Capitulo 14 - Encarcando a chefe

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Já era Novembro e minhas crises de carência ainda existiam, e estava bem presente. Levantei no horário, olhei no calendário, "4 de novembro", vesti uma camisa xadrez, era como ir à festa junina, peguei minhas coisas e parti.

     No ônibus, as pessoas dormiam, fazia calor por aqueles tempos, mas fora um dia atípico, sem sol, com vento, perfeito para ficar na cama, ou no meu caso escrevendo e olhando o céu.

     Cheguei ao trabalho e ouvi música, escrevi um pouco sobre minha mais bela criação, o romance de paixões proibidas chamado "Carmelita". Era um drama inspirado na obra do consagrado russo Vladimir Nabokov. Estava me dedicando ao máximo no inicio desse livro, pois levava a fama de o contador de histórias sem fim, mas dessa vez mudaria, aliás, enquanto estou escrevendo esses relatos, estou deixando de escrever Carmelita. As músicas se repetiam, um cd de canções que falavam sobre amores não correspondidos, traições e mulheres, era exatamente aquilo que me tocava, as divinas mulheres, minhas dádivas.

     As pessoas que trabalhavam comigo eram esquisitas, partilhávamos da mesma mesa, mas ainda me tinham com indiferença, eu não dava importância para essas coisas, tirando o fato de que isso era nítido para qualquer um que visse.

     Mais ou menos à uma hora da tarde, eu sofria do meu infortúnio diário de querer escrever, mas ter de trabalhar, e mesmo assim a vontade não se exauria, eu precisava de alguma forma deixar transbordar todas aquelas palavras de dentro de mim, e vez ou outra fluía bem. Fui chamado no RH, onde eu auxiliava no serviço externo. Precisava ir à unidade da Paulista buscar alguma coisa, logo pensei na advogada, minha ideia era que almoçássemos juntos, ela era uma ótima companhia em qualquer momento. Liguei para ela e pedi para que me esperasse, a coitada já tinha saído de seu trabalho para almoçar, mas eu tive de fazê-la esperar e não foi pouco, mas a surpresa fora que ela me esperou sem reclamar, estávamos numa época que ninguém aceitava atrasos, e isso foi novidade para mim, gostei.

     Encontramo-nos, comemos e fui para a outra unidade. Sentia-me festeiro com a camisa xadrez. Subi até o sexto andar e me deram a entrega, a diferença era que desta vez não seriam documentos, cartas, dinheiro ou afins, mas sim milhares de centenas de sacos, com uniforme dentro, era nossa roupa de trabalho, pelo menos eu ainda não vestia aquela camisa Polo verde musgo. A tia da limpeza colocou todos eles dentro de um saco plástico, aqueles pretos de lixo e me deu. Era pesado e eu carreguei envergonhadamente até o trabalho. Notei que as pessoas não olhavam mais para mim, era como se eu estivesse diferente, e realmente estava pesando uns 50 kg a mais.

     Como pobre sofre mais que o diabo, algumas quadras antes de chegar, o saco me abre e as camisas em forma de cascata começam a cair na calcada, e como se já não bastasse, sem meu campo de visão por causa do saco preto, eu tropeço em uma delas, chutando as outras para o córrego, e lá se foram muitas delas e a raiva predominou na tarde.

     Deu meu horário e fui, tinha um encontro com uma morena do cabelo de toin toin, era novidade para mim. Conhecer mulheres com esse estilo, eu esperava que fosse gostar. Fui corrigindo meu esboço de Carmelita, a morena queria ler algo meu e não tinha nada melhor para mostrar do que a história que eu estava desenvolvendo no momento.

     De longe eu a avistei, vestia um suéter feminino azul, e seu cabelo era sua marca, não tinha como não notar, os inúmeros cachinhos que douravam em forma de buquê de flores eram estonteantemente incríveis. Aproximando-me, pensei em cumprimentá-la com um beijo, mas a timidez logo se fez presente. Demos um simples beijo no rosto, mas eu a abracei em seguida, cheirosa e bonita. Os toin toin roçaram no meu rosto e eu adorei, queria tocá-los, mas não estávamos no ambiente e nem momento adequado.

O Amor Usa Batom VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora