17. Amanda

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Estávamos todos na casa do Dindinho para passar o Natal. O Antônio não conseguiu vir como havia avisado. Todo mundo percebeu como eu estava me fazendo de durona. Eu estava abraçada e chorando conversando com minha sogra quando a Maricota apareceu com o celular nas mãos em uma chamada de vídeo com ele. Enxuguei as lágrimas rapidamente e fiquei no cantinho sem querer aparecer e apenas ouvindo o que todos conversavam animadamente.

Em um determinado momento ele perguntou por mim e pela Oli, e o Dindinho que estava segurando ela logo foi pra frente pra ela conversar com o papai. Eu apenas acenei e continuei no canto. Depois de um tempo a chamada foi encerrada e meu coração estava aos pedaços. A Oli mal o reconhecia, ela teve muito mais contato com o Dindinho do que com o próprio pai no último ano inteiro.

Depois da ceia, fomos para casa, dona Wilma e meus pais dormiriam lá em casa comigo. Todo mundo percebia o clima, mas ninguém comentava sobre nada, a não ser que eu tocasse no assunto.

A Oli estava tão linda. Ela era uma misturinha perfeita de nós dois. Ela era pequenininha pra uma criança de três anos e meio, tinha os olhos e os cabelos pretos como os dele e, a pele bem branquinha como a minha. Ela estava tão esperta, já falava tudo, andava e corria a casa inteira. A minha mãe foi colocá-la para dormir junto com o meu pai e eu sentei na sala pra conversar com a minha sogra.

- Vamos, o que está acontecendo meu amor? Eu não sou sua mãe, mas o meu coração de mãe sabe que alguma coisa muito errada está acontecendo. - falou.

Contei tudo pra ela, sobre como foram os três últimos anos nos Estados Unidos, sobre ele ter esquecido as datas comemorativas, o aniversário da Oli. Contei sobre a ausência em casa, sobre ele passar dias sem mandar uma mensagem sequer e como aquilo magoava meu coração.

- O Júnior só pode estar ficando louco, é a única explicação. Eu não acredito que ele te fez passar por isso meu amor. - ela falou.

- Dona Wilma, eu amo seu filho, mas eu acho que no momento a melhor coisa que eu posso fazer por mim e pela Oli, é seguir o meu caminho sem ele. Eu não queria ser covarde e terminar com ele por ligação ou mensagem, mas eu tentei muito no último ano, muito mesmo. Eu estou no meu limite. - desabafei.

- Minha filha, eu amo o Júnior, mas eu também amo você e a Oli, se essa é sua decisão eu vou aceitar. Mas quero que saiba que continuarei presente em cada momento da sua vida e da minha neta. Por que eu amo muito vocês. - e me abraçou.

Eu fui deitar e quando olhei meu celular tinham 3 chamadas perdidas e uma mensagem dele. A mensagem dizia " por que não quis falar comigo por vídeo chamada pequena?".

Resolvi não responder, não era o momento para isso. Os dias se passaram e viajei para Curitiba para passar o ano novo com minhas amigas e a Oli. Ele não veio, mas eu nem esperava mais. O ano novo foi perfeito na medida do possível. Fiquei em Curitiba por mais duas semanas após o ano novo e estava verdadeiramente feliz por estar ali com as minhas amigas loucas. Dia dezessete retornei pra casa e resolvi matricular a Oli em uma creche meio período, eu achava importante ela ter novos amigos já que nossa vida se resumia a apenas nós duas ultimamente. Eu resolveria isso nas próximas semanas.

Nos falamos pouco no último mês, ele não tinha tempo nem pra responder as mensagens, então eu aceitei que eu melhor caminho era nem enviar pra não ter que ficar na expectativa de aguardar uma resposta.

Em fevereiro num domingo enquanto estava na casa do Dindinho almoçando e brincando com as crianças ele me ligou.

- Oi meu amor, quando você volta?- ele perguntou.

- Oi Antônio, podemos conversar sobre isso depois?, estou com as crianças agora na casa do Dindinho. - falei.

- Mas você volta né? - ele perguntou e percebi que a voz dele já estava alterada.

- Falamos sobre isso depois. - falei, e já coloquei a Oli e as crianças pra falarem com ele, enquanto me levantei e fui pra cozinha.

Mais tarde quando eu já estava em casa, com a Oli dormindo e deitada perdida nos meus pensamentos ele me ligou novamente.

- Oi meu amor. - ele falou quando eu atendi.

- Oi, como você está? - perguntei.

- Estou cansado, está uma loucura. Passei por vinte e duas cidades nos últimos vinte dias. - falou.

- Que legal. - comentei.

- Quando é seu voô de volta?. - perguntou.

- Eu não vou mais voltar Antônio, decidi ficar no Brasil, de vez. - falei.

- Por que? Por que você não me falou isso quando estava aqui? Você está terminando comigo?. - falou.

- Tudo que eu mais tentei foi falar com você no último ano inteiro, mas você nunca podia, ou nunca estava em casa, ou nunca podia responder ao menos uma mensagem. Você não apareceu no meu aniversário, no nosso aniversário de namoro e acima de tudo, você não apareceu no aniversário da sua filha. - falei já chorando.

- Pequena, vamos resolver isso, eu posso alterar minha agenda, passar mais tempo com vocês. Não vamos terminar assim. Eu te amo muito. - falou.

- Eu não queria terminar assim, e eu juro que eu tentei muito terminar frente a frente, mas nem pro Natal você pode aparecer. A Oli está crescendo sem você, aprendendo a falar, a andar, a descobrir tudo sem o pai por perto. Ela teve mais contato com o Dindinho em dois meses do que ela teve com você em um ano Antônio. Eu não vou ficar nos Estados Unidos abrindo mão da minha vida e vendo minha filha crescer longe da família, enquanto o pai dela não aparece nem ora desejar um feliz aniversário. - falei.

- Me desculpa, eu juro que eu vou mudar. Eu vou remarcar tudo aqui e e em poucas semanas consigo estar no Brasil. - falou.

- Eu não quero que você venha Antônio, eu quero ficar só e curtir a minha filha, e ah, antes que eu me esqueça, eu vou matricular ela na creche e na natação, eu acho que ela merece fazer amiguinhos. - falei.

- Então é isso, você vai desistir da gente?. - ele falou.

- Antônio, eu não desisti de ninguém, tudo que eu fiz foi lutar pela gente nos últimos três anos. Eu posso contar nos dedos da mão quantas vezes nos tocamos nesses três anos, eu posso contar nos dedos da mão quantos eu te amo eu ouvi nesse tempo, ou quantas vezes eu e a Oli te esperamos pra fazer um simples programa de família. A Oli chamou o Dindinho hoje de pai, você tem ideia do quão grave é isso? - desabei.

- Me perdoa pequena, por favor, eu vou fazer tudo diferente. Só me dá mais uma chance. - implorou.

- Eu não sei Antônio, eu quero um tempo, e eu não vou mais voltar pra Miami. Eu vou passar uns dias na casa dos meus pais na Bahia e depois alguns dias com sua mãe no Nordeste. Depois disso quem sabe podemos conversar. No momento eu não consigo. Fica com Deus, e sempre que você quiser falar com sua filha você pode ligar ou mandar mensagem, saiba que ela pergunta pelo papai todos os dias. - e desliguei.

Docshoe - AfterOnde histórias criam vida. Descubra agora