3. Antônio

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Eu demorei muito a pegar no sono, e no dia seguinte eu queria muito que um buraco se abrisse e me engolisse ou que alguma força simplesmente me abdusisse. Eu não queria enfrentar a Amanda, eu não queria enfrentar a mexicana, eu não queria ter que ouvir os risos ou as insinuações de ninguém. Fiquei deitado até o meio da tarde, e quando já não dava mais, resolvi me levantar e encarar o que viesse pela frente.

A Amanda parecia realmente tranquila com o que aconteceu, como se não tivesse a afetado em nada. Me chateou de certa forma perceber que pra ela tudo o que tínhamos vivido ali era apenas amizade, então decidi seguir e encarar por esse lado também.

Eu sabia que ela estava me dando o espaço pra ficar mais perto da mexicana, mas mesmo assim eu busquei por ela em vários momentos do dia, mesmo quando ela parecia apenas querer ficar só.

Na cozinha o Fred me perguntou se eu poderia fazer a prova do líder junto com ele, e eu lhe disse que conversaria com a Amanda antes.

Enquanto ela estava escovando os dentes, eu cheguei despretensioso e me juntei a ela, tocando no assunto.

- O Fredinho pediu pra fazer a prova comigo, se for em dupla. - comentei

- E eu, fico sem dupla? - ela falou

- Pensei que você pudesse fazer com a Mami, mas aí ela não vai fazer né?!

- Ele poderia fazer com o Guimê, já que não temos tanta afinidade.

- É que eu gosto muito dele, mas pode ser, vou falar com ele.

Na hora eu já sabia que eu tinha pisado na bola, em qualquer outro dia eu nem teria cogitado a possibilidade. Teria respondido na mesma hora pro Fred que não, que a Amanda seria minha dupla. Eu percebi no rosto dela o quanto aquilo a magoou, mas ela não deixaria transparecer, jamais.

- Mas de coração, você pode fazer a prova com ele se quiser, eu tô tranquila. - ela falou

- Não, eu sempre vou querer fazer com você, sempre.

Depois disso, a distância que já estava grande ficou ainda maior, ela passou a tarde dormindo e eu já sabia que tinha algo errado. Quando eu entrei no quarto pra deitar e a vi na outra cama, eu tive a confirmação que o que ela sentia era o mesmo que eu, e que eu havia pisado na bola com a única pessoa que foi fiel a mim ali dentro.

Eu tentei me aproximar e brincar mais, a abracei várias vezes e só queria sentir o toque dela em mim, mas era tudo muito diferente de antes.

Pouco depois o sinal avisando do evento em instantes trocou e todos nos levantamos pra nos arrumar. Fomos para a sala e logo em seguida o Tadeu entrou.

A notícia caiu como uma bomba no meu colo e meu corpo mal conseguia responder aos meus comandos, eu não sabia o que falar, o que fazer ou como agir. Eu só queria me desculpar por não ter percebido que estava passando dos limites. Eu só queria que fosse mentira e que eu acordasse daquele pesadelo.

Foi tudo muito rápido, numa fração de segundos eu estava me despedindo e me desculpando de todos. Quando cheguei perto dela e a abracei, eu não sabia qual coração estava mais desenfreado, eu pude sentir seu coração pulsando na minha pele, eu sentia muito por tê-la decepcionado, eu me sentia envergonhado e sem saber o que fazer.

- Te amo Amandinha. - falei pra ela, então me despedi e entrei no confessionário.

A partir dali o mundo desabou na minha cabeça, num segundo eu estava com a produção, no outro com a psicóloga, no outro com os diretores, até o que o Dindinho chegou. A minha cabeça estava em um looping e eu não conseguia processar nada do que me falavam.

Depois que conversamos com a produção e vimos os vídeos, o Dindinho conversou muito comigo e aí comecei a perceber o meu erro. Eu havia errado e precisava me desculpar.

Já amanhecendo partimos para a casa do Dindinho, meu celular estava uma loucura, e o Dindinho me impediu de chegar perto antes de esfriar a cabeça. Eu fui medicado e dormi mais de doze horas seguidas, no dia seguinte eu só chorava e me culpava por tudo. A sexta-feira foi um verdadeiro terror.

