– Não, vó, o das 10 é esse aqui - eu apontava para o remédio com uma etiqueta amarela, auxiliando-a.
– Calma, querida... - ela pensou um pouco - Mas eu tenho certeza que é esse. - Gabriela segurava o com etiqueta rosa, disposta a não largá-lo.
– Vó, eu esperava não ter que pegar a folhinha que o médico nos deu.
– Mas foi esse que o doutor Hudson me falou que eu tinha que tomar...
Peguei a folha que estava em cima do balcão da cozinha e mostrei a ela.
– Viu? É o amarelo, vozinha. - mantive-me calma.
– Ah, sim. Claro. Desculpe.
– Vovó, você precisa prestar mais atenção.
– Eu presto, querida, mas eu me esqueço...
Eu sorri para ela enquanto abria a tampa do remédio. Contei quinze gotas, colocando-as em um copo e misturei com água.
– Pronto, agora é só beber.
– Muito obrigada, querida.
Já tinham se passado duas semanas desde que vovó teve de ir ao hospital, e desde lá eu venho auxiliando-a com os remédios. Pelo menos é algo que me ocupava o tempo. Não me preocupava muito em esquecer, já que anotei tudo no meu celular e ele vibrava quando estava na "hora do remédio" - como eu comecei a chamar.
E desde duas semanas atrás, o Jim começou a vir aqui em casa para fazermos as tarefas, conversar e ele ver minha avó; dia sim, dia não. Jim era encantador, ele deixou o futebol de lado por minha causa (e por causa de minha avó), dizendo para o técnico que iria ficar sem jogar por um ou dois meses e que estava com problemas familiares - os pais dele entenderam, só não quiseram que ele ficasse muito tempo sem jogar, já que o valor mensal pago ao clube de futebol em que ele treinava era bastante caro.
O pai de Jim sempre foi bem legal comigo, principalmente quando eu ia ver os jogos com o Harry. Eu e ele ficávamos narrando o jogo todo e rindo um monte, até Lúcio - o pai de Jim -, esquecia o pouco de preconceito que ele tinha e ria um pouquinho conosco.
Mas eu nunca mais fui ver Jim jogar. Nunca mais narrei. E, agora, parando para pensar, sinto falta.
A mãe de Jim também sempre foi muito doce comigo. Das dezenas de vezes que eu fui à casa dela, nenhuma ela me tratou mal, mas também não tolerava muita bagunça e gritaria (com Harry sempre tinha isso), o que a fazia ficar nervosa com meu amigo de cachinhos, mesmo adorando-o no fundo. Ela sempre fazia um bolo de cenoura maravilhoso quando íamos lá, e sempre tinha um sorriso estampado no rosto, o que combinava muito com ela.
E, bem, desde duas semanas atrás eu venho pensando mais no Jim. Desde aquele abraço. Foi muito bom. Quente, aconchegante, carinhoso, afetuoso. Ele sabia o jeito certo de abraçar alguém como eu. Era diferente do jeito do Harry, que era mais um jeito de amigo, por mais diferente e único que era.
Mas, quanto mais eu pensava no Jim, menos eu pensava no Harry, e quanto menos eu pensava no Harry, mais culpada eu me sentia.
Ele era meu melhor amigo, eu não podia esquecê-lo tão fácil. Ele me amava demais, ele confiava muito em mim, eu fui a melhor amiga dele, e ele o meu...
A campainha tocou e eu, de pijama e com vovó à mesa, tomando o café da manhã, fui atender. Era Jim, me surpreendi tanto quanto ele, que me viu de pijama e arregalou os olhos - eu não era tão bonita assim. Nós rimos, eu fiquei muito envergonhada e disse para ele esperar (infelizmente ali fora) que eu ia me arrumar.
Tirei minha camisola antes mesmo de passar pela porta do meu quarto, jogando minhas pantufas pelos ares, e fui pulando ao meu guarda-roupa pegar um sutiã, uma calcinha, meu jeans e uma regata. Botei o sutiã e a calcinha rapidamente e saí do quarto vestindo meu jeans, com minha camisa na mão. Cheguei ao banheiro colocando minha camisa e já arrumando meus cabelos. Olhei-me no espelho e lavei meu rosto. Olhei de novo e arrumei meus cílios. Pronto.
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Dear Harry
RomanceCamila demora para superar a verdadeira e forte amizade que tinha com Harry - os dois conversavam pelo celular diariamente, além de serem melhores amigos na escola -, e com sua morte ela fica com uma espécie de trauma, ainda escrevendo (em um "diári...