Capitulo 13 - Seduzindo com o Jazz

10 0 0
                                    

 Alessandra estava bem, quem não estava era eu, precisava de uma companhia, uma boa conversa, uma transa no final do dia, algo que me acalmasse. Quando se tem um emprego o dia de sair para beber torna-se sexta-feira. E eu me recusava sair em qualquer outro dia, até porque tinha de escrever e na manhã seguinte iria trabalhar, e ficava inviável essa liberdade, até que alguém mudou minhas regras.

     Era plena terça, e lá estava eu, na Avenida Paulista esperando a mulher que tanto me intrigou. Apesar de ter ganhado alguns desencontros com ela, coisa que ocasionou discussões – eu era estressado ao extremo – havia de ter conseguido finalmente o nosso encontro, eu não me cansava dessa vida, sabia como fazer, e não tinha nada em que eu fizesse melhor do que apreciar uma linda mulher.

     Eu a esperava, seu nome era A.L., tinha as bochechas mais cheias que já vi. Era determinada, trabalhava muito, e naquele dia não tinha sido diferente, vinha de alguns dias sem dormir, mesmo assim quis se encontrar comigo e eu me senti intimidado com o convite, aceitei de primeira. Vou confessar, para mim seria apenas mais uma noite com mais uma mulher, mas algo me dizia que poderia ser diferente, mas quem disse que coloquei alguma fé? Passava por uma fase passageira, de pessoas descartáveis e não buscava fazer diferença alguma, apenas deixava acontecer, e elas vinham e iam embora, num fluxo constante, eu não as prendia, e elas não me queriam por mais de algumas poucas vezes. Eu cultivava dessa maneira nojenta de rodízio que faziam com suas carnes, só que como um bom carnívoro, não deixei de lado nenhuma oportunidade de me saciar, era incrível, eu estava sempre bem alimentado, por carnes de primeira.

     Enquanto a esperava encostado em uma máquina de refrigerantes, um casal se achegou numa pilastra bem na minha frente – tudo acontecia aos meus olhos, era incrível – ficaram parados um olhando para a cara do outro, usavam roupas sem cor, um tanto antigo, como nos filmes de Sherlock Homes, e ali ficaram, se olhando, eram magrelos demais, dois raquíticos. Poderia dizer que era um casal lindo e apaixonado, mas não sei nada da paixão dos outros e eles eram feios, da maneira que dói o olho quando vemos. Finalmente o vara pau juntou a sua dama ao seu corpo e a beijou.

     Até aí tudo bem, mas eles ficaram 5 minutos na mesma posição – sim, eu contei, tive que contar os segundos – o cara não manjava nada daquilo, e olhando os dois parados com as bocas se mexendo de forma esdrúxula eu fiquei incomodado, com vontade de parar aquele ato bizarro e dizer que estava tudo errado. A moça devia gostar ou pelo menos não tinha outra opção, coitada. Não sei o porquê, mas ele era magro demais e alto demais, e lento demais, e banana demais, e se vestia mal demais. Não deveriam caber muitas informações ali dentro da sua cabeça fina e magra, não aguentei, A.L. demorava muito, fui embora.

     Subi a escada rolante, na verdade fiquei parado enquanto ela me levava para a saída, e isso era a maior invenção do homem, mas digo da preguiça, todas as escadas poderiam quebrar, e assim o pessoal se lembraria dos degraus. Lá em cima estava escuro, a noite estava se achegando, e eu desci, de alguma maneira sabia que ela estava para chegar, e realmente chegou. Eu a cumprimentei com um beijo no rosto, e logo na boca, aliás, não estava ali para perder tempo. Segurei tua mão sem medo dela não gostar e seguimos nosso trajeto.

     Demorou bastante, A.L. tinha escolhido um bar distante, descemos toda a Augusta e dobramos a esquerda, num bar bem bacana, tinha um ar de bang bang, algo do gênero. Logo que sentamos em uma mesa ao canto, o garçom com toda a sua idade veio nos atender, ele falava gentilmente e tinha um linguajar culto, eu gostei bastante, não iria chamá-lo de primo – talvez de tio.

     Pedimos nossa cerveja, e se não me engano foi Stella Artrois, a noite estava quente, parecia paralisada, o ar era pesado, a luz baixa e nossas bocas próximas. Conversamos sobre meus livros, ela tinha um grande interesse em literatura e isso me surpreendeu. Outra coisa que me deixou impressionado foi que ela teve uma infância como a minha, junto a adultos e ouvindo músicas antigas e até bons autores ela conhecia, como o velho Buk, o melhor. Rimos e no final de cada risada um beijo. Era o verdadeiro jogo da sedução, e ambos gostavam do que estavam praticando, quem seria a vítima?

     A conversa era das melhores, falamos sobre jazz, blues, soul, literatura, rock, os melhores assuntos que poderia ter, tive com ela, e isso me deixou de olhos abertos e faminto, queria aquela carne, de alguma maneira eu havia de conseguir. Comecei a dar sinais do meu interesse em tê-la mais intimamente, e ela desviou o máximo que pode, não estava nos seus melhores dias, cansada, reclamando de tudo e de todos, se dedicava ao máximo para ser uma boa companhia para mim, e conseguia.

     Fiquei decido, esperei ela vir do banheiro e a beijei, mas beijei como se não houvesse o amanhã, esqueci que estávamos em público e toda aquela minha timidez que me transformava em um covarde e a tomei nos braços, o beijo fora longo, quente e cheio de ternura. Quando separamos nossos rostos ela suspirou rapidamente e tornou a me beijar, não queria mais separar nossos lábios e assim eu deixei, a situação conspirava ao meu favor.

     Bebemos pouco, apenas duas ou três garrafas e ganhamos a rua, logicamente que eu paguei tudo e ainda dei uma bela gorjeta ao gentil garçom, mas duvido que ele a tivesse inteira, os donos devem dividir todos aqueles trocados, filhos da mãe, entretanto nada estragaria minha noite. Seguimos pelo mesmo lugar de que viemos, e eu tentava ganhá-la, porém estava difícil de conseguir qualquer chance que fosse, infelizmente aquela noite não era minha.

     O caminho era longo e conversamos sobre tudo novamente, ela sabia dizer o que eu gostava de ouvir e eu fazia o mesmo, parei diversas vezes para beijá-la, sentia seu corpo roçando ao meu, e sua respiração cada vez mais ofegante, seria um desperdício irmos embora e dormimos sozinhos depois de descobrir tanta compatibilidade física. Continuamos caminhando lentamente, e passando por um edifício, em cima da porta dizia "ABERTO", eu fitei aquele letreiro e o corpo dela me puxou, entramos.

O Amor Usa Batom VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora