Efêmera Normalidade

Epílogo 2

"O que você tem feito ultimamente?
Em quem você pensa quando está tão longe?
A vida sem você é realmente
Inacreditável"
Let go, 2018

Tudo estava entrando num ritmo cada vez mais intenso, estávamos encerrando as atividades em grupo e o volume de gravações e programas era cada vez maior, estava também finalizando os detalhes do lançamento de Indigo, o qual dediquei meus últimos três anos, as negociações com o Dia Beacon para as apresentações ao vivo estavam indo bem e os detalhes para o último show antes de começarmos as atividades solos. Porém é preciso começar as aparições em público, confesso que chega a ser um pouco estranho, afinal foram 10 anos em convívio com os meus membros, então sim fico sempre deslocado.

Acordo no quarto de hotel, hoje é o dia da final do show de talentos para formar um novo boygroup da empresa, só que aqui no Japão, passo a manhã imerso no trabalho, até a equipe chegar para irmos para o evento. Poucos repórteres e fotógrafos na entrada, ao que tudo indica a mídia foi selecionada, o antigo CEO da empresa se junta a mim, estou preste a passar pelos fotógrafos quando a vejo, ela está me olhando e parece que todo o barulho em volta silencia, continua linda, porém, o cabelo antes volume e comprido agora é um moderno corte na altura dos ombros, a franja não existe mais o que a deixou mais madura, apesar de ainda gostar de preto usa uma camisa branca justa ao corpo, pelo tamanho da sua barriga onde a câmera descansa, diria que está entre o quarto ou quinto mês de gestação e a julgar pelo anel de diamantes e aliança em seu dedo esquerdo ela casou muito bem, parece brilhar, agora entendo o tal brilho que as pessoas falam quando as mulheres estão grávidas, sorrio para ela e só no mover de lábios digo o quão linda ela está, relembrando assim todas as vezes que falei naqueles momentos que passamos juntos "Yeppeuda" ela me devolve um sorriso e agradece, sinto cócegas no estômago por ser alvo daquele sorriso, nossa bolha é rompida e me posiciono para as fotos, foco nas suas lentes, falo brevemente com os repórteres e sigo sem olhar para trás.

Talvez não olhar tenha sido meu erro, naquele dia, naquele corredor quando a deixei sozinha, se tivesse olhando teria voltado, teria ficado com ela, teria enfrentado as consequências. Teria mesmo? E se eu não fosse capaz de pagar o preço? Olho minha rotina hoje, não teria dado certo, ela era a pessoa certa no momento mais errado possível, foi inevitável sentir um pouco de inveja do seu marido, mas eu realmente estou feliz por ela ter seguido em frente (talvez rápido demais), aquele inverno sempre será um lugar feliz para revisitar, as suas risadas, suas comidas estranhas, sua voz doce quando cantava, seu corpo quente...
Estaria mentindo se não dissesse que várias vezes me peguei olhando seu número, a Dori que hoje está no meu banheiro ou até mesmo as vezes que pensei em pegar um avião e ir vê-la, mas desisti, não teria fundamento, quando retornei a Coreia simplesmente mergulhei de cabeça no trabalho, precisava tirá-la de mim. Hoje quando a vi, duas coisas ficaram claras, primeira, poderia ter sido ela? sim poderia. Segunda, escolhi essa vida para viver e vou ser grato todos os dias por ela, porém sem amor nenhuma vida é vivida plenamente, então buscarei por ele e não descansarei até encontrá-lo.