ESTAVAMOS NA ESTRADA fazia uns oito milhões de anos - pelo menos era o que parecia. Meu irmão, Steven, dirigia mais devagar que nossa avó. Eu estava sentada no banco de trás, minha irmã, Belly estava no passageiro a frente com os pés no painel, enquanto minha mãe ia ao meu lado.Belly e Steven pareciam discutir sobre algo besta, como sempre. Eu estou entretida com a vista pela minha janela enquanto ouvia qualquer música em meus fones, mas tive que os tirar quando a voz de Belly e de mamãe ultrapassaram o volume máximo que meu celular suportava. As duas tinham vozes terríveis, e Steven balançou a cabeça daquele jeito intragável dele.
Por mais que eu implicasse com Steven, na verdade não me importava muito com a lerdeza dele. Minha vó sempre disse que eu e ele éramos milagrosos, já que minha mãe estava grávida de quatro meses quando se casou com nosso pai, e a família tinha seus preconceitos, ela só contou depois disso, vovó ainda chora ao nos ver e que não acreditava que tinha saído gêmeos tão fortes e saudáveis. Ainda não acredito quando me conta essa história, quatro meses e duas crianças no útero, mamãe deveria estar enorme, mas papai sempre falou que no fundo todos sabiam, só preferiam que não, enfim.
Eu adorava aquela estrada, aquele momento. Ver a cidadezinha de novo, o restaurante de frutos do mar, o campo de minigolfe, as lojas de surfe... Era como voltar para casa depois de ter passado muito tempo fora. E o verão estava cheio de promessas e possibilidades. Conforme nos aproximávamos da casa, eu sentia a vibração familiar no peito. Estávamos quase chegando.
Abaixei o vidro do carro e deixei que todas aquelas sensações entrassem. O ar tinha o mesmo gosto e o mesmo cheiro de sempre. O vento que deixava meu cabelo pegajoso de maresia, a brisa salgada do mar... tudo parecia igual. Como se tivesse ficado à minha espera.
Senti meu celular vibrar e vi o nome "Dylan" brilhar na tela, revirei os olhos recusando. Tudo o que eu menos queria era lidar com ele agora.
Suspirei olhando para Belly pelo espelho, parecia tão obsoleta com a vista quanto eu.
━━ Está pensando no Conrad, é? ━━ perguntei, debochada, ela apenas respondeu que não, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Minha mãe enfiou a cabeça entre os dois bancos da frente.
━━ Belly, você ainda gosta do Conrad? Pelo andar da carruagem, achei que tinha rolado alguma coisa entre você e o Jeremiah no verão passado.
Quem diabos ainda diz "pelo andar da carruagem"?
━━ O quê?! O Jeremiah? ━━ Steven parecia enojado. ━━ O que aconteceu entre vocês dois?
Steven Dramático Conklin.
━━ Nada, deixo o Jeremiah para a Tina. ━━ Ela me lançou um olhar malicioso pelo viro do carro.
━━ Ei! Não sou eu que me apaixono por amigos de infância. ━━ Me defendi. Queria já estar bronzeada, para esconder o rubor.
Minha mãe se recostou de volta no banco traseiro e, em um tom que dava a entender que o assunto estava encerrado que nem a insistência de Steven conseguia reverter, então só disse:
━━ Certo.
No entanto, como Steven era Steven, ele tentou mesmo assim, olhou para a Belly, revisando seu olhar nela e na estrada.
━━ Mas o que aconteceu entre vocês dois? Sério, não tem como largar uma bomba dessas e depois mudar de assunto! ━━ Ele fez uma careta.
━━ Deixa isso pra lá ━━ Belly retrucou me fazendo soltar uma risada.
Conrad e Jeremiah eram filhos da Beck que na verdade era Susannah Fisher, ex-Susannah Beck, e só minha mãe a chamava de Beck. As duas se conhecem desde os nove anos e dizem que são irmãs de sangue.
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𝕮𝖗𝖚𝖊𝖑 𝕾𝖚𝖒𝖒𝖊𝖗
أدب الهواة𝕮𝖗𝖚𝖊𝖑 𝕾𝖚𝖒𝖒𝖊𝖗 | Tudo de bom e melhor acontece quando os Conklin passam os meses de julho e agosto na casa de paia de Susannah, a melhor amiga de Laurel. Susannah tem dois filhos, Jeremiah e Conrad Fisher. Assim, na véspera do aniversá...