Capítulo 1: O sol amou a lua em seu primeiro vento quente...

77 17 53
                                    

#EuSouOCéu

"O céu, que é perfeito, andou jogando em seus olhos o dom do infinito."

Humberto del Maestro


 Céu Azul

Acho que a maneira mais peculiar de um ser humano enfrentar a existência é refletir sobre a primeira coisa que ele encarou ao acordar no mundo. E sabe o mais frustrante? Esse princípio é o médico, mesmo que todos os contos e filosofias gostem de dizer coisas que remetem a algo belo. Você, no seu primeiro dia de vida, não encara seus pais e, sim, um médico que, provavelmente, nunca irá vê-lo novamente. Estanho, não é? Os que seus olhos miram, a primeiro momento, nunca voltarão a se encontrar.

Deprimente, eu sei.

Porém, pare agora, pense comigo e vamos buscar a positividade nesse monólogo. Eu nem sei se realmente nasci, porque parece que apenas acordei em um belo dia e estava assim. Assim é bem relativo. Honestamente, eu acordei sendo bem extenso e azul — isso também é algo a se pensar, porque eu não sou azul em si, as circunstâncias me tornam dessa cor.

Então o que diabos você é?

Olha para cima. Sim, lá para cima — agora se estiver dentro de um quarto, eu não sou o teto. Sou e sempre fui exclusivamente o céu. Eba! Irreal? Sim, mas admito que não é tão legal assim ser o céu. Ser literalmente o céu não, mas viver onde eu estou tem várias vantagens.

— Fim do expediente!— Cantarolei e ri da minha própria fala, quando surgi no jardim das estrelas.

Cientificamente, a Via Láctea é uma galáxia cheia de normas e teorias sobre seu funcionamento que nem os próprios humanos avançaram tanto na descoberta dessas tais anormalidades. Mas o meu lar, onde vivo desde que me lembro, é mais bonito que uma explosão de estrelas. É mais vasto que um infinito e é a razão que não me permite definhar no meu looping profundo de pensar na minha própria existência. E quem foi a primeira pessoa que vi quando comecei a existir.

— Você não deveria estar lá em cima, Céu?— Ouvi a flor de estrela me dirigir a palavra e encarei seu brilho, ponderando com a cabeça.

— Até o próprio Céu merece um minuto de descanso.

— Um minuto que viram horas!— Ignorei com um sorriso a fala da flor e balancei meu corpo.

— Vejo você mais tarde, pontinho brilhante!— Vi suas folhas balançarem furiosamente e ri, colocando as mãos no bolso da minha jardineira cinza.

— Não me chame assim.

— Não se preocupe tanto com o que eu faço!— Rebati docemente e acenei em despedida. — Trago poeira de cometas para você quando retornar.

— É por isso que você é o meu favorito.

Gargalhei alto quando ouvi aquilo e segui meu caminho, embarcando na estrada congelada e assobiando enquanto ouvia meus próprios passos. Passando uma existência inteira no completo silêncio do espaço, você aprende a fazer companhia a si mesmo. Os moradores desse vale de cosmos não têm trabalhos comuns, então fomos criados para sermos solitários. Eu poderia dizer que isso é algo triste, mas nascemos assim e ficaremos dessa maneira até o fim de tudo.

Coloquei minhas mãos atrás do meu corpo e assisti o Sol, tão longe daqui, soltar seus ventos solares e transformar em um espetáculo algo tão simples. Essa bola de fogo exibicionista. Só não reclamo de seu temperamento explosivo, porque é um dos meus desenhos favoritos em meu corpo. Então, revirando os olhos, eu continuo minha rota e desço o vale dos meteoritos.

Céu Azul  • jkk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora