XI -- Minha primeira festa

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 Levou três dias para que eu criasse coragem de pedir para o meu pai permissão para ir a uma festa. Essas coisas não fazem o meu estilo, mas, por eu ser bem retraído e aparentemente precisar ver gente nova, Hades deixou com a condição de que eu ficasse perto de Will o tempo inteiro. Concordei. Como se fosse fazer outra coisa... Eu hein. Não sou maluco.

 Bem, onde foi que paramos anteriormente? Ah, sim. Me lembrei. Bianca e meu pai receberam a notícia do meu relacionamento no dia seguinte ao início dele, antes que eu disparasse porta a fora pra ir pra escola. Haz riu tanto da cara deles que me arrependi por não ter ficado pra ver. Mais tarde, recebi um vídeo da reação que tiveram: Bia dando pulinhos e meu pai abismado por ser com o filho do dr. Solace.

 Assumimos publicamente uma semana depois quando viram um anel dourado no meu anelar esquerdo, representando meu raio de sol. O loiro estava com um anel negro com o símbolo prateado da lua. Simplesmente amei os anéis e só tiro o meu para tomar banho. Sério. Se tornou mais precioso até do que o meu celular e minha coleção de livros juntos.

 Reyna ficou tão contente como nunca e inventou um modo de se referir a nós dois de uma vez. Solangelo. É, ela juntou nossos sobrenomes. Leo aderiu e falava tanto que acharam que era um garoto com quem ele estava traindo Frank. Sério mesmo. Povo sem noção. Mas enfim. Todos os nossos amigos gostaram desse nome. Já perdi a conta de quantas vezes eu ouvi isso.

 O pessoal do colégio fez um alvoroço quando souberam do namoro. Sabe o que é alvoroço? Mano. Uma mina aleatória tentou pagar pra gente se pegar na frente dela. Tendo todos os limites ultrapassados, o sr. D. ameaçou nos colocar em turmas diferentes. Imploramos e nos justificamos a ele, que acabou cedendo em não nos separar no próximo ano letivo.

 Eu disse no próximo. Pois bem. Para evitar mais interrupções de aula, barulho excessivo e a violação da privacidade alheia, nos colocaram em salas, eu no 1oB e ele no 1oD. Talvez tenha sido melhor assim. Will fez amigos novos e me apresentou a eles. Foram gentis e eu estava com o pé atrás, um leve trauma da segunda e da terceira série do fundamental. Bem leve mesmo.

 Os garotos, Matthew e Issac, me trataram super bem e não foram desagradáveis em relação ao meu namoro com Andrew. Eram boas pessoas. Mais tarde. na saída, chamei Leo e fui comprar geladinho. Issac nos viu e pagou para nós. Ao ver que estranhei, ele sorriu e esclareceu:


一 Você parece legal. Quero ser seu amigo e... 一 Ele coçou a nuca. 一 Você é muito importante para William. Quero que fique a vontade conosco.


 Issac parecia sincero, então agradeci. Ele é realmente legal e muito atencioso. Frank nos encontrou pouco depois enquanto conversávamos (Eu e Leo). Valdez terminou seu geladinho, se despedindo de mim. O meu raio de sol, vendo que eu estava sozinho, disse que me levava pra casa. Dei-lhe um beijo na bochecha, feliz por ele estar ali.

 Andamos de mãos dadas por um bom tempo, pouco me importando com o que as outras pessoas poderiam estar pensando. Os "e se"s que constantemente me atormentavam tinham sumido. Tudo antes girava em torno dos meus sentimentos supostamente não correspondidos por Solace, mas, agora que assumimos algo sério, meu coração não poderia estar mais tranquilo e eufórico.

 Depois de me entregar ao meu pai, sorriu e foi embora. Hades me dirigiu um olhar que dizia "Cuidado". Com o que exatamente? Com a velocidade com a qual avançávamos nas coisas? Sinceramente, após o incidente com o M., eu ficava atento a toques e Will estava sempre se controlando, então nunca acontecia nada além do normal. Nada de beijos fogosos ou sexo.

 Max foi um trauma marcante que me deu insegurança até de me tocar. Nunca agasalhei o croquete, descabelei o palhaço ou brinquei com os dedos. O medo vencia a curiosidade de experimentar sempre que eu pensava no assunto. Era como um fantasma que assombra seu dia. Essas memórias me perseguiam, mesmo depois de tanto tempo.

 Bem, esqueci de falar do meu sobrinho, o Raynald. O chamamos só de Ray porque é mais fácil. Bianca e a minha cunhada, Reyna, estavam com leves dificuldades para cuidar de um bebê e terminar o ensino médio ao mesmo tempo. Minha irmã persistiu, entretanto abandonou a escola pelo filho.

 Meu pai disse que era melhor assim. O diploma ela poderia conquistar mais pra frente, mas um bom vínculo seria estabelecido nessa fase. Bia, mesmo que sem intenção, ficou chateada por largar os estudos no último ano, mas aguentou firme. Se pôs ao dispor da educação e saúde emocional de Ray.

 Hylla, irmã de Reyna, doou várias roupas de um bebê que sempre esperava ter, mas que nunca viria, pois se descobriu infértil. Com ajuda de Hylla e de Hades, nada faltou ao bebê. Reyna parecia orgulhosa por Bianca ter dado a luz a um filho delas e se esforçou como nunca para terminar o terceiro ano bem. Foi pra faculdade de Educação Física.

 O primeiro ano acabou, mas uma semana antes do fim das aulas, Solace me puxou pelo braço pra um lugar reservado. Mordi o lábio pra segurar um comentário mordaz sobre não ser a Ariel ou coisa pior*. Ele parecia nervoso e ansioso. Olhou todos os lados para se certificar que ninguém estava nos observando. Não tinha nem uma alma penada no lugar.


一 Matthew nos chamou para uma festa para comemorar que sobrevivemos ao primeiro ano do ensino médio. 一 Me contou ele. 一 Peça ao seu pai pra ir.


 Sorri, achando graça, mas eu entendia sua ansiedade. Era provável que ele não deixasse e Will não se sentiria confortável de ir à uma festa sem mim. Peguei seu rosto em minhas mãos e o beijei, tentando tranquilizá-lo e me acalmar. O loiro retribuiu, abraçando-me pela cintura. Moral da história: Consegui permissão de ir.

 No dia marcado, o último dia de aula à noite, Andrew veio me buscar. Usava roupas leves que o deixam irresistivelmente beijável. Já eu usava o que me deixava mais confortável. Me dando o troco pelo meu olhar em seu corpo, o meu sol disse que a calça marcava bem a minha bunda. Corei muito, mas não disse nada.

 Estava determinado a deixar as coisas fluírem entre nós. Se acontecesse, aconteceu. Eu não me arrependeria porque iríamos seguir o nosso ritmo. Mas o nosso ritmo é lento, mesmo nos conhecendo há vários anos. Parece que sempre nos demos bem com um casal, apenas não nos demos conta disso antes.

 Ah, se eu soubesse que ele gostava de mim desde a quinta série. Teria eu tomado a iniciativa de pedi-lo em namoro. Teria me declarado bem antes. De qualquer forma, estamos juntos. Conseguimos decifrar o que sentimos e fizemos as escolas cujo resultado se vê agora. Enfim, a festa.

 Issac ofereceu o próprio apartamento para isso e o barulho era ouvido da portaria. O loiro passou uma senha ao porteiro, que nos deixou entrar. Fomos de elevador até o sexto andar. Enquanto estávamos sozinhos, William pegou minha mão e sussurrou palavras de conforto no meu ouvido. Sua voz rouca fez um arrepio subir pelas minhas costas. Uma sensação gostosa.

 Matthew nos atendeu e pareceu feliz por estarmos ali. Disse para que entrássemos, ficássemos a vontade e blá-blá-blá. Logo de cara vi muita coisa rolando. Era a turma do 1oD toda e alguns do 1oC. Frank ia me agradecer por não chamar Leo. Ah, se ia. Tenho quase certeza que a maioria eram garotos. As meninas eu reconhecia pelas roupas brilhosas e essas eram menos no meio de roupas largas.


一 Issac está cuidando das bebidas e eu do som. 一 Explicou Matthew. 一 Os quartos são proibidos.


 Revirei os olhos ao mesmo tempo que corava. Solace riu. Andamos um pouco até começar a tocar umas músicas mais animadas. Dancei com Will por uma hora até... Música lenta. É muito bom sentir o meu corpo contra o dele, suas mãos na minha cintura e seu rosto colado ao meu.

 Andrew riu quando percebeu minha reação aos seus toques. Eu o queria mais perto. Não sei por quê ou como, mas algo diferente ardeu em mim. Uma vontade de beijá-lo e explorar-lhe o corpo como eu nunca fiz antes. De onde veio? Não sei. Contudo, reprimi essa vontade e dancei com William, agarrado a ele até o final da música.



Primeiras & Únicas Vezes (Solangelo)Onde histórias criam vida. Descubra agora