"A convenção promete ser um sucesso. Aquele velho louco ao menos sabe como dar uma festa" — Jornal Vozes da Corte
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Ser convidada para a Convencão das Invenções não era algo que Mabella se preparou.
Ela queria, mais que qualquer coisa, a oportunidade de ver em primeira mão Marquês Jean expondo sua invenção para o mundo? Com certeza.
Mas qual não foi a surpresa da fada quebrada ao se deparar com Andrew na porta de seu escritório, parecendo tenso mas com um sorriso nos lábios, perguntando-a se ela poderia acompanhá-lo no dito baile.
Mabella hesitou. A perspectiva de estar em um evento recheado de nobres não lhe soava como algo propício, depois de todas as fofocas com seu nome, mas a oportunidade de poder ir a convenção, ver o resultado de seu proprio trabalho, ter contato com outros inventores e suas criações, soava indescritível.
Ela aceitou, surpresa com o sorriso jovial que recebeu do rei em troca e mais surpresa ainda quando um pequeno grupo de serviçais interrompeu seu trabalho, guiando-a para um quarto elegante e se oferecendo para arrumá-la.
Uma delas chegou com uma caixa, estendendo-a para Mabella e alegando ser um presente do rei para a ocasião. Era um dos vestidos mais bonitos que Mabella ja viu, feito de um tecido verde escuro bordado com fios de ouro e cravejado de esmeraldas e olhos de tigre.
Era lindo, mas Mabella sentiu-se estranha vestindo-o. Era pesado demais, o corpete restringia seus movimentos e as saias eram grossas e cheias de camadas. Ela sentia falta de suas calças confortáveis e blusas largas.
Quando ela chegou para se reunir ao rei, Andrew, Anthony e Liese já estavam lá, de braços dados, enquanto Andrew estava de frente para eles, apoiado na lateral da carruagem.
Mabella sentiu o ar sendo tomado de seus pulmões ao se deparar com o rei. Ele sempre foi um homem bonito, ela nunca teve como negar isso, mas naquele momento, ele parecia brilhar.
As vestes bege eram belíssimas, feitas de um tecido nobre e perfeitamente moldadas ao corpo do rei, os bordados em ouro brilhavam a luz dos archotes, tão dourados quanto seus cabelos.
Ele parecia cada centímetro dos príncipes encantados das histórias infantis.
Isso é, até o momento em que ele abre a boca.
Ele se virou para ela, piscando algumas vezes e, por vários momentos, permaneceu em um silêncio pesado.
Mabella cruzou os braços, pronta para um comentário que a irritaria até o amago.
— Você parece... — Ele começou, hesitante. — Bem.
Aquilo a fez erguer as sobrancelhas, surpresa. Era um elogio genuíno.
Durante o percurso Mabella não conseguiu conter seus pensamentos conflituosos. Não era fácil ver sua invenção exposta e não receber crédito por ela, mesmo que fosse ela quem tivesse preferido assim. Lorde Jean teria revelado seu nome como inventora se Mabella assim quisesse, mas ela temia que sua brilhante ideia fosse menosprezada apenas pelo fato dela ser uma mulher mal nascida.
Então ela se convenceu de que aquele ainda não era o momento.
Contudo, nada foi mais satisfatório que ver os olhos dos nobres e inventores brilhando quando um modelo entrou pelo salão deslumbrante da convenção exibindo sua peça mecânica.
— Devo admitir que estou impressionado. Eu poderia jurar que ele era apenas mais um louco. — Andrew sussurrou em seu ouvido, fazendo um estranho frio satisfatório percorrer sua barriga. Ele havia gostado do trabalho dela, mesmo que não soubesse a quem de fato pertencia.
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Crônicas de Ouro e Prata: As correntes de Âmbar
RomanceDizem que a beleza modesta, longe dos olhos de qualquer um, é aquela mais linda. Um pensamento que não se encaixa no Reino de Âmbar. Um reino onde o que é bonito deve ser coberto por luxo, tornando-se deslumbrante. Ouro, riqueza, nobreza, eventos so...