• Capítulo Seis

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WANDA QUERIA MATAR VICTOR.
Estripá-lo. Esfolá-lo vivo. Cozinhá-lo em um caldeirão em seu próprio sangue.
Naquela manhã, ela acordou antes das sete e mandou mensagem para ele.

"Bom dia! acordaram?"

Uma mensagem simples e descontraída. Nada muito exigente. Ela até introduziu a pergunta com um cumprimento alegre, pelo amor de Deus.

Passou uma hora e ele não respondeu, mas tudo bem. Às oito horas ainda daria tempo de tirar Allie da cama e levá-la para casa até as nove para que ela pudesse colocar o vestido que Yelena comprara para ela usar no brunch. Era lavanda, todo de renda e cetim, e Allie tinha detestado. Wanda não teve coragem de dizer isso a Yelena.

Dois anos antes, Allie teria adorado o vestido, mas agora parecia recusar qualquer coisa que não fosse jeans, cores escuras e as camisetas de banda dos anos 1990 da mãe, que tinha achado em uma caixa no sótão, meses antes. Wanda tinha conseguido convencer Allie a engolir o ranço e ser educada - o vestido custava mais que a roupa vintage que ela mesma usava, afinal, e Allie amava Yelena -, mas também sabia que o humor da filha andava um pêndulo e que seria melhor ela se vestir na própria casa, e não na Casa de Chá da Dottie.
Por isso, pedira a Victor que levasse a filha para casa às nove naquela manhã.
Mas passou das nove e nada.

"Cadê vocês?" escreveu ela às 9h01.

"Indo!" respondeu ele, mas obviamente eles não estavam indo, porque quando o relógio bateu 9h40 Wanda teve que sair ou correria o risco de se atrasar, e uma das madrinhas não podia se atrasar para um evento de casamento no mundo de Yelena Belova.

Wanda foi até o apartamento de Victor e bateu à porta às 9h50. Ninguém atendeu, e ela estava prestes a ter um ataque de pânico, porque agora não só conseguia imaginar aquele tique no olho de Yelena quando ela ficava estressada, como seu cérebro de mãe estava criando milhões de cenários aterrorizantes, de um acidente de carro a Victor sequestrando sua filha e fugindo para o Canadá.

"Cadê vocês, porra?" escreveu ela quando estacionou em frente à Casa de Chá da Dottie, as mãos tremendo e os olhos cheios de lágrimas. Talvez o porra chamasse a atenção dele. Ela nunca usava essa palavra, guardando-a para momentos como aquele, quando fantasiava sobre arrancar uma parte vital do corpo de Victor.

"A caminho!" respondeu ele.

Wanda queria enrolar aquele ponto de exclamação feliz no pescoço dele.

"Paramos para comprar donuts! 🍩💚" E ele teve a audácia de inserir um emoji de donut e um coração verde.

Agora ela estava no meio do salão extravagante da Casa de Chá da Dottie, pisando um chão de mármore, os olhos vermelhos e inchados, enquanto Natasha Romanoff fotografava tudo.

Ou talvez não. Ela não chegara a levar a câmera ao rosto desde que a tinha visto, mas estava perto demais enquanto Wanda desabafava, absurdamente gostosa com aquela regata de seda preta e aquela calça creme elegante que deixavam seu corpo já esbelto ainda mais atraente.

E aquelas tatuagens, meu Deus.

Os olhos de Wanda se fixaram em uma delas, raios e gotas de chuva caindo de um céu cinza em um copo cheio de mar. Uma tempestade em um copo d'água.
Na noite anterior, ela mal tinha distinguido os desenhos. Estava ocupada demais tentando agir como se não fosse a mãe exausta de uma pré-adolescente angustiada enquanto dava em cima da irmã distante de Yelena. E Natasha obviamente sabia quem ela era... Não, ela não podia pensar nisso agora. Precisava concentrar suas energias em não cometer um assassinato.

Natasha Romanoff Não Está Nem AíOnde histórias criam vida. Descubra agora