• Capítulo Vinte e Três

641 69 39
                                    

MEIA HORA DEPOIS, Natasha não conseguia parar de sorrir enquanto elas corriam pela trilha até o rio.

As duas estavam com os dedos entrelaçados sob as árvores, e Wanda soltava umas risadinhas que faziam Natasha se sentir como se tivesse voltado para a época da escola, mas não a escola que ela frequentara. Essa era toda pertencimento e amizade e risadas. Natasha não tinha essas coisas nem agora, menos ainda quando era criança.

Um milhão de sentimentos se enroscavam em suas entranhas, confusos e viciantes. Ela não sabia ao certo o que fazer com eles, senão ignorá-los, reprimi-los e se concentrar na sensação da mão de Wanda na sua.
Em como Wanda parecia… feliz.

Era uma sensação inebriante fazer uma mulher linda sorrir e rir daquele jeito. Tão inebriante que, quando as árvores acabaram e a pequena piscina natural cintilou diante delas, Allie dando gritinhos enquanto Victor a jogava para cima, Natasha e Wanda não se soltaram. Não de cara. Por um segundo, pareceu tão… normal ficar de mãos dadas na presença de outras pessoas.
Mas, quando Allie emergiu da água, Wanda se soltou.

Natasha estava determinada a não deixar que aquilo a incomodasse, o segredo. Wanda era adulta e tinha uma filha, e ela sabia que não era a parceira dos sonhos de ninguém.
Ela entendia.

Contudo, quando Wanda se afastou dela, indo em direção à água, tirando os sapatos e descendo a bermuda por suas belas coxas, Natasha começou a pensar que não gostava daquilo.
Não gostava nadinha.

Natasha passou o resto da tarde com Allie. Nadaram na água quente enquanto Wanda conversava baixinho com Victor, Natasha fingindo o tempo todo não ouvir o estresse no tom de voz dela. Mais tarde, quando voltaram ao acampamento e vestiram roupas secas, ela se sentou com Allie em um tronco e mostrou a ela como editar a foto da bacia de pássaros que a garota tinha tirado na noite anterior.

— Caramba! – exclamou Allie quando Natasha ajustou a exposição. — É incrível como faz diferença.

— Bom – disse Natasha, mexendo na saturação —, o truque é fazer parecer que não tem edição nenhuma. Entender como fazer com que a luz natural, a cor e o tom naturais fiquem realçados, não completamente alterados. Tipo, olha essa parte aqui. – Natasha apontou para a flor no meio da água turva na tela. — O que você faria pra ela ficar melhor?

Allie fez uma careta, pensando.

— Eu… eu deixaria mais nítida.

Natasha sorriu e cutucou seu ombro.

— Eu também. – Ela tocou na aba Detalhe e entregou o celular a Allie. — Manda ver.

A garota brincou com a ferramenta de nitidez, observando como a foto mudava, antes de escolher uma configuração que deixava os contornos da flor um pouco mais nítidos.

— O que mais? – perguntou Natasha.

Allie olhou para a tela.

— A cor. Quero deixar meio… desbotada?

— Por quê?

— Porque… porque é uma foto meio triste? Uma bacia de pássaros antiga, uma única flor, água suja. Não é… não é uma coisa que os pássaros usam. Está esquecida.

Natasha abriu os lábios enquanto observava a garota olhar para a foto com as sobrancelhas franzidas e sentiu um aperto no peito. Mas não era um aperto ruim, só trazia de volta uma sensação que ela havia experimentado com Wanda um pouco antes, como se os anos se repetissem. Allie via o mundo de um jeito que Natasha conhecia, o ponto de vista de uma artista, e podia ser um modo solitário de viver a vida.

Natasha Romanoff Não Está Nem AíOnde histórias criam vida. Descubra agora