Helena entrou no quarto e, vendo aquela situação, imediatamente mandou Lira se retirar, se dirigindo logo depois para mim.
- Está tudo bem? Assim que vi essa mulher eu já pensei que ela não fosse uma boa pessoa. O que ela te fez? Você está bem?... - Helena estava visivelmente preocupada.
- Está, sim... Ela não me fez nada, não agora... Por favor, não deixe que ela me visite mais. Nunca mais. Ela está me perseguindo! E quer me ver enlouquecer! - comecei a chorar. - Eu... Eu sou fraca. - deixei escapar.
- Calma, calma, calma... Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Seu tio já nos falou dos parentes que você tem, e que ele não tem meios de sustentar você caso você for morar com ele. - a enfermeira parou um pouco, mas logo depois continuou - Eu realmente não queria te dar essa notícia, mas você terá que morar com sua tia... Na Finlândia. - parecia brincadeira! - Ela já está vindo para cá, pegou um avião o mais rápido que pôde.
"O quê?" e "Como assim?" foram as perguntas que mais apareceram enquanto ela terminava. A Finlândia era um país extremamente longe desse. Era praticamente impossível eu não ter pelo menos um parente mais próximo... Foi aí que eu me lembrei que minha vó sempre conversava com essa minha tia, que ela tinha ido fazer doutorado lá na Finlândia e que era consideravelmente rica.
"Eu não preciso de uma vida de luxo" , esse pensamento veio a mim. Mas depois de parar para pensar, acho que eu merecia um pouco disso, depois de tudo que eu estava passando... E aliás eu não tinha praticamente nada onde eu vivia. Não havia o que perder. Bem, na verdade havia. Jim.
Fiquei pálida. Isso realmente piorou. Eu estava tão preocupada com Lira que esqueci que logo, logo, eu iria ir para um lugar bem longe.
Se bem que, pensar nesse assunto não faria muito diferença. Provavelmente eu não iria voltar, nunca mais, o que por um lado é bom já que isso será então, um recomeço. Acho que é do que eu preciso. Recomeçar. Bom, eu teria que aprender finlandês e aprender a me adaptar lá - principalmente porque era outro país, uma cultura que devia ser bastante diferente - e além do mais, com alguém que eu mal conheço.
Agora eu deveria focar no que está acontecendo e tentar fazer alguma coisa. Obviamente, Lira era uma pessoa perigosa, e não podia ficar solta - ela era daquelas pessoas que tem um lugar reservado atrás das grades. Eu só não sabia como por ela lá - eu não tinha prova alguma.
Uma ideia maluca veio em minha cabeça repentinamente: "Preciso ir à casa de Lira" .
Porém mais malucos ainda foram os pensamentos e perguntas que não pararam de aparecer na minha cabeça logo depois que eu pensei nisso. "Como posso ir para lá? Poderia ser quando eu fosse com minha tia pegar minhas coisas em casa" , "Como vou entrar lá? Dou um jeito, eu preciso dar..." , "Tomara que Dahlila, a empregada dela, não esteja lá, ela é muito fofoqueira e queridinha para Lira, sempre denunciara o que Harry fazia de errado; se eu entrar lá e ela estiver em casa, Dahlila vai ligar instantaneamente para Lira. Tenho que ir mais para o final da tarde..."
Parei de pensar e voltei ao ambiente em que eu estava quando Helena me perguntou pela terceira vez - dessa vez mais alto -, pegando em minha mão, preocupada, se eu estava bem.
- Ahh... O quê? Sim, sim. Só estou um pouco chocada... Eu nunca saí dessa cidade, só por algumas semanas... Eu, obviamente, nunca fui morar com uma estranha... Nunca deixei tudo isso para trás sabendo que provavelmente nunca mais voltaria. Essa é a primeira vez.
Helena riu, mas logo depois fez uma cara de tristeza, tentando entender-me e sentir o que eu estava sentindo naquele momento (embora a maioria das coisas que se passava em minha cabeça ela nem imaginava que estavam ali).
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Dear Harry
RomanceCamila demora para superar a verdadeira e forte amizade que tinha com Harry - os dois conversavam pelo celular diariamente, além de serem melhores amigos na escola -, e com sua morte ela fica com uma espécie de trauma, ainda escrevendo (em um "diári...