Capítulo 46

36 4 2
                                    

"Fortaleza Dourada cedia baile para nova invenção do velho caduco e atrai olhos de todos os reinos!" — Jornal 'Vozes da Corte'

Ambrose parecia ver a alma de Verona.

O príncipe encarou chocado, mas imediatamente reorganizou sua expressão para uma máscara vazia, causando uma reviravolta ao estômago de Verona.

Era óbvio que ainda estava irritado, foi uma péssima ideia, concluiu Verona.

Dias antes, depois que June a deixou com um saco de moedas e uma montanha de dúvidas, Verona tinha vergonha de admitir que surtou.

Só um pouquinho.

Demorou para conseguir organizar seus pensamentos e mais ainda para criar coragem para ir até Madame Liz.

Mas foi. A raposa deu para a madame o dinheiro que devia. O que deveria ser a dívida de uma vida parecia estranhamente leve naquele saco.

Aquelas moedas compraram sua liberdade e ainda sobraram.

Madame Liz ficou chocada, talvez mais que Verona. A raposa não disse de onde veio o dinheiro, mas suspeitava que a madame sabia.

Liz parecia preocupada e até decepcionada, mas aceitou com cordialidade.

Verona não tinha malas para arrumar, tudo o que tinha era do Casarão. Discretamente, roubou alguns rolos de pergaminho, penas, uma capa e sua caixinha de economias.

Foi ao quarto em que cresceu. Parecia tão vazio sem Liese e Mabella... ficaria ainda mais agora. Se lembrou de breves momentos de sua infância, atrapalhando enquanto as cortesãs mais velhas se arrumavam, pregando peças nos funcionários.

Esm agora estava de partida.

Despediu-se dos amigos, em especial Loren, sua outra metade e Myra.

E, quando se viu parada do lado de fora, Verona enlouqueceu. Caiu sentada no chão, tentando controlar a respiração e se perguntando o que faria. Ela quase retornou, mas se impediu antes que o fizesse.

Queria que Mabella estivesse ali.

Demorou, mas Verona conseguiu se forçar a ser racional. Sobraram algumas moedas, poderia encontrar uma hospedaria e ficar até criar coragem de ir ate June.

E foi o que fez. Receosa, mas firme, Verona perguntou pelas ruas, onde poderia encontrar uma hospedaria e foi direcionada a um velho casebre.

Era feio e precário, nada comparado ao luxo que Madame Liz sempre proporcionou.

O homem que lhe atendeu olhou-a de formas que Verona não gostou e, por via das dúvidas, quando foi deixada no quarto, puxou uma cômoda para barrar a porta.

A cama era puída e havia mofo nas paredes, as tábuas do chão rangiam e as janelas estavam sujas. Mesmo assim, Verona nunca se sentiu tão livre.

Sabia que deveria estar apavorada, mas começou a rir, incapaz de parar.

Não havia mais dívida com o Casarão, nem correntes em pescoço. Não havia clientes agressivos, lágrimas escondidas pelo travesseiro e noites mal dormidas.

Passou alguns dias naquela pousada. Passeou pelas ruas de Bronze, comprou alguns vestidos usados, uma mala e até se arriscou na Corte de Prata.

Mas sabia que não poderia enrolar para sempre. Seu pequeno estoque de moedas estava chegando ao fim. E ainda tinha seus investimentos.

Então, seguindo as instruções de June, foi para a Corte de Ouro.

Achar o Palacete Lafayette não foi difícil e June parecia ter deixado os guardas avisados de sua possível presença, pois foi guiada para um gigantesco salão de entrada.

Crônicas de Ouro e Prata: As correntes de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora