Crônicas de Ouro e Prata: As correntes de Âmbar

Capítulo 6

"Dia seguinte após rei Andrew II trazer uma dama da corte como acompanhante ao Templo Dourado, Príncipe Anthony, irmão e conselheiro do rei, é visto entrando no bordel Casarão das Damas. Não há um nessa família que salve!" — Jornal 'Vozes da Corte'

❖

Mabella não conseguiu dormir naquela noite. Seus pensamentos sempre voltavam para o relatório contendo o nome dos filhos do rei, primeiramente porque era quase inacreditável a quantidade de filhos que aquele homem havia conseguido ter e julgando por Andrew e Ambrose, a prole não era das melhores. Mas Anneliese? Mabella não estava de fato surpresa por ela ser uma princesa, já que os gestos de Liese sempre foram tão delicados, ela estava surpresa por ela estar em um bordel.

Durante o trabalho, Mabella se sentiu grata por ter tanto serviço que mal conseguiu se esbarrar com alguém conhecido. Ela ainda precisava pensar no que faria. E a  organização da festa proporcionada por lorde Gideon da corte Prata que aconteceria na noite seguinte havia vindo a calhar. O filho dele havia completado 20 anos e nada mais nobre que convidar vários nobres para assistir o filho raquítico se jogar nos braços de uma dama da corte.

Quando chegou na Fortaleza Dourada, Mabella tentou repetir mentalmente o mantra que havia criado especialmente para aquela manhã. Mesmo que Andrew arrancasse as roupas e dançasse nu com milhares de serviçais batendo tambor, ela iria ignorá-lo e focar em seu trabalho.

Madame Liz havia sido clara: — Nada de atraso, você vai ajudar a servir as bebidas essa noite.

Se fosse sincera, ela odiava quando tinha que ver com seus próprios olhos o que acontecia no Casarão, mas um dos garçons havia quebrado o braço ao ser perseguido por uma galinha nas ruas de bronze.

E de fato, Andrew havia sido inconveniente em todo momento, tentando irritá-la ou simplesmente atrapalhando seu serviço. Mas Mabella se contentou em pensar nele como uma mosca irritante, enquanto limpava, organizava, arrumava papéis e retornava nos lugares que havia limpado para se certificar de que Andrew não havia feito mais uma de suas criancices.

Quando anoiteceu, Mabella abriu um sorriso satisfeito, ao encontrar o quarto de Andrew, o último lugar que precisava conferir, limpo e sem a presença do dono. Aquilo era bom demais para ser verdade, ela partiria para casa sem ouvir as chateações dele. Foi o que ela pensou até encontrá-lo no corredor, com um sorriso perverso nos lábios.

— Minha escrava se esforçou bastante hoje. — Andrew ironizou, quando ela tentou passar por ele. — Quase acreditei que não é a preguiçosa de sempre.

Ela deu um passo e, vendo-o se mover na mesma direção, gritou: — Não! Nem pensar. Eu fiz a minha parte, majestade. Se me der licença eu preciso ir.

— Por que a pressa? — Andrew perguntou em um tom lento.

— Hoje é um dia importante no Casarão.

— Todos os dias não são? Pra vocês, mortas de fome? — Mabella se contentou em revirar os olhos.

— Hoje é aniversário do filho herdeiro do Lorde Corte de Prata. Muitos nobres estarão lá... Então precisam de mim

Ela explicou, torcendo para que Anthony aparecesse por ali e Andrew fosse atormentar seu irmão e se esquecesse dela.

— Precisam de você?  — Andrew cruzou os braços contra o peito, seus olhos se estreitando em fendas.

— Sim, vai estar bem cheio. — Ela repetiu. — Agora se vossa majestade me der licença, eu realmente preciso ir e já passou do meu horário.

Ela se curvou, da maneira mais desdenhosa que pôde, antes de se esquivar dele e seguir seu caminho pelo corredor com os passos mais apressados que ela era capaz.