Saí do meu quarto aos prantos logo depois de demorar quinze minutos rolando e me espreguiçando em minha cama até perceber que estava atrasada. Tomei o café que vovó preparara enquanto eu ainda estava bocejando depois de me arrumar, escovei rapidamente meus dentes, arrumei meu material e logo depois de pegar minha mochila e me dirigir à porta, dei um beijo de "bom dia" junto com "te amo" e "obrigado" para a linda moça de cabelos brancos, de roupão e pantufas, e saí.
Demorava vinte minutos a pé e cinco de carro da minha casa até a escola (eu caminhava muito devagar, porque me cansava fácil mesmo não sendo uma obesa, e Harry sempre se divertiu por causa disso, irritando-me), então fui andando rápido, para eu conseguir chegar antes do "segundo sinal" (o sinal que batia quinze minutos depois da primeira aula ter começado para os alunos que chegaram um pouquinho atrasados).
O tempo estava frio, era como se aquela brisa gelada batendo nas minhas bochechas me dissesse: "o Inverno chegou" . Por um lado era bom, mas por outro... Bem, era um vento frio, e isso dificultava ainda mais minha caminhada. Ao menos eu fazia um exercício diário cinco vezes por semana mais ou menos (tinham vezes que eu acordava muito cansada - por causa das conversas de madrugada com Harry - mas agora isso não acontecerá mais... pelo menos não com ele.)
Parei e refleti. Será que eu iria achar outra pessoa como Harry? Na minha sala não tinha ninguém tão interessante quanto ele. Tinha Jim, mas Harry era meu melhor amigo, depois vinha ele. Ele era muito gentil e divertido, assim como Harry, mas de um jeito diferente (bem diferente, na verdade). Harry tinha um jeito mais alegre, Jim era mais sério, mesmo sendo engraçado às vezes. Mas estou realmente achando que Harry é insubstituível, ninguém pode tomar seu lugar - podem até tentar, mas Harry era único. Talvez, algum dia, quem sabe, eu ache alguém que me alegre tanto quanto ele, ou pelo menos um tanto que não me faça querer me matar e realmente me faça feliz e me deixe com a sensação de liberdade, de que eu posso dominar o mundo com o meu sorriso, de que eu posso fazer o que eu quiser, ser quem eu quiser... Assim como Harry fazia comigo.
Voltei a caminhar mais rápido, ciente do horário. Eu precisava me apressar para chegar a tempo do segundo sinal.
Eu estava a apenas uns cinco minutos da escola quando parei e o vi.
Jim.
Ele tinha uma face pálida, assim como seu corpo; vestia seu jeans e a camisa do uniforme da escola. Jim era uma daquelas pessoas mais "neutras" na sala. Ele não se achava aquela pessoa engraçada, não falava o tempo todo, mas também não era um total nerd. Ele era inteligente, sim - bem inteligente -, mas ele não era uma pessoa chata, e sua inteligência completava a sua personalidade perfeitamente.
Quando ele notou que tinha alguém do outro lado da rua observando-o (eu mal percebi que estava fitando ele sem disfarçar) e se virou, me escondi atrás de um carro preto estacionado. Certas coisas eu não sei porque faço, simplesmente as faço.
Fiquei ali por alguns segundos até olhar por entre as janelas daquele carro e ver que Jim já estava mais longe. Saí dali de trás e continuei minha caminhada, fingindo que nada tinha acontecido.
Depois de chegar na escola e ir em direção a minha sala, percebi que Harry não estava lá. Harry, você sempre chegava atrasado. Ele sempre estava lá, do lado da porta, sentado no chão, apoiado na parede, cansado pelo mesmo motivo que eu (essas conversas de madrugada) e - quando eu chegava atrasada também - ele me olhava com aqueles olhos e abria um sorriso tão fofo mas tão fofo que eu sentia vontade de pegar uma arma, atirar em mim e fazer de tudo para reviver para encontrar ele e rever aquela sorriso. Por que esse sentimento? Porque certas vezes eu me sentia meio ingrata; o sorriso dele era tão lindo... E eu não fazia nada para conseguir vê-lo, simplesmente chegava e o via. Eu deveria fazer algo para conseguir ver esse sorriso, batalhar.
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Dear Harry
RomanceCamila demora para superar a verdadeira e forte amizade que tinha com Harry - os dois conversavam pelo celular diariamente, além de serem melhores amigos na escola -, e com sua morte ela fica com uma espécie de trauma, ainda escrevendo (em um "diári...