• Capítulo Oito

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NATASHA PAROU NA ENTRADA, a Casa das Glicínias despontava diante dela.

Estava anoitecendo, o céu era de um lavanda suave e parecia que algumas pessoas já estavam lá. Ela não podia - não queria - entrar naquela casa só com Melina e ficar jogando conversa fora. Ou, o que era mais natural para a madrasta, ficar jogando indiretas. Nem tinha certeza de que conseguiria entrar de um jeito ou de outro, mesmo com a casa cheia de outras pessoas.

A Casa das Glicínias sempre fora um lugar confuso para Natasha. Por um lado, tinha morado ali com o pai durante dois anos, dos 8 aos 10. Lembrava-se dessa época, ao contrário das imagens nebulosas e disformes que tinha da infância em Rostov. A mãe, que morrera antes de Natasha completar 4 anos, era só uma sombra, um borrão de cabelo ondulado e mãos macias em seu rosto. Mas do rosto do pai, Alexei, ela se lembrava muito bem, assim como dos olhos azul-escuros e da risada alta, que vinha do fundo da barriga, fazendo Natasha rir também, mesmo quando ela não entendia a piada. A Casa das Glicínias era dele, construída e batizada para sua nova família, para a filha que ele não pôde ver crescer.

Mas a Casa das Glicínias também era delas. De Melina. De Yelena. Depois da morte de Alexei, o luto de Melina fora pesado, como um manto preto que cobria tudo. Ela já tinha perdido o primeiro marido para o câncer - um dos motivos pelos quais ela e Alexei estabeleceram um vínculo: o luto compartilhado em razão de uma doença terrível - e perder outro marido tão repentinamente quase a matou.

Natasha se lembrava de pensar, em sua própria névoa de tristeza, que Melina talvez morresse de desgosto e ela e Yelena ficassem sozinhas de verdade ou talvez fossem mandadas para longe.
Mas Melina sobreviveu, e, conforme ela voltava à vida, Natasha esperava pela mãe de que precisava. Esperou pelo consolo e pela segurança. Caramba, a mão de alguém apertando seu ombro ao passar por ela já teria feito com que seu coração se sentisse mais à vontade dentro do peito. Yelena certamente não ofereceria nada disso, mas Melina também não.

A mulher a alimentava. Comprava materiais escolares. Garantia que ela fizesse o dever de casa. Comprava presentes de Natal. Vestia a menina com as roupas de grife que Yelena adorava, mas para as quais Natasha nunca ligou, e pronto. Necessidades básicas, deixando o amor totalmente de fora da equação. É bem verdade que ela também não era muito carinhosa com Yelena, mas se envolvia. Sempre perguntava sobre os projetos escolares e sobre as amigas da filha, ia a todas as corridas da escola e torcia alto, incentivando-a a ser melhor e mais rápida. Também era um tipo de cuidado, não era? Yelena recebeu toda essa atenção quando elas eram mais novas. Depois, quando chegaram ao ensino médio, a mesma atenção parecia irritá-la. Ainda assim, sempre que se sentava ao lado de Melina nas arquibancadas de metal, vendo Yelena voar pela pista com o rabo de cavalo louro balançando atrás dela, Natasha ansiava por uma pergunta, qualquer pergunta, qualquer incentivo em relação à sua vida.
Nunca veio.

Então, quando os dedos de Natasha envolveram o diploma ao som de aplausos educados e nada emotivos, ela soube que estava na hora de ir embora de uma vez.

Agora, como em todas as outras poucas vezes que voltara à cidade nos últimos doze anos, ela olhou para a linda fachada de tijolos da Casa das Glicínias e sentiu um leve pânico fervilhar a cada respiração. Colocou as mãos na barriga e respirou fundo. Sabia que tinha que entrar e passar por aquilo como tinha passado pelo brunch. Só precisava de um instante para se preparar. Mas o instante se estendeu, e ela sabia que a qualquer momento seu celular chamaria com Yelena gritando sobre profissionalismo e pontualidade.

Deu um passo em direção aos degraus da entrada, e mais um, e estava quase no primeiro degrau quando um carro familiar parou na frente da casa.
Um Prius prata.

Natasha viu Wanda abrir a porta do motorista e duas outras pessoas saírem do carro - Agatha e um cara que nunca tinha visto. Ele usava uma calça social cinza elegante e uma camisa preta, o cabelo escuro preso em um coque impressionante. O homem abraçou Agatha, e Natasha soltou um suspiro, aliviada.

Natasha Romanoff Não Está Nem AíOnde histórias criam vida. Descubra agora