VI -- Meu primeiro suposto namorado

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 Depois de contar aos meus pais, fomos até a delegacia e tive que relatar tudo a delegada. Fiz exame de corpo de delito, que confirmou a acusação de estupro. Max foi chamada a comparecer na delegacia e seu DNA bateu com o dos arranhões, da saliva e do esperma que coletaram do meu corpo. indícios do ocorrido.

 A polícia mandou um recado pra escola e Max foi expulso. Fiquei muito aliviado quando soube. Um dos ex-amigos do meu estuprador me disse o quanto seus pais o castigaram e ficaram furiosos ao saber que o filho deles estuprou alguém. Já era ruim quando era só assédio.

 Quando eu voltei a frequentar a colégio, descobri os boatos. Muita gente me perguntou o que realmente rolou, mas não contei a mais ninguém, com exceção de Leo. Will foi suspenso por espancar o maldito do Max, mas não recebeu outras punições depois que a verdade foi esclarecida.

 O sr. D. parecia triste.


一 Tão jovem para um problema tão grande. 一 Murmurou ele outro dia. 一 Um fardo pesado demais.


 Fingi não entender e saí dali.

 Meus pais queriam me levar a um psicólogo porque eu poderia ainda estar perturbado. Porra, estupro! Contudo, recusei. Eu não queria dar trabalho, então fiquei quieto e foquei nos meus estudos, como um bom filho faria. Eu só queria que isso fosse esquecido o quanto antes melhor.

 Só que, aparentemente, os alunos tinham outros planos em relação a isso. Lembra dos boatos? Todo mundo dizia que eu tava namorando com Andrew. Todo mundo mesmo! E não foi só uma vez que falaram sobre. Sabe quando você shippa duas pessoas da sua sala e não é só você, é a turma toda? Pois bem...

 No começo, fingi que não entendi do que se tratava ou com quem era. Depois comecei a rir. Se eu ganhasse um real a cada vez que eu risse, teria feito um bilhão fácil, fácil. Quando eu já estava pagando papel de Coringa, passei a negar. Negava tudo sobre esse suposto namoro. Por fim, ignorei tudo e todos, seguindo a minha vida.

 Eu passava todo o meu tempo escolar com Will. Se Leo estivesse perto, o loiro também estava. Ele simplesmente não queria me deixar sozinha depois do estupro. Acho que o fato de estarmos sempre juntos, na nossa bolha pessoal, deu essa ideia de uma relação mais profunda. Pensando bem, foi fácil deduzir que namorávamos.

 Solace não parecia ter problemas em lidar com a fofoca. Fingia não ouvir tão bem que eu me questionava se ele tinha escutado. Quando supostamente ouvia, dava de ombros e ignorava. Andrew é teimoso feito uma mula, portanto convencê-lo é uma tarefa árdua.

 De qualquer forma, estava tudo indo bem. Meu pai parecia preocupado, mas é normal. Minha mãe estava feliz por eu estar melhor. Minha irmã me olhava com tristeza as vezes, como se eu fosse desaparecer ou cometer suicídio. Ignorei-os. Eu não precisava me importar com o que eles pensavam.

 Jason, entendendo como me sentia, me tratou com normalidade. Reyna também. As vezes, eu ligava pra ela e conversávamos até as duas da manhã. William e eu não poderíamos ficar mais próximos do que já estávamos sem ultrapassar os limites da amizade. A companhia dele me lembra que o mundo não é tão ruim e que ainda havia uma chance.

 Leo, um dia, me contou que Frank o pediu em namoro. Fiquei feliz quando ele contou que aceitou. Valdez merecia alguém legal, já que também é uma boa pessoa e nunca fez mal a ninguém, nem a uma formiga. Nyssa ficou sabendo, mas concordou em guardar segredo dos outros sobre isso.

 Nessa ocasião, pensei em minha queda por Will e que ainda sentia um aperto no peito toda vez que ele abria um sorriso pra mim. Era uma sensação boa, entretanto me preocupava o por quê de não ter passado. Crushes são coisas de momento, certo? Contei a Reyna sobre isso e ela falou que o crush virou um gostar. Eu estava gostando de Andrew.

