Capítulo 50 :

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ARTHUR

Apressado, saio do carro diante do casarão escuro. A estrada está parcialmente iluminada pelos postes bem distantes um do outro. Ponho as mãos na cintura, pensando no que fazer se a Carla não estiver aqui, no que farei para encontrá-la. Está tarde demais, e não quero ter vindo à toa. Eu poderia ligar para ela, mas tenho certeza que a Carla não vai me atender.

Arthur: Carla! — chamo com as duas mãos ao redor da boca. ― Carla!

Espero alguns segundos, para ver se haverá alguma resposta, mas o casarão se mantém escuro. Ela não tem carro, não há nenhum veículo aqui estacionado, então não tenho como saber se veio para cá ou não.

Arthur: Carla! Aparece!

Repito o ciclo, a chamando mais alto, para ver se me escuta melhor, até que literalmente uma luz de esperança se acende, vem de um cômodo no primeiro andar. Se for Joaquim, eu juro que eu o derrubo lá de cima. Mas é a Carla que surge, confusa, se debruçando na sacada, vestida em um robe. A imagem é sensual, de tão despretensiosa, é como se estivéssemos dentro de uma pintura do romantismo. Ela lá em cima com roupas de dormir, e eu aqui embaixo, feito um louco apaixonado e desesperado pela sua atenção. No que eu me tornei, tendo pensamentos líricos em torno de uma mulher?

Carla: Ah, não, Arthur, de novo? O quê...? O que está fazendo aqui e a uma hora dessas? Eu não te avisei que ficaria com a Isabella esse final de semana? Desconcertada com minha presença ali, ela tenta entender.


Arthur: Eu amo minha filha, mas eu vim por você, Carla, por favor, desce! — digo, olhando para cima.

Ela some da sacada, apagando as luzes do casarão, e quando acho que não vai descer, surge no térreo, saindo da casa e vindo em minha direção. Os cabelos soltos esvoaçam com o vento forte dessas bandas. Ela abraça o próprio corpo, diminuindo a nossa distância, que já durou tempo demais. A cena se torna estupidamente sensual, a cretina não deveria ser tão linda. Sua expressão não está das melhores, parece totalmente insatisfeita em me ver aqui. Se a conheço bem, está disposta a me mandar para o raio que o parta o mais breve possível.

Carla: Me diz, Arthur, o que seria tão urgente para vir até aqui a uma hora dessas para tirar meu sossego, o que não pode esperar até segunda-feira? — Descontente, ela gesticula efusivamente. — Se for para me dizer sobre o divórcio e que aceitará qualquer acordo para me tirar da sua vida, eu já entendi, e vou repetir mais uma vez que não quero nada seu. Não vou mudar de opinião na hora. Chega dessa história e desse assunto, pelo amor! Só queria saber mesmo qual foi a mulher que te fez tão descrente do amor, de uma vida a dois! Aliás, se quer saber, não me importo. Espero que seja feliz, porque eu também tentarei ser. Agora, por favor, vá embora. Até segunda!


Ela desata a mostrar suas opiniões de forma impaciente, nitidamente ressentida. A mágoa pelo que eu fiz está na superfície. Ela tem razão, eu sei. Seu pavio curtíssimo só reforça o quanto me quer longe daqui, e eu deixo que fale tudo que quer para que isso não se torne uma briga. Até que percebo que ela está disposta a dar as costas sem nem me dar a chance de falar. Não a deixo ir, não dessa vez, a pego pela mão, a trazendo para mim mais uma vez. Eu a prendo em meus braços, pois é aqui o seu lugar.

Minha ação ousada a pega desprevenida, e suas feições se tornam mais severas, feito uma onça arisca, mesmo que tenha ficado calada brevemente me encarando. Sei que está doida para me xingar novamente. Retribuo o olhar com profundidade, sentindo o peito pinicar. Eu não faço a mínima ideia de como convencê-la, nem do que falar para fazer com que essa turrona me aceite de volta. Em nossa última briga, ela deixou claro que as coisas não serão tão fáceis, então só vou saber se arriscar. Talvez o melhor jeito seja ser sincero, nada menos que isso. Suspiro longamente, ficando nervoso, mas decidido a falar o que eu sinto olhando diretamente nos seus olhos, para que não haja nenhum traço suspeito em minhas palavras.


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