• Capítulo Dezoito

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WANDA FICOU ADMIRADA ao ver Allie abraçar Natasha. Fazia uns dez minutos que tinha saído para dizer à filha que a mãe de Grace tinha ligado para sugerir uma festa do pijama, mas viu as duas conversando, a garotinha olhando para Natasha ansiosa, curiosa e fascinada.

Allie estava com o celular dela nas mãos e começou a andar ao redor da velha bacia para pássaros, que Wanda tinha a intenção de limpar fazia tempo, mas, que no final das contas, acabava sempre no fim da lista de prioridades.
Agora estava feliz por não ter limpado.

Havia certa beleza naquela bacia cheia de folhas, e Natasha estava ajudando Allie a enxergá-la. Ou talvez Allie já tivesse visto e Natasha fosse apenas uma guia. De qualquer maneira, perdeu o fôlego ao ver o processo se desenrolar, Allie se curvando e se contorcendo com o celular, Natasha observando em silêncio com uma expressão que Wanda só podia descrever como orgulhosa.
Então… Allie a abraçou.

Nos últimos dois anos, ela não demonstrava afeto com facilidade. Adorava se deitar com Wanda na cama à noite, bem pertinho, se aconchegando e conversando, quando seu corpo estava menos alerta e pronto para descansar. Durante o dia, no entanto, estava sempre agitada, sempre em movimento, falando, observando, imaginando, e, quando Wanda se aproximava para abraçá-la, Allie dava um tapinha nas costas da mãe e saía em disparada como o Mercúrio para a próxima atividade. Ela mal deixava que Agatha ou Yelena a abraçassem.

E, no entanto… Wanda sentiu um nó na garganta ao ver a filha se abrir para o mundo e o mundo… retribuir. Respirou fundo, estremecendo, quando as duas se separaram, balançou a cabeça para aliviá-la e limpou a umidade repentina sob os olhos

— Ei, Coelhinha! – chamou.

Allie se virou e olhou para a mãe.

— Oi?

— A Grace ligou. Quer dormir lá?

— Quero!

A filha correu até ela, deixando Natasha esquecida, mas ao subir os degraus da varanda ela se virou.

— Obrigada – disse.

Natasha sorriu.

— De nada.

Então Allie correu para dentro, os chinelos batendo alto no piso de madeira. Wanda viu a filha desaparecer ao entrar no quarto e se virou mais uma vez. Natasha estava andando pela grama, o corpo esbelto fazendo movimentos graciosos, como se andasse sobre a água, e não sobre a terra.

— Cadê a Agatha? – perguntou Natasha ao se aproximar da varanda.

— Foi embora. Ela e o Bruce tinham combinado de assistir a um filme.

Wanda pode até ter imaginado, mas seria capaz de jurar que os passos de Natasha se detiveram por uma fração de segundo ao ouvir a notícia. Mas ela logo continuou, até parar ao seu lado na varanda. O estômago de Wanda estava embrulhado, e ela não conseguia entender por quê. Podiam ser tantas coisas. Victor, o acampamento, Yelena… Ou Natasha.

Podia ser Natasha, parada bem ali, olhando para ela com uma expressão suave, e o fato de saber que, se encostasse o rosto no pescoço dela, sentiria cheiro de chuva e grama.
Podia ser Natasha e a casa atrás delas, que logo estaria vazia.
Wanda percebeu, ansiosa, que devia uma bebida à mãe de Grace.

Queria que Natasha ficasse. Queria ficar sozinha com ela. Sabia que era burrice, que aquilo não levaria a lugar nenhum, mas desde o beijo no spa – não, antes disso, muito antes disso – ela não conseguia parar de pensar nela. E não era só uma coisa física. Algo em Natasha fazia Wanda sentir aquele nó na garganta, ter vontade de contar todos os seus segredos, querer estender a mão e limpar o seu rosto com o polegar como uma namorada faria. Quando estava com ela – e até quando pensava nela –, Wanda se sentia jovem e ousada, livre como não se sentia desde antes do nascimento de Allie.

Natasha Romanoff Não Está Nem AíOnde histórias criam vida. Descubra agora