Fertilidade

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Havia uma criança sendo gerado no meu coração, muito antes de nos casarmos. Diria desde que conheci a Bia. Vagner sabia. Ele sentia a vida quente e desejosa que eu ansiava gerar. Ás vezes meu desejo de segurar um filho era tão forte, quemesmo depois que Heloísa se recuperou e minhas visitas não eram mais necessárias, inventava uma desculpa e ía a Campinas ver o meu filho postiço, Kaio. A maternidade tornou-se inadiável e necessária.

Ele chegaria de viagem naquela noite. Entrou no apartamento, assim que me viu na sala vendo tv com o Sr. Levy, lhe presenteei com um sorriso cumprido e caloroso, serpenteou seu corpo com os olhos de desejo. Imediatamente ele entendeu, foi para o quarto e o segui.

A febre de seus beijos em êxtase de tesão acariciando-me, meu macho, o futuro pai do bebê. Fora e dentro de suas roupas. Corri as mãos ágeis por dentro de sua camisa, descendo pela calça, conforme ele se inclinava para me beijar.

- Fiquei o dia todo pensando em você! - gemia chupando-me o pescoço, subindo meu vestido. Tomou-me no colo e me prensou na parede.

Estava a me dissolver em seus beijos, a língua macia se esfregando na minha, sentindo aquele desvario queimando-me o ventre. Sussurrava-me com a voz abafada, num enlace dos braços, confissões de sexo bruto, e tão íntimos que desejava não revelar a mais ninguém. A cada investida do pênis, a espera do surgimento da vida despejada no meu ventre.

Sentindo aquele instante como se eu acabasse de conceber a vida, mal ele finalizou o orgasmo deitei-me na cama, coloquei vários travesseiros debaixo dos pés e ali fiquei estática arfando. Ele olhava-me estarrecido.

-Que está fazendo?

-Ah isso? - retruquei encabulada. - É para ajudar a fecundação. Li em algum lugar que facilita o caminho dos espermatozoides até o óvulo. Não sei se é verdade, mas não custa tentar!

Até então ele não havia encarado o fato de que sua esposa estava doente de desejo para ser mãe.

Depois de retornar do banheiro, ele se deitou ao meu lado, passou os braços pelos meus ombros, aconcheguei minha cabeça em seu peito e respirávamos um silêncio delicado, mergulhados num mar de tantas coisas a serem ditas, contudo nos afogávamos em receios.

Ele nunca havia se pronunciado explicitamente sobre o desejo de ser pai novamente. Ser mãe estava no meu destino de mulher, no propósito da minha criação. Não carregar um filho do amor da minha vida, era impensável. Seria insuportável.

Perguntei com aquela curiosa ênfase solene em que nós comumente falamos como se a própria banalidade de nossas palavras fossem uma prova da coragem em tocar num assunto espinhoso.

-Amor, você também quer, não quer? - ele nem precisou perguntar do que se tratava.

-Quero. Te amo muito. Sabe disso, não sabe? - respondeu com a voz baixa e vagarosa - Mas para o homem é diferente. Nós sentimos a paternidade depois de ver o filho. Para a mulher é mais intenso. Começa muito antes, até por conta da gravidez.

-Mas não quero que tenha o filho só porque me ama. - Afff, que mentira deslavada. Eu queria o filho de qualquer jeito!

-Sim, amor. Vamos ter o filho. Não se preocupe com isso. Aos poucos vou me acostumando com a ideia. É um processo, é um processo.

Se o resultado daquele "processo", um filho, era genuinamente desejado por ele, naquele momento não poderia dizer. Mas quanto ao processo em si e todos os seu atos libidinosos, ah isso ele não haveria de reclamar!

Naquele mês de março, iniciou-se um padrão. Durante meu período fértil, perseguia meu amado, seduzindo-o nas mais variadas ocasiões em busca do espermatozoide que habitaria em meu óvulo, gerando o milagre da vida. No restante da tabelinha, aguardava ansiosamente pelo ciclo mestrual, torcendo para que atrasasse. Quando não era o caso, uma sensação de fracasso me varria, e passava vários dias mal humorada.

Houve um mês que Vagner viajaria bem no meio do meu período fértil, e, resolvi lhe fazer uma visita íntima no escritório, pois ele iria direto para o aeroporto naquela ocasião e ficaríamos uma semana sem nos ver. Cheguei à recepção e sua secretária avisou a ele que eu o a aguardava, e, tão logo um homem saiu de sua sala, entrei na sequência. Ele digitava no teclado, com os olhos fitos na tela e só me notou quando já estava me sentando na cadeira imediatamente a frente da mesa.

