Capitulo 6 :

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Com minha filha feliz, bem alimentada e adormecida em cima da minha cama, beijo sua bochecha. Ajoelhada diante da cama, velo seu sono singelo e manhoso. Até a acordaria para tomar banho, mas prefiro um pé sujo que uma criança acordada querendo tagarelar depois do horário de dormir. Suspiro, sabendo que meu dia não vai terminar calmo e gostoso como foi nosso jantar de garotas, com direito a brinde com suco de uva verde, nosso favorito, como duas ladys que somos.


Sigo pelo corredor do casarão agora silencioso, onde só meu pai já se encontra. Ele está em seu escritório me esperando, para que nós possamos conversar, como me prometeu. E sei que vai ser estressante antes mesmo de começar. Tudo que eu quero é resolver esse impasse sem gerar mais problema e trauma para minha pequena. Com dois toques na porta, anuncio minha chegada, ele está sentado diante do seu computador, lidando com os assuntos da fazenda. Tudo que eu gostaria é de um banho quente e descansar, para fazer tudo igual amanhã cedinho.


Daqui da fazenda para a cidade, onde montei o escritório, gasto praticamente uma hora e meia, o que me faz levar minha filha ainda adormecida no carro quando o sol ainda está nascendo. Seu olhar é silencioso, embora denso, parece vigiar cada ação minha, demonstrando que não será um assunto calmo. Seu humor não parece ser dos melhores, e o meu também não está lá essas coisas.


Carla: Antes de dizer qualquer coisa, preciso frisar mais uma vez que não gostei de ter ido atrás dele, pai. Eu disse que era para esquecer o assunto, eu estou me virando bem sozinha. Agora vou ter de lidar com mais problemas desnecessários que o colocar em nossas vidas logicamente vai trazer!


Demonstro claramente minhas chateações por ter feito o que eu implorei para não fazer. Se dependesse de mim, o pai de Isabella jamais saberia a existência dela. Com o nosso reencontro, tive a certeza de que o mais apropriado é que ele não entre na vida dela. Sei que não é um assunto fácil de engolir, ter de repente uma desconhecida dizendo que tem um elo eterno por causa de uma criança com seu sangue, mesmo assim não justifica sua postura em me acusar de interesseira. Isso eu não admito, ainda mais com aquela grosseria acusatória, sem nem ter me deixado explicar. Me desprezar e me acusar de qualquer coisa, eu supero, mas fazer isso envolvendo a minha filha, não.


Carlos: Fiz o que você deveria ter feito, te disse que se não fosse até ele, eu iria, Carla. Você foi avisada desde o começo, disse que quando ele fosse localizado, iria casar. Não tem por que ficar ofendida — meu pai retruca, firme.



Carla: Não vou casar com ninguém só porque quer, o senhor não pode mandar na minha vida dessa forma. Eu sei cuidar da Isabella muito bem. — Eu me imponho, resistindo à pressão que ele põe no assunto. Eu me sento na poltrona oposta a sua e prendo meu cabelo em um coque alto, para pensar com clareza.


Carlos: Debaixo do meu teto, vai ter que me obedecer. A garota vai ser bastarda o restante da vida?!


Carla: Minha filha não é bastarda, meu pai, nunca mais repita isso! — Eu me aborreço.


Odeio que ele se refira a ela dessa forma. Nossa relação é conflituosa, temos visões completamente diferentes a respeito de muitos assuntos, mas eu sempre estou cedendo aqui e ali e relevando em prol da família, por minha filha principalmente. Mas quanto a esse assunto, chega a ser abuso, é interferência demais.



Carlos: O assunto é um só, Carla. Ou você casa ou vai embora da minha casa. Uma coisa é não saber onde o homem está, agora que sabe não quer? É escolha sua!



Carla: Como? — Franzo o cenho, atônita, imóvel e descrente. Acho que indignada é a melhor definição de como estou me sentindo. Ele já me ameaçou outras vezes com esse assunto, mas nunca me importei muito, jamais pensei que reencontraria o pai da Bella.



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