Na Passarela do Amor

02_ Faça uma limonada, amor

- Ai, minhas perninhas! - Bruce passa pela porta do apartamento, após abri-la, já reclamando. Logo abaixa o tronco para massagear as batatas de sua perna. Depois de passar alguns segundos resmungando de dor, ergue a cabeça e parece finalmente me notar jogado no sofá da sala. - Que cara de enterro é essa, cara? - se levanta num ímpeto e me olha estranho. - O que aconteceu? - pergunta, fazendo careta.

- Como eu posso te explicar alguma coisa se nem eu sei o que aconteceu? - bufo incomodado.

- Mas hein? - tranca a porta e entra de fato no apartamento que dividimos, se sentando largado na poltrona cinza, posicionada ao lado esquerdo do sofá que ocupo, da mesma cor. - Pra que eu fui inventar de correr essa hora da manhã? Tá praticamente de madrugada! - geme fingindo um choro se jogando pra trás. - Meu Deus, quanta burrice! Eu cheguei ontem tarde da noite da viajem. - reclama soltando um muxoxo descontente.

- Madrugada? Toma vergonha na cara. São 9 da manhã. - o olho estranho. Esse daí tem mais preguiça do que eu.

- Mas é sábado! Devia ser considerado crime levantar da cama antes das 10 numa manhã de sábado! - se ergue depressa, me encarando afoito.

- Você quem quis ir correr, problema seu. - chacoalho os ombros.

- Não vai dizer? - pergunta após uns segundos de silêncio e arqueia umas das sobrancelhas em dúvida, apoiando os cotovelos nas coxas e entrelaçando as mãos à frente do corpo.

- Dizer o quê?

- Quem morreu!

- Ninguém morreu. Tá doido?

- Ninguém morreu mas você está aí com essa cara. O que aconteceu, então? Sua faculdade colocou as férias pra o fim do mês?

- Eu preferia que fosse. - solto o ar de forma pesarosa enquanto encaro o chão, sem realmente prestar atenção nele.

- E...? - pergunta ele, novamente, gesticulando com as mãos e forçando o pescoço para frente.

- Samantha terminou comigo. Ontem. - digo simplista, já sem saco pra esse papo. Pensei tanto nisso de ontem pra hoje enquanto tentava contatar ela que acho que vou acabar ficando louco.

- O QUÊ? - aumenta o tom de voz e esbugalha os olhos. - Como assim? Por quê? Vocês não estavam bem? Ela não tava aqui contigo semana passada? Fala sério! Você tá brincando com a minha cara só porque passei a última semana fora? E se, na verdade, vocês forem se casar e não terminar? Você tá tirando uma com a minha cara, sim! - dispara trocentas perguntas dentro de um segundo, falando apressado. - Né...? - indaga, dessa vez devagar, uma vez que eu não falei nada ou sequer demonstrei algo com uma expressão.

- Não, ela terminou comigo mesmo. - parece que o queixo dele caiu, ele tá até com a boca entreaberta me olhando feito um louco.

-  Como assim? Do nada? Eu não esperava por essa! Explica isso direito, homem!

Estalo a língua e respiro fundo a fim de lhe por a par de tudo que aconteceu ainda ontem.

- De jeito nenhum! - levanta em um pulo, indignado com o que lhe contei. - Samantha tá biruta das ideias? Eu hein! - fala agitado rodando pela sala – Ela não te falou nada mesmo? Nadinha? - vira de uma vez, vindo apressado em minha direção. Balanço a cabeça em negação e ele suspira desacreditado, se sentando novamente.