 Beleza... Super legal. Como reagir a algo assim? Duas palavras: Puta. Merda.

 Eu só conseguia pensar que estava frito. O loiro é o meu melhor amigo. Sem chance de eu começar a gostar dele. Sem essa. De jeito nenhum. Impossível. Apenas melhores amigos. A-MI-GOS. Mas que merda, pensei comigo mesmo. O que eu vou fazer?

 Depois de muito me martirizar, decidi que ia brincar de faz de conta. Faria de conta que eu nunca tive um crush em Will, então não evoluiria para gostar. Simples, fácil e descomplicado. Imaturo também, mas isso não importava. Mal sabia eu que o universo estava disposto a tudo para me unir ao meu suposto namorado.



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 Meus colegas de classe viviam dando desculpas e armando ocasiões para que parecêssemos um casal. Dentre uma dessas situações, eu estava explicando a matéria para Andrew porque ele faltou no dia que a professora passou assunto novo quando uma aluna de 6oA deu um empurrãozinho com o quadril no loiro, o colando ainda mais em mim.


一 Quando é que vai rolar um beijinho? 一 Debochou ela, sorrindo.


 O rosto de Solace estava muito perto do meu, mas eu apenas dei um passo pro lado e continuei explicando a matéria de geografia.

 Em outra, caí e quebrei o pé. O loiro me ajudou em basicamente tudo. Claro que não iam nos deixar em paz. Teve gente que quebrou o meu gesso e meu pé demorou muito mais para sarar. Reyna e, principalmente, William estavam de saco cheio de tudo aquilo, ms eu suportava.


一 Ai! 一 Gritei quando derrubaram uma das vigas de sustentação da rede de vólei no meu pé enfaixado. 一 Por que fez isso? 


 Um dos garotos riu enquanto Frank me sentava em um dos bancos da arquibancada. Bia faltou dar um soco em alguém. Andrew se virou para os garotos, possesso.


一 Ficou louco? Ele deve ter fraturado ainda mais.


 Nenhum dos outros meninos esboçou outra reação que não fosse escárnio. Seus sorrisos eram cruéis como o de uma pessoa que eu não queria lembrar. Minha irmã foi chamar a enfermeira, trincando os dentes de raiva. Achei que fosse desmaiar de tanta dor, entretanto não ocorreu.


一 Will... 一 Chamei-o.


 O cara que riu de mim me indicou com o queixo.


一 Vai lá socorrer seu namoradinho. 一 Disse, desdenhoso.


 Solace fingiu que ia bater nele e, quando o cara caiu por recuar tão rápido, cuspiu nele. Murmurou palavras de ódio e veio me ajudar. Ele passou o braço por baixo dos meus ombros, a mão livre entrelaçada na minha. Ele falava baixinho comigo, encorajando a andar até a enfermaria.

 Meu concentrei em sua voz, seu tom doce e em como ele fazia tudo doer menos. Eu me sentia infinitamente melhor com ele por perto. Frank tentou se aproximar para ajudá-lo a me sustentar, mas William rosnou para que mantivesse uma distância segura ou lhe arrebentaria os dentes.

 Cambaleei e meu amigo soltou minha mão para passar o outro braço por debaixo do meu joelho, me carregando. Deitei a cabeça em sua clavícula, murmurando que não era de vidro. Ele retrucou com alguma coisa, mas não ouvi.

 Surgiram pontos na minha visão, então fechei os olhos para afastá-los. Em algum momento, devo ter dormido pelo conforto e desmaiado de dor, o que for mais provável. Não lembro de muita coisa, apenas do carro do dr. Solace e os cachos dourados dele enquanto me atendia.

 Em meu peito, uma sensação agradável que me deixa uma dúvida: Se foi real ou sonho.


Primeiras & Únicas Vezes (Solangelo)Onde histórias criam vida. Descubra agora