💛 Capítulo 8

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~ Langa Hasegawa

  O fim de semana se passou bem rápido, e eu e Reki só conversamos por mensagens. Ele está um pouco desanimado com o início das aulas, é segunda e acabam as férias de verão hoje, infelizmente. Após me arrumar, sento na mesa e vou tomar o café da manhã, minha mãe já estava na mesa comendo.

- Bom dia - digo assim que me sento.

- Bom dia filho - ela diz, percebo que ela não está com o mesmo sorriso que as outras manhãs, sua expressão está meio séria, mas resolvo não perguntar por enquanto. - Animado com o início das aulas?

- Até que sim. Como vai o trabalho?

- Então... precisamos conversar - ela me olha nos olhos, mais séria do que nunca. Me mantenho calado esperando ela continuar. - Estão com problemas no Hospital Houston, no Canadá. Parece que a maioria dos Centros Médicos de lá estão em crise. Disseram que é algum tipo de infecção que surgiu há pouco tempo, e estão precisando de muita ajuda médica...

Ela permanece séria, me encarava enquanto falava. Sua voz estava baixa, como se algo ruim tivesse acontecido ou algo do tipo.

- ...me ofereceram um trabalho lá. Serão muitas vidas salvas se eu for e...

- Tudo bem - a interrompi, poupando uma explicação ainda maior. - Eu entendo.

- Eu sei que vai ser difícil pra você, ainda mais agora que arrumou alguns amigos, mas é necessário. Eu prometo que será melhor.

Eu abaixo a cabeça, sem dizer nada. Ela se aproxima e coloca a mão no meu rosto, diz alguma coisa mas não pude ouvir direito.

- Quando vamos? - finalmente pergunto, após alguns segundos de silêncio.

- Daqui alguns dias, eu suponho.

- Tá bom... tá na hora, preciso ir.

Acabo saindo de casa sem nem ao menos comer, a notícia me pegou de surpresa. Eu realmente não queria voltar pro Canadá, pelo menos não agora. Fazia poucos meses que havíamos saído de lá, e eu estava feliz aqui. Eu finalmente conheci pessoas as quais eu gostava, e muito.

- Ei, cara - tomo um susto com Reki que chega e me puxa para um abraço. Tinha chegado na escola tão distraído que nem me dei conta de que ele já havia chegado. - Você tá bem? Tá aí todo esquisito.

- Ah... relaxa - resolvo não falar nada ainda, preciso me preparar pra isso.

- Certeza? Qualquer coisa só me falar tá, tô aqui pra isso.

- Tá tudo bem, obrigado.

- Fechou então. Aliás, quase fui de base hoje mais cedo.

- Me conta - digo rindo enquanto ele começa a contar mais uma de suas "aventuras", esse garoto é tão doido que quase é atropelado na faixa de pedestre enquanto o sinal tá vermelho.

  Vamos pra sala e então a aula começa. Estava um pouco chata, e então ele juntou nossas carteiras e passamos um bom tempo conversando. Foi aí que eu percebi, não era que eu não queria sair do Japão, eu só não queria sair do lado dele. Reki é a melhor pessoa que eu conheci em todos esses anos, e eu não queria perdê-lo.

- Se liga - ele diz me mostrando uma manobra que ele criou com o skate de dedo. - Muito foda, agora meu sobrenome é pika das galáxias.

- Caramba - eu digo impressionado com o que ele havia me mostrado.

- Vou tentar com o skate mais tarde. Essa manobra é tão fodástica que eu vou ensinar pros nossos filhos daqui a 10 anos.

  Meu coração parou. Nunca tínhamos feito planos antes ou falado de futuro, e doeu ao lembrar que não estarei aqui daqui a 10 anos. Não estarei aqui daqui a alguns dias. Ele precisa saber disso.

- Ei, Reki... - inicio a frase quando o sinal toca. Minhas mãos começaram a tremer e minha voz falhou. Eu não sabia o que dizer. Ele estava me olhando esperando eu falar. - Quer saber, deixa pra lá.

- Então tá.. - ele diz se levantando, e então saímos para o intervalo.

- Quer ir pra minha casa depois da aula? Podemos fazer algo.

- Claro.

  No fim da manhã, pegamos nossas coisas e saímos do colégio de skate em direção à minha casa. Postamos nossa corrida de lei, e dessa vez ele ganha. Entramos em casa e minha mãe estava lá, havia chego mais cedo. Vou até o quarto deixar nossas coisas e Reki fica na cozinha me esperando, enquanto minha mãe termina o almoço.

- Minha comida não é das melhores, mas dá pro gasto - ouço minha mãe dizer à Reki, que em seguida ri. Não ouço mais o restante da conversa até retornar à cozinha.

- E então meninos, - minha mãe começa enquanto comemos. - o que irão fazer hoje?

- Provavelmente vamos andar de skate, como sempre - Reki responde, todo animado.

- Isso é bom, assim podem aproveitar os últimos dias juntos. - ela diz, e então Reki me olha, confuso e surpreso ao mesmo tempo.

- Como assim? - ele pergunta nos olhando, não sabendo do que se tratava.

- Ué, Langa não te contou? - minha mãe diz, e então a olho como forma de reprovação, logo ela entende. - Ah...

- Contou o que? - ele continua sem entender, e eu sem dizer nada. Ficando em silêncio por alguns segundos, um silêncio super constrangedor.

- Vamos lá fora, assim conversamos. - digo a ele e então nos levantamos. Minha mãe olha pra mim preocupada e sussurra um "desculpa", e eu sussurro de volta "tudo bem". Eu acabei não sabendo como lidar com a situação, por isso resultou nisso.

  Saímos e eu fecho a porta, ele fica parado me olhando, sem saber o que eu ia dizer e eu sem saber por onde começar.

- Minha mãe... recebeu um trabalho no Canadá. - eu digo e dou uma pausa, esperando alguma reação dele para continuar. - Vamos ter que nos mudar, daqui uns dias.

  Ficamos em silêncio, ele não disse nada e eu também não. Ele parecia estar tentando entender aquela situação toda. Me sentia um pouco culpado por não ter contado assim que cheguei à escola hoje.

- Por que não me contou antes? - ele finalmente disse, me olhando nos olhos com uma expressão diferente, de decepção e ao mesmo tempo tristeza.

- Eu só recebi a notícia hoje pela manhã. - o silêncio voltou a estabelecer no local, ele abaixou a cabeça e eu segurei na mão dele. - Me desculpa.

Meu Maior Desejo (Sk8)Onde histórias criam vida. Descubra agora