Este é um pequeno relato de como eu descobri que a busca da mulher ideal não existia ao certo, e que o importante seria estar no momento ideal para se encontrar alguém especial. E então minha vida mudou por completo, mas antes dessas coisas acontecerem eu passei por muitas paixões platônicas, uma delas fora quando estava no meu estágio no conselho regional de farmácia no começo de 2013... Era um trabalho puxado por mais que eu fosse apenas um funcionário do ensino médio. Cuidava de algumas planilhas dos advogados, e das entregas e encomendas de matérias para o escritório, só que o mais importante não estava relacionado ao meu serviço, e sim as mulheres daquele lugar. Era minha primeira experiência em um emprego com tantas bundas e cabelos longos. É claro que eu perdia a concentração diversas vezes e me sentia um pervertido por isso. Teve um certo dia em que nunca irei esquecer...
O dia foi corrido como todas as últimas sextas-feiras do mês. Com todos os processos transitando em julgado por cima da mesa junto com pastas de outros ofícios antigos - uma bagunça organizada, era assim como eu chamava o meu canto - para complementar mais a tão esperada sexta-feira, uma tempestade interminável era vista caindo sobre os prédios lá fora. A janela molhada dispersava minha concentração nas gotas derramadas diagonalmente sobre a parede do duplex a frente do nosso prédio, e não só a chuva mas Lilian não saia da minha cabeça, certa vez tinha me convidado para sair com seus primos, iamos para uma pizzaria perto da casa dela na zona norte, como eu achava ela a mulher mais bonita do CRF eu aceitei na hora. Infelizmente naquela época eu era visto como uma criança para os outros mais velhos, e isso de certa forma me beneficiava, por causa que ninguém enchergava a malícia no meu olhar, e eu já tinha muita. Nós fomos e comemos a bendita pizza, eu não tirava os olhos dela, aquele jeito alegre de ser e ao mesmo tempo com olhos tão tristes, eu daria tudo para abraça-la e dizer que poderia contar comigo. Lilian tinha saido a pouco tempo de um relacionamento conturbado que abalou suas estruturas emocionais, e me tinha como um amigo confidente, resumindo, eu estava na zona da amizade - friendzone - e era pessímo para quem queria algo a mais. Voltamos para a casa dela e ela me deixou no meio do caminho, na boca do metro, eu é claro, desci com vontade nenhuma de ir embora, queria ficar com ela, só mais um pouco, só por aquela noite.
Entrei cabisbaixo no mêtro e as estações foram ficando para trás, eu não conseguia aceitar que estava indo embora, e estava tarde demais, poderia ficar sem ter como chegar em casa. Pensei, pensei e relutante voltei atrás. Avisei Lilian que ficaria sem ônibus e ela me chamou para sua casa, era o que eu mais queria. Fomos e ela me colocou no sofá, e na frente um colchão, logo pensei que ela dormiria ali comigo e tudo estava ficando da maneira como eu queria. Só que infelizmente o homem desde sua meninice nasceu para sofrer, e por uma mulher logicamente. Ela pediu para que eu não dormisse tarde e foi para seu quarto, e naquele colchão maldito foi ocupado pelo seu irmão mais velho, infelizmente aquela não seria nossa noite, e nem nunca seria.
Voltando ao dia mais inesquecivel daquele estagio, eu tinha ouvido um barulho parecido com um sussurro de um fantasma, um sopro silenciado pela poluição sonora da avenida principal da cidade. "Olhe aonde eu cheguei!", em um escritório renomeado situado perto da Oscar Freire, um prestígio inimaginável, um orgulho nato para espalhar a quem estivesse ao redor me admirando, porém, sendo apenas um estagiário do ensino medio, que iria estudar Direito - ou advocacia como eu costumava errar - não poderia crescer tanto o meu nariz para não ter uma queda drástica.
A impressora soltou um grunhido parecido a um bip de desligamento, e realmente era, todos os dias aquele barulho se tornava minha esperança, o final do espediente e eu vivo para aguardar por mais um dia de trabalho interminavel junto aquelas mulheres tão bonitas, e junto a Lilian. Final de expediente, mas como ir embora naquela chuva caótica? Buzinas de carros e de motoqueiros que estavam correndo contra o tempo cortando o transito como fatias e tomando rajadas de água no rosto. O trânsito deveria ser estimado em mais de 5km - não sei ao certo - um estresse acumulado na semana inteira sendo liberado em questões de segundos por mínimos detalhes. Meu chefe, um japonês braço direito de um desembargador, com 28 anos e uma aparência impecavelmente jovem de cabelos lisos e negros repartidos ao meio em um topete caído sobre a testa, com olhos pequenos porem intrigantes, nariz fino e uma boca quase não vista de tão pequena. Mexia em seu e-mail pelo Iphone, enquanto solicitava seu helicóptero particular para fugir daquela tempestade que nos segurava.
Quase todos os advogados já estavam livres do escritório mas presos no trânsito úmido, e ainda era possível ouvir passos do outro lado do departamento jurídico. Um amplo andar dividido em três partes por divisórias provisoriamente sólidas, onde separava a ala administrativa, financeira e jurídica. Minha mesa no jurídico tinha a vista para o longo corredor estreito que passava pelo toilette. Uma copa minúscula que cabia apenas uma mesa dobravelmente prática que se juntava à parede num empurrão, um microondas recém-comprado com cheiro de novo e uma pia de mármore quase nunca usada embaixo de uma janela nunca aberta, e a porta que dava no elevador.
No setor administrativo a luz foi apagada "TEC" e o andar estava completamente sombrio, o brilho tênue do visor do meu celular serviu de auxílio como uma lanterna, precisava caminhar até a mesa no canto para registrar minha saída da sala de trabalho, em um livro imenso e de folhas já amareladas. Eu sempre era o último a deixar o andar, uma responsabilidade que me apeguei visando o futuro promissor que buscava.
Girei a maçaneta da porta de vidro de saída e vi de longe uma sombra de seus um metro e setenta de pura severa formosura. Aquele cheiro forte de Coffee feminino me arrepiava inteiro, e minha intimidação era nítida até no escuro. "Um dia Lilian poderia olhar para mim e me desejar, que sonho seria..." pensei em silêncio na mesma medida em que o odor estonteante penetrava minha narina alcançando minhas vontades mais ocultas. Por mais que meus pensamentos viajassem sem limites, as circunstâncias não eram agradáveis, e teria que esquecê-la ou torná-la apenas mais uma paixão no meu estágio no verão.
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O Amor Usa Batom Vermelho
RomansaEste é meu primeiro romance. Uma adaptação do livro “P.S. Amor”, onde acoplo os contos nele constituídos em uma cronologia lógica e atemporal ara dar sensação de tempo. Contando com o alto teor biográfico das cenas, o conteúdo passa a ter sua origin...