NATASHA BAIXOU A CÂMERA e analisou a foto na tela. Wanda abraçava Allie, a cabeça virada por sobre o ombro, a boca um pouco aberta, os lábios levemente franzidos e o obrigada lançado no ar. Com o cabelo preso e aqueles óculos de nerd sexy, o salto dourado e o vestido de renda se avolumando no quadril antes de chegar à canela, ela estava maravilhosa.
Clássica.
Um ícone, até.E a foto tinha ficado muito boa. A luz estava perfeita, com o clarão suave do corredor ao redor de Wanda e de Allie, como se estivesse protegendo as duas.
Mas ainda melhor era a expressão nos olhos de Wanda, que estava fixa em Natasha. Estava agradecida, claro. Estava óbvio que ela tinha ajudado a evitar algum tipo de catástrofe pré-adolescente, mas o brilho no olhar de Wanda era mais que isso.
Era interesse.Natasha sorriu para a tela. Qualquer que fosse a dança que as duas estavam dançando, ela gostava. Yelena estava muito enganada – Wanda estava no mínimo intrigada, e Natasha com certeza era capaz de fazer alguma coisa com isso.
No entanto, não sabia dizer ao certo por que tinha se oferecido para ajudar Allie com o vestido. Estivera fotografando em segredo a discussão entre Yelena e Victor – de quem Natasha se lembrava vagamente como o cara da escola que jogava beisebol –, imaginando que Yelena adoraria ter o registro de sua boca retorcida e sua testa cheia de ruguinhas ao repreendê-lo.
Mas então tudo se encaixou: Wanda chorando enquanto puxava a filha, que estava triste e que não devia ter mais que 11 anos, pelo cotovelo em direção ao banheiro.
Natasha sabia que Wanda era mãe, que tinha engravidado logo que terminara a escola e decidido ficar com o bebê. Na época, não havia sentido nada ao saber da notícia – tirando, talvez, uma leve alegria mórbida porque a decisão de Wanda significava que ela não iria para Moscou com o resto do clã.
Antes que ela mesma se desse conta disso, tinha se afastado da discussão mesquinha de Yelena e ido em direção a Wanda, fascinada com o fato de alguém da sua idade ter uma filha quase adolescente. Ou talvez estivesse mais fascinada com o vestido dela, que se acomodava perfeitamente seus seios fartos. De qualquer forma, ali estava ela, vendo Allie quase ter um ataque por causa de um vestido.Uma lembrança voltou à sua mente: Melina à porta do quarto com os punhos cerrados enquanto Natasha, com 13 anos, sentada na cama, destruía o vestido que a madrasta queria que ela usasse em um evento beneficente que havia organizado.
“Você não é capaz de fazer isso por mim?”, perguntara Melina. “Depois de tudo o que eu fiz por você?”
— Posso ver? – Natasha se ouviu perguntar, e foi o que bastou.
Ela e a garota entraram no banheiro e, quando Natasha perguntou como ela queria que o vestido fosse, Allie começou a tagarelar sobre o coturno que tinha ganhado da mãe de aniversário em abril e algo simples que não pinicasse sua axila.
Agora, enquanto Wanda e Allie voltavam para o salão, Yelena pigarreou. Natasha ergueu o olhar e viu o maxilar tenso da irmã postiça. Então ajudar Allie rendeu o bônus de irritar Yelena. Aquele dia ia ser melhor do que ela esperava.
— Pois não, querida?
Yelena semicerrou os olhos.
— É sério? Como por um acaso, justamente você destrói o vestido que eu dei à Allie?
— Ela detestava o vestido.
— Ela… o quê? Claro que não.
Natasha olhou para ela como quem diz: Por favor, né?
— Você viu a garotinha feliz que acabou de sair do banheiro?
— Vi, mas eu…
— É um vestido, YEtzinho. Desapega.
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Natasha Romanoff Não Está Nem Aí
RomanceNatasha Romanoff jurou nunca mais voltar a Volgogrado, a cidade onde cresceu. Lá não há nada para ela, só as lembranças da infância solitária e do desprezo da madrasta e da irmã postiça, Yelena. Em Nova York ela tem uma carreira como fotógrafa em as...