Cartas de uma Rainha de Gelo - Parte 1

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Aviso: Nesse capítulo traremos uma serie de temas bastante sensíveis, que podem gerar gatilhos em algumas pessoas.
Temas esses como: Abuso psicológico, tortura psicológica, traição, abuso parental, ansiedade social, complexo de culpa e abuso de poder.

Depois do comportamento atroz do único filho que seu casamento miserável trouxe, o Rei Andrew I exigiu que ele fosse enclausurado dentro de seu armário para que refletisse sobre suas palavras.

Seu sangue ou não, ele jamais aceitaria ser repreendido ou questionado daquela maneira.

Depois de algumas horas em que o garoto estava em sua punição, o rei decidiu ir até os aposentos do príncipe. Ele não sabia o que havia feito ir até lá, mas queria respostas.

Andrew havia sido uma criança quieta. Tímido, silencioso e, muitas vezes, frágil. Nunca grandioso, jamais se destacando em aulas, mas também não ruim o suficiente para chamar atenção negativa.

Andrew I não convivia muito com este filho em particular, mas nunca o viu se comportando desta maneira, ele costumava ser sempre alvo dos irmãos, não o contrário. A explosão pegou de surpresa, e pelos olhares da mesa, não apenas ele.

Quando ele adentrou o quarto do Príncipe, não esperava que a resposta para todos os seus questionamentos estivesse repousando na escrivaninha de Andrew.

Era uma caixa pequena, feita de mogno, com ursos esculpidos ao redor da madeira. Andrew I não sabia o que esperava ao abri-la, mas certamente não eram cartas. Várias delas, todas dobradas cuidadosamente e nenhuma delas havia sido selada. Uma pequena fita de cetim vermelho as envolvia mantendo-as em ordem.

Curioso, Andrew desamarrou a fita e abriu a primeira.

"Meu nobre senhor Pai,

A viagem foi agradável. Os ventos nos favoreceram e o navio era confortável. Fui recebida por uma comitiva grandiosa e tive a surpresa de ser prestigiada por meu prometido. Infelizmente, não tive muito tempo em sua companhia, mas ele me pareceu bastante galante.

Também fui introduzida a minhas novas damas de companhia, entre elas, Lady Marian. Ela me tratou com gentileza, me ajudou a me instalar e me contou bastante sobre a cultura de Âmbar, coisas que não achei nos livros que li para me preparar. Sinto que posso ter feito uma amiga.

Mas o motivo de eu realmente precisar escrever tudo isso é porque estou assustada. O jantar foi um desastre, o senhor teria odiado meu comportamento. Eu não esperava que tivessem tantas pessoas olhando pra mim. Lordes do conselho, a rainha mãe, meu prometido, e alguns servos. O ambiente ficou tão minúsculo, e eu quis me esconder.

Quando Andrew perguntou sobre minhas histórias em Turmalina eu paralisei. Imagino o quão patética eu devo ter ficado em frente a rainha mãe com o rosto ruborizado, que o senhor diz não ser elegante, e me esqueci como falava, da mesmíssima forma que sempre fiz, mesmo que o senhor fornecesse incontáveis professores pra tentar concertar meu defeito. Eu sabia que se abrisse a boca, tudo que poderiam ouvir eram repetições e palavras incompletas, então eu pedi licença e corri até o banheiro. Chorei por alguns longos minutos e não retornei para o salão. Como eu poderia? Eu estava sendo mal vista? As pessoas estavam comentando sobre mim? Será que suspeitam da minha fraqueza? Eu não quero envergonhá-los.

Mais tarde eu tentei explicar o que houve para Lady Marian, contei que chamam de Gagueira o defeito que possuo. Sei que eu não devia confessar minhas fraquezas a estranhos, entretanto ela me confortou, me disse que normalmente tenho a fala fluída com excessão das vezes que fico nervosa. Eu quase chorei, quando é que não estou nervosa? De toda forma, ela insistiu que eu me mantivesse em silêncio sempre que necessário, afinal, ela não queria que eu fosse a aberração de toda corte e, principalmente, que o rei ouvisse e risse de mim. Meu coração se aqueceu com esse gesto."

Crônicas de Ouro e Prata: As correntes de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora