Por mais que as aulas estivessem começado, eu não tinha deixado de sair, mas estava me relacionando com uma garota da faculdade, então, deixei subentendido o texto a seguir.
Era uma manhã de sábado ensolarada. Ele descia os longos degraus da grande escadaria.
Devagar, apreciando o calor do sol matutino de inverno, que o esquentava de uma noite anterior gélida. Colocou a mão no bolso e remexeu no que tinha dentro. Todo sábado era do mesmo jeito, voltava com seu RG amassado, algumas moedas que sobraram do pagamento, seu chaveiro composto por algumas chaves que nem lembrava de que portas seriam, celular sem bateria, e uma caderneta preta pequena para tomar anotações, as quais nunca foram feitas, mas ele impressionava as mulheres com suas poesias "ralés" feitas às pressas antes de sair de casa para cair na noite - ele sempre dava conta de que trouxera a caderneta, mas nunca um lápis ou caneta - ele mesmo não entendia muito de seus atos. Enquanto descia, pulando de dois em dois, com uma destreza inconfundível, velha escadaria, quantas vezes ele já não fez esse percurso? Voltava sempre entre as 8 e 9 horas para casa, mas sem um motivo coerente, pois era apenas chegar que sairia novamente.
Chegou ao portão de ferro recém pintado, o barulho da construção no seu quintal já estava atormentando os vizinhos. Ele olhou para cima, estava caindo massa corrida no seu ombro - sua blusa de lã azul escura da "Villa Romana" estava suja agora, não se irritou - limpou com a ponta dos dedos jogando para o chão e continuou a abrir o portão com a outra mão. Queria seu sofá para descansar, mesmo tendo bebido muito na noite passada, não estava com ressaca ou algum tipo de dor no corpo ou de cabeça, mas a fadiga estava lhe transbordando.
Subiu mais dois lances de escadas - quantas escadas, Jesus! - pegou novamente o chaveiro do bolso, mas a chave da sua casa não estava ali, o súbito desespero repentino o atacou, mas em segundos tornara a lembrar de que ela estava solta no bolso de trás, pois assim era mais prático de abrir a porta. Pegou na maçaneta desgastada com ferrugem transparecendo no refletir do sol, puxou para o peito e girou a chave sentido no anti-horário e empurrou com satisfação. Tateou a fechadura oposta e viu que estava sem chave - quando tem outra chave na porta é porque sua mãe está em casa - ele estava sozinho, e era tudo o que precisava: o silêncio e o sofá, porém a obra não iria lhe ajudar.
Aproximou-se do sofá e deixou o corpo cair com um peso duplicado, rolou a cabeça para cima, suspirou - "mais um sábado" - tentou lembrar-se de como a noite ocorreu e os flashes lhe chegaram à mente.
Uma cerveja em cima da outra, bebericando sem parar - o objetivo era ficar alegre sem demora - mais outra lata e um gole demorado, de gelado para quente, escorrendo pela garganta, soluços com cheiro de embriaguez recente, a vista começando a ficar embaçada, duplicada, alegre.
Era jogo do Brasil, os primos estavam todos reunidos na maratona da cerveja. Sua pressa não estava o deixando curtir os momentos únicos daquela partida emocionante, quartas de final, a seleção estava a alguns passos da final da copa do mundo, e ele na sexta lata.
Seu tom de voz já estava alterando sem ele perceber e esse era um dos primeiros indícios de que estava ficando bêbado - ele sempre percebia isso quando parava para pensar antes de falar e notava que não seria possível caso a conversa fosse muito extensa ou complexa - mas ele nunca confessava que estava bêbado. Seu discurso de que seu organismo era forte já estava ultrapassado. Derrubou um pouco de cerveja na hora do gol, e isso ocorreu por duas vezes. O jogo acabou nos 2 a 1, e a vitória foi nacionalmente comemorada. Todos estavam em ritmo de festa.
Pé na estrada, a baixinha com o dobro da sua idade lhe esperava anelante, e, ele não iria a fazer se arrepender pelo seu atraso. Não havia trânsito, até mesmo porque todos estavam dentro de suas casas curtindo a vitória do Brasil em um churrasco em família, eram poucos que tinham a coragem de sair naquela bagunça.
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O Amor Usa Batom Vermelho
RomansaEste é meu primeiro romance. Uma adaptação do livro “P.S. Amor”, onde acoplo os contos nele constituídos em uma cronologia lógica e atemporal ara dar sensação de tempo. Contando com o alto teor biográfico das cenas, o conteúdo passa a ter sua origin...