O corpo de Abigor em sua forma humana começou a tremer, seus olhos brilharam como líquido fervente. A pele bronzeada foi acinzentando. Seus cabelos caíram fio por fio, e seu rosto adquiriu uma expressão aterrorizadora com dentes pontiagudos sorrindo com escárnio. Sua altura quase dobrou, e, de suas costas largas, começaram a brotar longas asas negras e deterioradas. Tudo em segundos que pareceram eternos a Edith, pela vista da metamorfose monstruosa que o demônio sofria.
O cântico infernal tornou-se mais alto e mais forte, retumbava em toda a construção. Os anjos já não conseguiam chegar perto do círculo demoníaco. Edith olhava para Abigor, percebendo que aquele um dia foi o pretendente de Laura. Ela sentia o sangue escorrendo na perna e o corte latejante, enquanto Nathan já estava em seu processo de cura acelerado.
O demônio esticou as asas com um rugido estrepitoso para os céus. Alguns dos vitrais explodiram, e o círculo onde ele estava pegou fogo. Os pelos do corpo de Edith arrepiaram-se quando o ser olhou diretamente para ela. Nathan se posicionou protetoramente na frente de Edith.
E então Abigor atacou na mesma hora que Nathan, a toda velocidade sobre-humana. Ao chocarem-se, o estrondo quebrou o restante dos vitrais que restavam e ainda lançou às paredes anjos e demônios, além dos destroços que os rodeavam. Os únicos que se mantiveram em pé foram os demônios do círculo. Edith caiu no chão duro, sua cabeça gritava de dor. Abigor era forte e rápido, aplicava golpes poderosos sobre Nathan, o qual era gracioso, porém poderoso. Seus olhos escarlates brilhavam enquanto defendia e atacava ferozmente. Girava e atacava com todo seu poder.
O corpo de Edith estava dormente, mas ela se obrigou a levantar. Paz era a única coisa que ela queria. O cântico foi ficando mais alto. Abigor rugiu e socou o rosto de Nathan com toda sua força. Nathan não conseguiu se defender a tempo e foi lançado ao altar, caindo como um boneco. Edith gritou. Nathan sentia dor. Não era algo que ele houvesse experimentado muitas vezes em sua vida, mas agora sentia. Seu corpo ardia, e a última coisa que viu antes de fechar os olhos foi uma Edith furiosa gritando com Abigor.
O demônio virou-se para Edith, soltando um rosnado que parecia uma risada, o que tornou o som pior do que unhas raspando um quadro negro. A pulseira na mão da jovem tornou-se sua espada novamente, e o poder que ela emanava tornou-se maior. O demônio fixou os olhos acobreados nos de Edith. Então avançou rosnando. Ele não entendia o que ela tinha, o poder que ela emanava pelo fato de ter ferido Nathan.
Ela tentou desferir golpes que seriam fatais aos mortais. Mas aquele demônio não era humano. Nem com todas as suas vidas passadas, nem com suas memórias, nem com toda sua força estava conseguindo derrotar o enorme demônio de guerra. E ele foi mais rápido no momento em que Edith desferiu outro golpe, com círculos concêntricos, alcançando voo e agarrando os ombros de Edith com as longas garras afundando na carne. Ela gritou de dor e tentou se desvencilhar, o que lhe causou mais dor. Nathan tentava levantar-se, mas seu corpo entorpecido não respondia.
Tudo o que ele mais queria era levantar e salvar Edith. Ele só a via sendo arrastada cada vez mais alto por Abigor. Ele via os servos de Khazra em volta do círculo. Via os anjos voando e atacando. Via o círculo infernal quase completo. Ele também viu uma mão se estendendo para sua direção. Grendow. Sangrando, machucado, o anjo de olhos azuis ofereceu-lhe ajuda, e Nathan soube que finalmente o anjo confiava nele. Então, segurou com força a mão estendida para levantar-se. Os dois menearam a cabeça levemente, como um sinal de companheirismo.
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Asas & Dentes | CONCLUÍDO
FantasyE quando você simplesmente não sabe em quem confiar? Quando todos ao seu redor escondem segredos obscuros? Edith acreditava que todos tinham seus segredos, mas alguns eram muito além do comum. Sabe-se que o destino sempre prega peças e em seu caso m...