segunda-feira

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O clima estava tão feio que o cinza do céu parecia se tornar quase preto.
A névoa constante tentava cobrir aquele ambiente com poucas pessoas; aquelas que não continham nem um pouco do seu pranto contínuo e desesperado.

Minji estava novamente no seu cenário tão repetido.
Mas daquela vez, ela se lembrava de tudo.
Estava lúcida.

Encarou as próprias mãos por um tempo e olhou para o lado, onde encontrou a sua mãe, chorando também. Tentava ao máximo se manter forte, mas fraquejava sempre que abria os olhos e encarava o caixão aberto.
Estranhamente, tinha o mesmo tamanho que sua mãe.

– O sonho está diferente?

– Ei, eu 'tô aqui com você. Uma voz se aproximou, e logo, ela se virou quando uma mão pousou em seu ombro.

– Yunho!? O que você tá fazendo no-

Ele a interrompeu.
Mas não parou para respondê-la, e sim, apontar para o caixão, com um pequeno sorriso no rosto.

– Você vai ficar bem.

Foram as últimas palavras que escutou dele, antes de se aproximar.

O caixão estava vazio.

– O velório não é do meu irmão?
– Cadê ele?

E de repente, um estrondo vindo do céu anuncia a chegada de uma forte tempestade.
A chuva caia fria sobre os seus ombros, mas quando parou para prestar atenção no que pousava ao chão, se surpreendeu.

– Dentes!?

Sua confusão aumentou ainda mais, quando se aproximou e pegou em um, para conferir.

Mas que diabos!? Só poderia ser coisa de louco.

Uma chuva de dentes? O que isso significava?

Quando se virou para encontrar Yunho, sentiu um incômodo forte em sua boca e por impulso, tentou cuspir o que estava lhe importunando.

O forte gosto de ferro que sentia entregava o que tinha acabado de acontecer, por mais insano que fosse.
Minji tinha acabado de cuspir um de seus dentes.
























Segunda feira.

Nunca desejaria tanto que o despertador tocasse, ainda mais por ser "aquele dia".
Porém, tentou se convencer que a vida real estava bem melhor do que o sonho maluco que tinha acabado de ter.
Bem melhor.

Minji parecia ter voltado à estaca zero.
Seu choque estava a fazendo se movimentar de forma involuntária. A rotina inteira foi feita em questão de segundos, parecia até um salto no tempo quando voltou à realidade e estava entregando a primeira colherada de mingau para sua mãe.

– Mãe... – Respirou fundo, ao encarar o olhar vazio. – É hoje.

A Kwon, por incrível que pareça, não queria chorar.
Apenas sentia uma sensação estranha dentro de si.
Sabia disso, pelo nó que se formava em sua garganta; era claramente uma vontade indescritível de gritar pela frustração de viver presa a um laço infinito, pelo resto de sua vida.
Por causa de seu irmão.
E de sua mãe doente.








Ao chegar na escola, a moça desviou de toda a atenção, entrando pelo estacionamento.
Ela detestava admitir, mas odiava aquele dia.
Odiava aquela data.
Sabia que o dia seria o pior do ano.
Ou esperava que fosse.
Estava tão otimista nos últimos dias, mas aquele não tinha dúvidas.

REMINISCÊNCIA - Jeong YunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora