Efêmera Normalidade

Capítulo 8

"Mas e se eu, e se eu tropeçar?
E se eu, e se eu cair?
Então eu serei o monstro?"
Monster, 2020

Já se passaram 24 horas desde que saí do apartamento de Blue, o arrependimento me rói e o celular não sai da minha mão, eu deveria tê-la acordado, deveria ter me despedido, agi como um cretino e tenho quase certeza que ela também pensa assim, meus amigos pensam. Fiquei tão frustrado com todas aquelas mensagens, com aquela maldita programação, a ligação foi apenas a cereja do bolo. Quando entrei porta adentro do quarto de Tae-moo já tinha um plano, porém com base na nossa conversa talvez tivesse perdido a garota

-Aí está você - Tae-moo me cumprimentou com sarcasmo - já estava pensando em colocar sua foto nas caixas de leite, ainda fazem isso?

Choi havia saído, ele sempre consegue encontros e jantares. Tae-moo estava com a cara enfiada no computador, jogos online era o seu hobby, me senti lisonjeado quando ele saiu de frente da tela nos serviu uísque, sentou ao meu lado e perguntou

-Então, conseguiu a garota? - era uma pergunta genuína, porém a alfinetada não tardou a vir- pelo seu ar de filhotinho abandonado parece que não...

-Não necessariamente - comecei, precisava de uma visão de fora, ele não seria o mais adequado porém era o que eu tinha aceso - acho que fiz merda...

-Qual a proporção?

-Fiquei com a garota - ele absorveu a informação esperando por mais- Sai depois de transar com ela, deixando apenas um bilhete porque ela estava dormindo...

-Wae, Wae, Wae - falou ficando em pé depois de se engasga com a bebida - Porque fez isso? Qual é o seu problema?

-Tinha coisas da empresa pra resolver - tentei justificar - e eu deixei um bilhete...

-Sabe o que ela vai ler nesse bilhete - era uma pergunta retórica - Obrigada pela noite, tenha um bom dia...

-Deixei meu número - continuo

-Você deixou uma garota que é louca por você dormindo depois de ter estado com ela, acha mesmo que ela vai te ligar? - sua voz era incrédula - Aish... Você é mais inocente do que parece...

Ele não estava errado, ela não ligou, no dia seguinte tento fazer algo produtivo, falho, vou pra academia do hotel, perco boas horas lá, estou cansado, frustrado e com fome, volto para o quarto e decidimos comer fora, Choi nos conta da desventura que foi seu encontro, conto para eles como acordei abraçado a uma pelúcia gigante e tudo que se passou depois, revelo meus planos para os dias seguintes caso não tivesse agido como um babaca e incentivados por eles resolvo ir atrás dela, mais uma vez como sabiamente Tae-moo observou

-O não já temos, precisamos da humilhação - definitivamente ele estava se divertindo com isso

Estou aqui na porta do seu prédio, novamente encarando a campainha talvez esperando um sinal divino ou algo do tipo, ensaiei várias coisas que ditas em voz alta não fazem o menor sentido, nem sei quais suas flores favoritas então a julgar pelos cactos na sua janela espero que ela goste da pequena suculenta que me faz companhia. Olho para o caminho que fizemos dias atrás e não acredito no que meus olhos veem, ela está vindo de braços dados à um homem alto, os dois usam toucas iguais e casacos de frio ele com tons claro e ela de preto, sorri amorosa pra alguma coisa que ele lhe diz, param em frente ao prédio ele lhe beija a testa até perceber minha presença, o sorriso morre em seus lábios, ela parece nervosa e ele apoia a mão na sua lombar seu tom é preocupado

- Tudo bem? - pergunta seguindo sua linha de visão e olhando pra mim - Parece que não vai precisar ligar afinal... - fala com um sorriso de lado com tivesse entendido algo, ele me parecia familiar...