testemunhas que eu te xinguei até as próximas gerações.


Richarlison não respondeu, apenas sorriu ao olhar o sorriso do outro, como uma devoção silenciosa.


- Vamos embora, tá? Se o chefe de segurança avisar a Conte que eu fui embora tarde ele vai me matar.


- O velho não vai ficar sabendo. - O brasileiro disse voltando a descansar o rosto no ombro de Son.


- Você não está entendendo, Andrade. Conte disse que se eu não fosse pra casa no máximo às 22h ele me deixaria no banco, sem ter ninguém para me substituir. Disse que se pudesse ele mesmo entraria em campo só pra me ensinar uma lição.


Richarlison riu imaginando alguém como Antonio Conte correndo durante 90 minutos, tentando dar assistências para Kane fazer gols. Tudo bem que o técnico italiano era meio maluco, não parecia impossível.


Ele soltou o aperto depois de um tempo.


- Não me ignore nunca mais..., por favor.


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