• Capítulo Vinte e Cinco

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NATASHA BEIJOU WANDA e afundou o rosto no pescoço dela, abraçando-a pela cintura. Inspirou seu aroma campestre, com um leve toque de suor no fim, e sentiu o coração desacelerar pela primeira vez em dois dias.

Ela havia tentado.
Havia tentado muito ficar longe de Wanda desde que Agatha a deixara na Pousada Caleidoscópio sábado à tarde. Nada de mandar mensagem, nada de ligar e, sem dúvida, nada de aparecer na casa dela sem avisar. Sabia que precisava dar um tempo em todos os sentimentos que aquela mulher despertava nela. Passara as horas fotografando pela cidade, analisando o portfólio on-line para a exposição no Whitney, matando o tempo na Brass Monkey na noite anterior até perto da meia-noite, mas Volgogrado não era um lugar fácil de encarar sozinha. Era tranquila e calma e, embora houvesse certo charme na introspecção que a cidade inspirava, Natasha nunca tinha sido muito boa em autorreflexão.

Na verdade, tinha passado os últimos doze anos evitando isso.
Então não foi surpresa nenhuma quando, naquela manhã, ela começou a enlouquecer. Não conseguia parar de pensar em Yelena e na conversa que tiveram em volta da fogueira. Sua infância teimava em reaparecer, saindo do lugar onde ela a mantinha escondida havia tanto tempo, as amarras em que preservava a frieza e o desinteresse de Yelena se desfazendo.

Mas talvez ainda pior que todos esses pensamentos fosse o desejo. Aquela atração por Wanda estava ficando absurda. E não era só o desejo de passar a noite com ela mais uma vez. Natasha queria simplesmente vê-la, conversar com ela. Beijar aquela boca maravilhosa também, claro, mas o simples fato de ficar ali, na entrada da casa dela, era como mergulhar em um lago fresco depois de caminhar pelo deserto.

— Está tudo bem? – perguntou Wanda, colocando os braços sobre os ombros de Natasha e passando as mãos em seu cabelo.

Natasha assentiu, o rosto ainda apoiado em seu pescoço. Mas a verdade era que ela não tinha certeza. Não se sentia bem. Sentia-se pequena e desesperada, como uma criança precisando de um abraço.

— Conta qual é o problema – pediu Wanda.

Natasha finalmente levantou a cabeça.

— Eu disse que está tudo bem.

Wanda inclinou a cabeça.

— E eu não acredito.

— Não?

— Não.

Natasha sentiu um sorrisinho surgir em seus lábios. De repente, o fato de Wanda Maximoff perceber quando ela estava mentindo – e mais, demonstrar se importar de verdade – parecia um pequeno milagre.

— Vamos fazer alguma coisa – disse Natasha, puxando Wanda mais para perto e deslizando as mãos pelas costas dela. Deu-lhe um beijo, só um.

— Tipo… sair?

— É. – Beijo. – Tipo sair. – Beijo.

Wanda riu.

— Pra onde?

Natasha deu um sorrisinho maroto, uma ideia surgindo em sua cabeça.
Sabia que, por enquanto, Wanda queria guardar a relação em segredo. Se não tomasse cuidado, Natasha poderia voltar a ficar muito rabugenta com aquela situação, mas hoje só queria se divertir.

Queria sair com a mulher de quem gostava, simples assim.

— Um lugar aí – respondeu, beijando Wanda mais uma vez —, onde posso segurar sua mão.

— Andar de patins?

Wanda riu, levando as mãos à boca aberta enquanto Natasha estacionava o Prius dela no estacionamento do Sparkles. A pista de patinação ficava em Graydon, uma cidade cerca de 25 minutos a leste de Volgogrado, então eram poucas as chances de algum conhecido vê-las. Natasha se lembrava de algumas festas lá quando estava na escola, antes da morte do pai, quando as comemorações de aniversário eram algo de que ela participava como qualquer outra  criança.

Natasha Romanoff Não Está Nem AíOnde histórias criam vida. Descubra agora