Aquela tarde na floresta foi realmente surpreendente. Mas depois dela tive que voltar para casa, para a realidade. Seria um tanto estranho ligar para Jim, já que eu tinha visto ele a uns minutos atrás, e além do mais, recusei seu pedido de me levar para casa.
Destranquei a porta e entrei, sem esperar muita coisa. Minha vó estava ao telefone, sentada no sofá, tomando um chá que logo depois descobri que era de camomila pelo cheiro que senti enquanto a abraçava e explicava que eu estava ali perto e que ela não precisava se preocupar.
– Quem era? - perguntei, voltando de meu quarto, onde eu deixara meus sapatos e pegara minha pantufa preta, que já estava ficando pequena.
– Ninguém - ela estava tentando não falar no assunto, querendo que eu não soubesse com quem estava falando, e eu percebi isso. Fiquei incomodada.
– Quem era? - repeti, tentando parecer paciente e tranquila, pegando a caixa de cereais que ficava na penúltima prateleira de madeira no canto direito da cozinha, perto da mesa.
– A mãe de Harry. - o silêncio invadiu a sala, inquietante e deixando um ar de curiosidade.
– O que ela queria? - voltei a pegar a colher, já que tinha ficado parada, um tanto chocada com a notícia.
– Saber se você estava bem.
– Ela está?
– Ela ainda parecia triste, bem triste. Chorou umas duas vezes nos vinte minutos em que ficamos conversando...
– Ela vai ficar bem. - se eu não tivesse falado, vovó falaria.
Botei no micro-ondas logo depois de abrir a geladeira e colocar um pouco de leite no pote de cereais e fiquei ali, esperando. Enquanto eu ficava parada, comecei a pensar. Não sei o que vovó respondeu à mãe de Harry, seria melhor eu telefonar para ela. É, eu iria fazer isso, só não sabia se fazia isso hoje ou amanhã. "Hoje" , escolhi, apertando no botão que abria o micro.
– Vovó, você já jantou?
– Querida, já passa das oito horas! Claro que já - eu ri, pensando: "Idosas... Sempre com seus costumes".
– Desculpe não ter vindo antes para jantar com a senhora.
– Não tem problema, não precisa se desculpar. Depois que acabar de comer, tome um banho e venha assistir TV comigo.
– Está bem. - confirmei e voltei a comer, fazendo barulhos "crocantes" enquanto mastigava o cereal.
A água do chuveiro sempre demorava para esquentar, eu ficava em pé plantada lá, nua, esperando... Até que eu tive a brilhante ideia de ligar o chuveiro enquanto eu trocava de roupa em meu quarto, mas muitas vezes, como nesse momento, eu me enrolava e o chuveiro esquentava, gastando água. Eu tentava ser bem ecológica, mesmo gastando de vinte a trinta minutos no banho.
Estava olhando à televisão com vovó Gabriela, abraçando-a, quando lembrei que eu precisava ligar para a mãe de Harry. Saí do sofá bem rápido e fui do mesmo jeito para meu quarto, procurando pelo meu celular - ele sempre some nessas horas. Achei ele depois de uns dois minutos procurando, estava na pia do banheiro. Já eram 21:14 h. Fiquei refletindo por alguns segundos; será que eu ligaria para Lira às 21 h da noite? Bem, liguei para ela sem saber direito a resposta.
– Alô? - sua voz parecia meio rouca (o que não me surpreendeu), percebia-se que ela tinha parado de chorar a alguns segundos.
– Lira?
– Sim. Quem é?
– A Camila. Desculpe ligar essa hora à senhora, eu sei que você dorme mais cedo, mas eu queria te falar uma coisa.
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Dear Harry
RomanceCamila demora para superar a verdadeira e forte amizade que tinha com Harry - os dois conversavam pelo celular diariamente, além de serem melhores amigos na escola -, e com sua morte ela fica com uma espécie de trauma, ainda escrevendo (em um "diári...