💙 Capítulo 11

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~ Langa Hasegawa

  Se passaram 1 semana desde que fui embora. Minha mãe está trabalhando bastante, então estou meio sozinho. Reki e eu nos falamos por mensagens todos os dias, mas não é a mesma coisa. Eu sempre penso se estar longe dele por tanto tempo será ruim, e eu sei que vai. Mas não tenho escolha.

  A essa hora, Reki deve estar em casa. Está meio tarde e não acho que ele esteja na pista. Assim que olho para o meu celular para checar a hora, vejo uma ligação perdida dele, então retorno.

- E aí, bebê. Saudades? - meu coração dispara ao ouvir a voz dele.

- É claro.

- Também sinto a sua. Todos os dias pra falar a verdade. Tá sozinho em casa?

- Sim, minha mãe não chegou ainda, aí resolvi ler um pouco, por isso não vi sua ligação. Não é coisa minha mas não tem muito o que fazer aqui. Vou me acostumar com o lugar e aí depois irei procurar um emprego.

- Relaxa, vocês acabaram de chegar. E aliás, você tá no Canadá agora. Por que não volta com o snowboard?

- Não sei se estou pronto, sabe, depois que meu pai morreu eu nunca mais...

- Deve estar sendo difícil voltar e se deparar com todas as lembranças dele.

- Sim, muito.

- Olha só, pra tudo o que você precisar, não esquece, tô aqui.

- Obrigado, você também. Aliás, como está indo a escola? E os meninos? Miya...

- Tá normal, sem nada de novo. Na real, sem você tá um saco. Você era o único que me fazia querer levantar às 6 da manhã todos os dias.

- Haha, não quero você faltando aula, hein.

- Vou tentar mas não prometo nada - ele ri. - Preciso ir agora, minha mãe tá me chamando. Até mais.

- Tchau..

   Eu desligo o celular e o tédio retorna. Começo a pensar que todos os dias serão assim, chatos e sem sentido. Comecei na nova escola mas como eu não falo muito acabei não fazendo amigos. Claro que tenho o resto do ano pra isso mas mesmo assim, sei que não será igual no Japão.

~ Reki Kiyan

Se passou mais um tempo desde que Langa foi embora, só não sei dizer quanto. Sinto que estamos nos afastando aos poucos. A verdade é que, como sabemos que ele não retornará a Okinawa, é inútil mantermos contato. Isso está servindo apenas para causar mais dor aos dois.

  Quando eu o abracei naquele dia, algo em mim morreu, porque senti que seria a última vez. E foi.

- Ei, Rekii - Miya me chama, me despertando do meu transe. - Você perdeu, e feio. O que tá havendo com você?

Por alguns minutos esqueci de que estávamos em uma corrida na pista. Me perdi em meus pensamentos, e pela primeira vez na vida, andar de skate não é tão legal.

- É por causa do Langa, não é? - ele insiste após eu ignorar sua pergunta anterior. Eu suspiro e olho para baixo.

- Acho que sim.

- Aí, não tem como você ficar aí todo bobo por causa dele, até porque ele foi embora.

- Que ele foi embora acho que já percebi.

- O que eu tô tentando dizer é: não tem como a gente mudar isso. E ele não vai querer que você deixe de correr por causa dele, isso eu tenho certeza.

- Tem razão, eu acho..

- Eu sei que tenho, agora vamos correr de verdade.

Começamos outra corrida, e dessa vez eu ganho por milímetros, o que deixa Miya furioso. Começa a escurecer então nos despedimos e eu vou embora. Tomo um banho e deito na cama. Inevitavelmente, começo a pensar no Langa. Ele está em todos os lugares, menos ao meu lado. E isso dói. Sem que eu perceba, as lágrimas começam a correr pelo meu rosto e o desespero de não ter ele comigo toma conta de mim. Era como se eu tivesse perdido uma parte de mim.

Resolvo ligar para ele, eu precisava ouvir sua voz, nem que fosse pela última vez.

- Oi, Langa...

- Reki, tá tudo bem? Você.. tá chorando?

- Nós precisamos conversar.

- Claro, o que foi? Aconteceu alguma coisa?

O dor e o silêncio tomam conta de mim por alguns segundos, e então volto a falar.

- Mesmo que eu não goste disso, eu acho que você vai ser mais feliz.. eu quero que você seja mais feliz. Então, só por um minuto, eu quero mudar minha mente, porque isso não parece certo para mim. Eu quero ver você sorrir mas, saiba que isso significa que terei que partir.

- Como assim?

- Não podemos continuar assim, mentindo para nós mesmos. Não estamos bem e manter contato só está piorando tudo.

Ficamos em silêncio e ouço um barulho do outro lado, presumo que ele esteja chorando, o que parte meu coração.

- Eu entendo... Reki, obrigado por tudo.

  Ele diz isso e então desliga. Eu desabo, começo a chorar e não consigo mais parar. Meu peito doía e o que eu sentia era que havia levado uma facada no peito. Tranco a porta do quarto e sento no chão, me encolho naquele piso gelado e volto a chorar como nunca. As horas se passam e eu permaneço ali. Minha mãe me chama para o jantar mas eu ignoro, estava sem fome.

Olho para o relógio. São 4 da manhã. Eu não consigo desligar meus pensamentos, esperando que essas memórias desapareçam. Mas elas nunca se vão. Acontece que as pessoas mentem. Elas dizem: "apenas estale os dedos", como se fosse fácil assim eu superar você. Eu só preciso de um tempo.

Meu Maior Desejo (Sk8)Onde histórias criam vida. Descubra agora