Capítulo 9

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"Meu lar tem olhos lindos
O nariz mais fofo
Os sorrisos mais bonitos
Meu lar gosta de noites estreladas
É curto em altura
E às vezes morde"
My Home

Os dias que se seguiram foram os mais domésticos que já vivenciei, acordavamos e ficávamos de preguiça na cama, café da manhã que servia como duas refeições já que comíamos muito tarde e comíamos muito, nunca imaginei que uma garota tão pequena conseguisse comer tanto, conheci seu "escritório" no mezanino, era fofo, havia um computador com uma tela gigante de led que ela usava como monitor, uma mesa digitalizadora, alguns itens de papelaria, alguns arquivos, tinha também uma poltrona com um trio de coala. Lado a lado havia duas estantes do lado oposto da mesa, uma estava abarrotada de livros,alguns títulos eu conhecia como A vegetariana, O pequeno príncipe e A metamorfose, alguns estavam em irlandês e outra língua que não consegui identificar. A outra estante tinha toda a nossa discografia, desde o primeiro álbum, as edições especiais, algumas pelúcias, photocards de todos os membros, a nossa Lightstick. era um pequeno acervo onde tinha de tudo um pouco, isso me fez questionar, será que todos os fãs são assim? Será que nós merecemos todo esse amor? Acho que falei em voz alta já que obtive resposta

-Claro que sim - disse pegando meu photocard e falando com ele - olha essa covinha que fofo. Como é possível não gostar de alguém assim? Principalmente se esse alguém te incentiva e dar força sem nem te conhecer? - olha pra mim sorrindo - é impossível, não é uma questão de escolha.

Definitivamente não sabia lidar com aquela situação, nunca havia me envolvido com uma fã. Naquele mesmo dia voltei ao hotel, liberei meus amigos para eles concluírem o resto do roteiro sem mim e combinamos de voltar juntos para a Coreia, então montei acampamento na sua casa. No dia seguinte fomos a um pista de patinação no gelo, Nova York estava no início do seu inverno,ainda não havia neve por toda parte mas havia muitos turistas, evitamos aglomerações. Na volta para casa passamos em um supermercado, Blue resolveu fazer um prato típico de seu país, mesmo tendo terminado de comer dois tacos gigantes de um vendedor de rua com um sotaque fajuto. Estou agora apenas observando, é de conhecimento público meus péssimos dotes culinários, o prato a ser preparado é uma espécie de bolo de carne com batatas amassadas e queijo.

-Você já fez isso alguma vez?- Questiono depois de vê-la consultar a receita pela quinta vez na Internet

-Claro que já - fala sem tirar os olhos da tela- isso é cultural...

- Então as batatas duras - aponto para várias batatas semi cozidas - fazem parte da receita?

-Shiii! - e levanta o dedo indicador em riste - tá me desconcentrado, por isso não tá dando certo...

-Eu tô? - zombo - sinto muito Chef, pensei que a carne queimando fosse o problema de não estar fluindo....

Ela olha pra panela de onde vem o cheiro e fumaça, apaga o fogo e solta um suspiro frustrado. Depois de duas horas sentamos na frente da TV com uma pizza tamanho família e uma Blue bem chateada fazendo um bico muito fofo. Eu conseguiria facilmente me acostumar com uma rotina assim, tranquila, um fluxo menor de trabalho, alguém pra dividir uma refeição, a cama, a vida...Porém a realidade não me deixa ir muito longe, no celular chega um mensagem do meu hyung "Vamos tomar um café amanhã? Precisamos conversar".

Acordo mais um dia com um mar de cabelos vermelho ao meu redor, levanto devagar, pra não acordá-la, uma sensação de vazio aperta meu peito, faço um café pego meu celular e me posiciono em uma das poltronas, divido minha atenção entre a tela e a garota adormecida, quando ela acorda me procura no ambiente e sorrir quando me vê, eu não quero deixá-la, porém, seria egoísmo lhe arrastar junto comigo, principalmente com tudo que estar por vir, me sinto frustrado com toda essa situação, porém não posso mudar as coisas, ou posso? Louco acho que estou ficando louco, isso sim. Repetimos nosso ritual matinal, ela sobe para o mezanino e eu me preparo pra encontrar meu amigo, marcamos na mesma cafeteria onde tudo isso começou, chego primeiro e pego uma mesa mais reservada, o movimento está calmo, apenas algumas pessoas com seus notebooks ou celulares, todos muitos concentrados nas suas próprias realidades. Quando Tae-moo chega pedimos café, ele me conta como foi as exposições que foi fora da cidade, que estava de volta ao hotel e seria mais adequado partirmos do hotel para o aeroporto.

-Como tem sido suas férias? - o sorriso travesso insinuava muitas coisas

-Domésticas e revigorantes - sou o mais vago possível - tive um tempo para colocar o sono em dias

-Já contou pra ela que está preste a voltar para a Coreia? - a pergunta foi despretensiosa, porém seus olhos estavam preocupados

-Não, estou esperando a confirmação do dia - não tinha porque sofrer com antecedência - Eu a quero comigo, mas é loucura, certo?

-Sim, é loucura - ele só confirmou o que eu tinha em mente - Você não sabe se é ela, não tiveram tempo suficiente...

-E se for? - minha voz saiu baixa- E se ela for a minha pessoa? Preciso de mais tempo...

-Ela irá até você, meu amigo - sua voz soou triste, talvez por já ter estado no meu lugar - e se ela não for? Como vai ser?

-Não pensei a respeito. - pensar racionalmente não tem sido meu forte desde que cheguei a cidade

-Vou te dizer como vai ser- ele se ajeitou na cadeira e cruzou os braços sobre o peito - Ela vai ser atacada, acusada, sofrer hate em um país estrangeiro e ainda existe o fator de que o daqui a alguns meses você estar no centro dos holofotes, entende que não terá tempo para ela, além disso vai arranca-la de toda a rotina de ela conhece?

Ele estava certo, mas foi inevitável sentir todas aquelas palavras como uma pancada, eu estava sendo egoísta e precipitado, não poderia fazer isso com ela principalmente com toda essa rotina insana que mantemos, ainda tinha toda a burocracia com as últimas atividades em grupo, meu debut e toda a parafernalha do alistamento, o momento não poderia ser pior. Absorvo tudo aquilo, saco meu telefone e lhe mando uma mensagem

"Que tal cinema e pipoca hoje?" a resposta não tarda

"Claro, qual filme? "

"Você escolhe, pronta as 19:00h?"

A resposta veio acompanhada de uma carinha soltando beijo"Yes, Sir"

Sorri para a tela, se tinha pouco tempo iria aproveitar até o último segundo.

Voltei pra sua casa no horário combinado, entrei usando suas chaves que tinha como chaveiro a cabeça de um cavalinho azul com nariz de coração. Entrei e fui em direção sua voz ela cantarolava "Too Good at Goodbyes" de Sam Smith, enquanto arrumava o cabelo unindo duas tranças laterais na parte detrás da cabeça, quase como um coque samurai, só que sem o coque. Usava um vestido que ficava um pouco abaixo do joelho, branco com pequenos girassóis estampados, o decote era reto, mas marcava seus seios e cintura, usava botas de cano curto bege que estranhamente combinava com o vestido delicado, me viu pelo espelho e sorriu arrumando a franja, o rosto totalmente livre de qualquer maquiagem exceto por um delineado fino nos olhos. Fui até ela, respirando o cheiro do seu cabelo apoie as mãos na sua cintura fina, ela tinha cheiro de casa

- Yeppeuda - a única palavra que chegava perto do que eu estava vendo, havia se tornado um hábito lhe disser isso - quero guardar essa imagem, pra sempre.- Ela sorriu tímida e me apaixonei mais um pouco por ela.

Chegamos ao cinema em cima da hora, então resolvemos nos dividir para conquistar, fui comprar os bilhetes, ela a pipoca e as bebidas, tudo correndo certo, íamos consegui entrar na sala antes de começar a sessão, meu telefone toca, atendo por instinto a voz do outro lado me joga um balde de água fria, ainda estou com o celular no ouvido quando ouço

-Podemos dividir a pipoca, porém o refri.... - sua voz morre quando me vê ali parado com o celular na mão, entendendo a situação - Quando?

-Meu voo foi marcado para amanhã

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