No sábado, já mais calmo comecei a me atualizar sobre tudo, eu precisava me desculpar, mas a minha cabeça ainda continuava a mil, eram solicitações de entrevistas, matérias me acusando, hate atrás de hate e todo mundo lotando minhas redes de mensagens. No final da tarde postei meu pronunciamento. E graças a Deus fui mais acolhido do que esperava.

Dindinho não me deixou voltar pra casa, disse que dali em diante resolveriamos as coisas juntos. O que eu agradeci imensamente já que eu não tinha cabeça pra nada.

Falei com a minha mãe, que me deu a maior bronca de toda a minha vida e me atualizou sobre tudo que estava acontecendo. Liguei pra mãe da Amanda, pois queria pedir infinitas desculpas, já que eu achava que a minha conduta poderia prejudicar o jogo dela. O que eu encontrei na ligação com a dona Regiane foi todo acolhimento que sempre encontrei na Amanda, e ali eu percebi de onde veio o coração tão grato e amoroso da minha Amandinha.

Já no sábado a noite comecei a abrir as redes e descobrir algumas coisas sobre a nossa trajetória lá dentro, o tamanho do nosso fandom era imaginável e o carinho e apoio que eu recebi foi essencial.
Eu já imaginava que existiriam um ship meu com a Amanda, mas a proporção era surreal, através dos vídeos eu puder reafirmar que tudo que eu estava sentindo lá dentro era real.

Rolando a timeline me deparei com alguns vídeos da Amanda chorando e aquilo me partiu em mil pedaços. Perceber o quanto eu a machuquei me deixava impotente e ansioso. Ela colocando a tag dela na minha mala, ela pegando a minha camisa, ela chorando ou me defendendo, e o que eu não vou esquecer nem em mil vidas, ela cantando a música enquanto lembrava de mim, "só se tem saudade do que é bom, se chorei de saudade não foi por fraqueza, foi por que eu amei". Aquilo ficaria no meu coração e na minha memória para sempre.

Dindinho segurou muito mais a barra do que eu depois disso. Eu estava apenas em corpo presente, por que minha na mente eu só queria sumir do mapa.

Os dias foram passando e conversar e me atualizar sobre tudo só reafirmou e reacendeu tudo que eu estava sentindo. Meu amigos afirmavam que ela era a mulher da minha vida, que eu tinha feito burrada, que eu precisava reconquistá-la. Minha mãe era a maior caprichete da face da terra e falava da Amanda em qualquer oportunidade que ela conseguia.

Pros meus sobrinhos ela já era a tia, pros meus amigos ela já era minha, mas pra mim, eu era apenas o cara que havia pisado na bola com a mulher mais incrível que eu já havia conhecido.

No dia vinte e dois eu iria prestar esclarecimentos no inquérito, mas a minha maior tristeza, foi acordar sabendo que era o aniversário dela e eu não estaria ao seu lado para fazer tudo que ela merecia. Eu me condenei o dia inteiro e, pedi pra equipe montar um vídeo pra que eu postasse os parabéns pra ela nas minhas redes no final do dia.

O depoimento foi rápido e esclarecedor, a vítima não havia se sentido importunada em nenhum momento e os advogados acreditavam que o inquérito seria arquivado. Mas de qualquer forma eu sabia que precisava pagar pelo meu erro.

Mais tarde, já a noite, quando eu recebi o vídeo, eu só pensava no que aconteceria se eu não tivesse errado tanto aquela noite, eu pensei tanto nela. Aqueles momentos, aquela música, tudo representava o que eu sentia por ela e fui covarde em não ter falado. Eu escutei aquela música mil vezes no aplicativo e todos os sentimentos vieram à tona.

Hora de postar, passei vários minutos digitando e chorando, eu estava escrevendo pra ELA, eu queria que quando ela saísse da casa ela lesse e pudesse entender tudo que eu nunca tive coragem de verbalizar. Eu não tive medo de cancelamento, de julgamentos e de nada ao postar o texto, eu sabia que receberia críticas mas eu só queria que ela soubesse que o que eu sentia era real.

Docshoe - AfterOnde histórias criam vida. Descubra agora