• Capítulo Dezessete

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POR UM MILAGRE, Yelena aceitou ir acampar.

Natasha viu o caso se desenrolar escorada na pia da cozinha. Foram necessárias três ligações e algumas mensagens de texto para que a irmã atendesse o telefone, mas Agatha era bem determinada quando queria. E, assim que Wanda entrou na chamada, explicando que precisava do apoio das amigas, principalmente porque não confiava em si mesma perto de Victor, Yelena pareceu amolecer como um pudim.

Não confio em mim mesma perto do Victor, Yelena. Você sabe disso.

Foi o que Wanda disse. Em voz baixa, como se relutasse em admitir, mas Natasha ouviu, em alto e bom som, como um sino de igreja soando pela praça da cidade.

Para começo de conversa, ela nem queria ir até a casa de Wanda. Pelo menos, foi o que disse a si mesma o caminho todo. Estava plenamente satisfeita em responder a todas as mensagens irritantes de Agatha com emojis aleatórios, mas a mulher tinha que sugerir que elas se encontrassem na casa de Wanda para reestruturar os planos? E de repente um emoji de fita de DNA não parecia mais a resposta certa. Desta vez, foi ela quem amoleceu, concordando e saindo do quarto silencioso demais da pousada antes que pudesse pensar no que de fato estava fazendo.

Indo ver Wanda mais uma vez, era isso que ela estava fazendo.
Não estava nem aí para o plano de Agatha nem para Yelena e James. Mas agora, na cozinha aconchegante da casa de Wanda, com as bancadas de madeira e a pia de casa de fazenda, vendo-a andar de um lado para o outro na sala coberta de livros e mantas macias e fotos de Allie na lareira, ela podia admitir.
Queria ver Wanda.

Desde que Yelena fora embora no dia anterior, Natasha estava inquieta.
Ansiava por algo, algo doce, que não a obrigasse a ficar o tempo todo tentando contornar, entender, traçar estratégias. E depois de beijar Wanda no vinhedo... bom, não estava se sentindo nada calculista. Só estava se sentindo sozinha pra cacete. E agora Wanda estava dizendo a Yelena que precisava dela para não dar para o ex em um acampamento.

Tá, talvez Wanda não tivesse usado exatamente essas palavras, mas o efeito era o mesmo, e Natasha não conseguia se livrar daquele aperto no peito, por mais que respirasse fundo. Era o mesmo pavor que ela havia sentido cinco anos antes ao abrir a porta do apartamento onde vivia com Carol, ouvindo gemidos que não reconhecia atravessarem a madeira.
Era ridículo. Quando isso aconteceu, fazia dois anos que ela estava com Carol. Só tinha beijado Wanda uma vez, nem tinha dormido com ela. Estava longe de ser a mesma coisa.

Ainda assim, foi até a geladeira de Wanda e pegou uma cerveja. Estava determinada a não beber, a ficar sóbria perto dela para não fazer nada muito idiota, mas agora, com as lembranças de Carol e Jessica misturadas a imagens novinhas em folha de Wanda e Victor transando como coelhos em uma barraca sob as estrelas, precisava de alguma coisa para se acalmar.

— Pronto – disse Wanda, ao desligar o telefone. — Está resolvido.

— Acho bom você falar pro Victor – sugeriu Agatha. — Pra garantir que ele vai reservar vagas suficientes no acampamento.

— Ah é, vou falar.

Ela devolveu o celular a Agatha e pegou o seu, que estava em cima da ilha da cozinha. Olhou para Natasha e abriu a boca, mas não disse nada. Desta vez, Natasha sustentou seu olhar. Queria que Wanda... Fizesse o quê?
Dissesse que Victor não significava nada para ela?
Convidasse Natasha para dividir o saco de dormir?
Enxotasse Agatha e a beijasse até perderem os sentidos?

Merda.
Sim, Natasha queria que Wanda fizesse tudo isso.

Ela foi a primeira a desviar o olhar, bebendo um gole grande de cerveja.
Meu Deus, precisava de alguma coisa mais forte. Precisava... não sentir aquilo.

Natasha Romanoff Não Está Nem AíOnde histórias criam vida. Descubra agora