- Linda! O que faz aqui, meu anjo? - indagou estupefato.

-Já que vai ficar fora alguns dias, pensei em lhe fazer uma visitinha íntima. - esclareci corando, enquanto me aproximava dele.

- Poxa, é uma pena, você podia ter avisando. Acabei de confirmar uma reunião com clientes, devem estar a caminho.

- Posso esperar a reunião terminar. - argumentei sorrindo.

-Nossa, que pena, mas não dá mesmo. Na sequência já saio correndo para o aeroporto.- lamentou-se e voltou a digitar.

-De jeito nenhum! - protestei levantando-me - Vamos perder praticamente todos os meus dias férteis! Quando voltar já estarei menstruando! Por favor, só preciso de 5 minutinhos!

-Amor... - balbuciou enfadonho imaginando que iria entrar em uma longa discussão - Não tem a mínima possibilidade! São clientes importantes!

-Cinco minutinhos. - insisti no limiar da revolta, estava para lhe baixar as calças ali mesmo.

-Patricia! O que é isso? Não vou conseguir gozar em cinco minutos! Além disso, aqui é tudo aberto, qualquer um entra na minha sala.

-Vamos para o banheiro! - ele balançou a cabeça negando e riu da minha insistência.

Pobre homem. Não sabia meu amado que: chuva ladeira abaixo, fogo morro acima e mulher quando quer dar, ninguém segura. Aproximei-me dele vagarosa como um gato circunvagando o telhado, passei as mãos nos cabelos, e murmurei com a voz adocicada.

- É uma pena. Eu ia te chupar tanto. Depois sentaria nele rapidinho, quicando muito a boceta até você me deixar toda encharcada.

Ele nem piscava. A pupila se dilatou como se a luz do recinto tivesse sumido, o semblante desmaiou, sua respiração ficou acelerada e podia ver as narinas se dilatando. Aproveitei-me desse lapso, levantei-me cuidadosa, ainda com os olhos de volúpia sensual e caminhei delicadamente em direção ao banheiro de sua sala.

-Vem lindo!

-Amor... - balbuciou confuso enquanto se levantava indo em direção ao banheiro - Meu Deus, o que... O que estou fazendo!! Isso não vai dar certo. Cinco minutos! Cinco minutos! Não posso demorar mais do que isso! - ralhava energicamente enquanto fechava a porta do banheiro.

Não foram cinco minutos. Foram exatos doze minutos até que eu conseguisse extrair do meu amado seu material genético. Um recorde de nossos coitos. Ele gozou contido, esforçando-se o máximo que podia para reduzir os decibéis de seu orgasmo. Mas eles foram, como de costume, bastante expressivos.

Assim que saímos do banheiro, dois homens e uma mulher aguardavam sentados nas poltronas e obviamente haviam de ter ouvido nossa sinfonia de gemidos. Mesmo que não tivessem ouvido, viram Vagner sair com as calças ainda de zíper aberto enquanto eu subia o vestido. Assim que nos deparamos com os visitantes, Vagner olhou para Débora, a secretária, em pânico.

-Sr.Kauffmann, achei que a Sra. Patrícia já havia saído, então... Então pedi que eles entrassem, eu... - gaguejava Débora.

-Oh! Fez muito bem! - respondeu Vagner indo em direção à mulher com as faces rosadas, imediatamente lhe estendeu a mão - Sra. Basílio! Que satisfação! Já conhece minha esposa, Patrícia?

-Ah não, não. Não conhecia. - A mulher encolheu alguns centímetros, estendeu a mão e respondeu mecanicamente, como se num reflexo muscular das cordas vocais.

-Oi. Oi. - cumprimentei buscando um buraco no chão para me enfiar. Jesus! Que vergonha! Saí sem me despedir e depois recebi a ligação de Vagner revoltado: "Nunca passei tanta vergonha na minha vida! Não apareça mais no meu escritório!"

Por aqueles dias em que a maternidade estavam tão latentes, tive um pesadelo, Estela surgiu castigando-me com as memórias de nosso passado. Lembrei daquele pecado nunca confessado e esquecido. Meu bebê que matamos juntas.

EU TOQUEI A VIDA - Continuação de Eu Toquei o InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora