epílogo.

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Como é o sentimento de enxergar apenas a escuridão?
Por anos.
Você se lembraria de algo?
Presumo que não.
Afinal, qual seria a graça de não enxergar nada?
Apenas escutar vozes lhe cercando o tempo inteiro.




Espere.

Cercada por olhares?
Isso só pode ser loucura.
O que você via?
Você sentia algo?










Lembra de algo?









Oh, sim!
Como era o nome...























– YUNHO!

A visão turva ainda se acostumava com o ambiente tão esbranquiçado, ainda mais pelas luzes brilhantes que descansavam praticamente por cima de sua cabeça.
Os olhos semi-cerrados procuravam tentar decifrar algo por aquele cômodo relativamente grande.
Observou seu corpo apoiado sobre as mãos, ainda tenso e fraco, por ter se levantado em tanta surpresa e finalmente percebeu que estava sobre uma maca.

– Estou no hospital?
– Como assim?
– Por que?


Muitas perguntas surgiam repentinamente, enquanto continuava o caminho dos fios interligados em seus braços e finalmente até o sofá ao seu lado.

Repleto de presentes, balões, pelúcias.

Por fim, ao lado daqueles, existia uma figura estática – exatamente com a mesma expressão que ela – com os lábios trêmulos e apoiada sobre o sofá. Minji arregalou os olhos, descrente.
Provavelmente ele tinha acabado de tirar uma soneca, isso entregavam seus olhos pequenos e a postura ainda desajeitada.

– O que há? Parece que ele acabou de ver um fantasma.

– M-Minji!?

– Jongho!

– VOCÊ ACORDOU, MEU DEUS. – O ruivo cambaleou para levantar e correr até a porta. – DOUTOR!

– Fala baixo, menino. – Minji abanou as mãos e tentou repreende-lo. – Eu só desmaiei no baile, não precisa disso! Parece que fiquei assim por uma eternidade.

– Baile? – Ele parou com o alarde assim que ouviu, e engoliu em seco ao escutar sua última sentença. – Minji eu...

– Oh, isso realmente é um milagre. – Uma terceira presença interrompe a frase de Choi, ao entrar pela sala com uma prancheta em mãos. – Finalmente você não está me chamando para avaliar um simples murmúrio, rapaz.

– Milagre?... – Confusa, ela foi impedida de retirar o aparelho que a auxiliava respirar e forçada à se deitar novamente.

– Você está muito afobada senhorita Kwon. – O doutor se preparou para fazer o check up. – Não é todo dia que uma pessoa acorda de um coma de dez anos.

– C-como?

Seu olhar correu para Jongho, que não sabia como se portar diante daquela revelação. Estava feliz, porém, não sabia como a garota iria reagir.

– Não, isso é impossível! – Forçou o seu corpo para levantar e com sucesso, tentou fugir dos toques do profissional. – Isso é loucura! Vocês estão me enganando!

– Minji, você precisa se acalmar. – Jongho se aproximou para pegar em sua mão, mas ela recuou.

– Nos ajude, para podermos te ajudar, hm?


O peito da menina subia e descia de forma descompassada.
Como era possível ser verdade?
E tudo aquilo que viveu?
Não era real?
Isso era mais um sonho?
Estava presa à um sonho infinito?
E por que Jongho estava ali?
Tinha muitas perguntas.



Ela piscou algumas vezes, antes de relaxar novamente o seu corpo sobre a maca e finalmente ceder ao doutor.
Foi mais fácil do que ele pensava, mas talvez existisse um motivo para aquilo.

– Você quer começar falando? Ou posso fazer as perguntas?

Kwon apenas negou com a cabeça, repentinas vezes.

– Tudo bem. – Pigarreou, antes de iniciar. – Quero que saiba que você tem a escolha de não saber o que aconteceu antes disso, e que muitas vezes, seu estado pode piorar, dependendo de sua reação.

– Eu...quero saber. – Desviou seu olhar para baixo, enquanto sua pressão era verificada. – Eu preciso saber. O que aconteceu de verdade, depois que meu irmão morreu?



Minji era muito nova quando a tragédia aconteceu; e de fato, não esqueceria tão cedo, mas não sabia que as consequências seriam tão grandes em sua vida.
Todo luto tem seu tempo — as vezes indeterminado — e é importante saber reconhecer e identificar todas as suas fases.
A mente tão jovem de Kwon entrou em turbilhão, a partir do momento que presenciou duas tragédias em sua vida. O resultado desses acontecimentos tão próximos foi um bloqueio mental instaurado em sua psique, onde sua mente e corpo entraram em total estado de abalo, comoção, choque; e desde então, residiu num hospital, em observação, não só por dias, meses, mas por anos.

Por dez anos, Minji dormia em um sono profundo, onde em um ponto, não haviam mais esperanças que acordasse; por mais que sua frequência cardíaca estivesse neutralizada.
Isso até alguns dias atrás.
Quando seu coração ameaçou parar e ali, sua vida corria risco.





Uma risada baixa cortou o ambiente sério e silencioso instaurado pelo médico, assim que a explicação tinha — em partes — terminado.
Aquilo com certeza era uma mentira.

REMINISCÊNCIA - Jeong YunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora