Capítulo 38 :

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CARLA

Com o coração a galope, trancada no banheiro, me vejo pela segunda vez na mesma situação, fazendo um teste de gravidez que pode novamente transformar minha vida já tão bagunçada em algo pior. É como se eu levasse uma rasteira. Ansiosa, minhas unhas tamborilam no mármore da pia, enquanto permaneço atenta aos resultados.


Sinto meu coração bater de forma desordenada, assim como minha cabeça pulsa rápido, as pernas parecem enfraquecer. É como se pudesse ter uma síncope a qualquer segundo, sem saber o que esperar do futuro. Quando os primeiros sinais apareceram, sutis como os de Isabella... Eu percebi rápido que havia algo de errado comigo, e isso me acendeu um alerta, principalmente na viagem, quando enjoei após comer minha comida favorita.

Percebi quão irresponsável eu e Arthur fomos em todas as vezes que transamos, inconsequentes. Principalmente naquele dia da festa; uma briga de ego pode resultar em uma mudança drástica na minha vida, em mais uma. Não dá mais para evitar o inevitável, o divórcio já foi documentado, preciso pensar agora em como sairei disso ilesa. Espero que minhas desconfianças não se concretizem, para que eu volte a ficar com o coração em paz e saia daqui apenas com meras lembranças.



Dois palitos vermelhos nos três testes que comprei gritam de forma ensurdecedora que as coisas não serão tão fáceis assim.


Desnorteada e sem conseguir enxergar com nitidez um palmo à minha frente por causa das lágrimas, saio do banheiro andando bamba, querendo me refugiar debaixo do lençol. Eu me sinto desamparada e enlouquecida com essa descoberta. Parece que voltei para cinco anos atrás, na mesma situação, me sentindo a mesma garota assustada. No fim, nada mudou, é como se fosse um ciclo sem fim de déjà-vus. Logo chegará mais uma criança ao mundo por conta da nossa irresponsabilidade, por agirmos no calor do momento! Extremamente assertivos. Não deveríamos ser tão férteis, caralho!

Às vezes, tudo que eu queria é que as coisas não tivessem todo esse peso. Acho que é pedir demais ter uma vida menos atormentada. Sinto meus olhos arderem, e as vistas embaçam em um choro forte que vem de dentro, do mais profundo sentimento de incerteza. Eu me sinto caindo de um penhasco em uma realidade desesperadora e sufocante: estou novamente grávida e do mesmo homem. Com o divórcio que ele tanto faz questão batendo na porta, é como se o chão debaixo de mim ruísse. Só consigo chorar. Acabo trombando em Arthur, que me ampara contra seus músculos firmes para que eu não me machuque.


Arthur: Carlinha, por que está chorando?


Aparentemente preocupado, alarmado, na verdade, ele segura com as duas mãos minha mandíbula, tentando entender o motivo da minha decadência. Sua pergunta faz com que eu me debulhe ainda mais em lágrimas de desespero, sem saber o que vai acontecer diante disso. Sinto uma maldita pressão no peito, a sensação que tudo está desmoronando sobre mim. Eu não consigo contornar a tempo de tudo ruir de vez.


Carla: Por favor, me abraça bem forte, até eu não sentir mais o meu corpo... Eu preciso muito disso! — Afundo a cabeça em seu peito, desabando, sem conseguir assimilar direito meu futuro.


Estou em estado de choque, afinal agora serão duas crianças para proteger e cuidar, e meu sonho terá de ser pausado mais uma vez. Arthur se compadece, fazendo o que eu peço, me dando refúgio em seus braços. Ele me abraça com firmeza e me carrega em seu colo como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo, e eu me deixo ser levada até a cama macia. Sinto o contato com minha pele e seu corpão me esquenta, me amassa e despedaçada, me mantendo colada à sua pele.


Arthur: Carla, eu estou preocupado. Calma, loirinha!


Loirinha. Novamente me chama pelo apelido afetuoso, mas finjo que não percebi. Ele nota minha tentativa e pigarreia, nitidamente desconfortável por estar desse jeito comigo. Não entendo como funciona a cabeça de Arthur: ele me afasta, mostra que me quer longe, que mal vê a hora de eu ir embora da sua vida, mas me mantém por perto como se me quisesse aqui ao seu lado. Arthur acaricia meus cabelos, deixando que eu o use de porto seguro, como se ele fosse meu, como se estivesse de fato se importando com o que eu acho ou sinto.


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