Capítulo 28 :

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Após avisar da minha breve saída para Luana, que precisa de um aumento urgente, para contornar qualquer outro contratempo, sigo para buscar minha pestinha, que terá de ficar algumas horas comigo. Reflito sobre como a Carla ainda se vê como a única responsável por Isabella. Seu jeito de falar ao telefone fez parecer que estivesse me pedindo um grande favor, quando essa também é minha obrigação. Isabella é responsabilidade nossa, dos dois.





Combinamos de ser a Carla a buscar somente porque ela sai mais cedo que eu, não porque seja uma função exclusivamente sua. Mais uma vez me pego pensativo sobre quantas vezes ela precisou desse tipo de apoio e não encontrou. Inevitavelmente me sinto culpado de não ter acompanhado a criança desde o seu nascimento. Pelo menos, Isabella agora tem a mim, e farei de tudo para cumprir meu papel de pai, mesmo tentando entender ainda onde eu me encaixo na rotina das duas. Eu me sinto ainda incerto em muitas coisas, não sei direito o que posso fazer para ajudar em vez de atrapalhar.


Nossa rotina com Isabella ainda está se ajustando. As duas vivem grudadas, sei que é assim que estão acostumadas a viver. Preciso que entendam que elas têm a mim agora, independentemente do futuro divórcio, continuarei pai de Isabella. Fico me perguntando se a Carla não tem hobbies ou coisas do tipo. Busco minha pestinha na escola, e ela estranha minha presença ali em vez da mãe. Mesmo assim, pula em meu colo feliz como sempre.


Arthur: Vou te levar para meu trabalho, quer conhecer? — Pergunto enquanto prendo o cinto de segurança da sua cadeirinha.


Isabella: Oba! — ela concorda efusivamente, batendo palmas, Carla toda empolgada. Para Isabella, tudo é uma eterna festa.


Enquanto seguimos viagem, ela conta o que fez durante o dia, parecendo até gente grande. Com Isabella em meu colo, subimos para o andar em que eu trabalho. Aproveito para explicar o que vamos fazer aqui e que em breve vamos nos encontrar com a Carla.


Isabella: E cadê os palhaços que me falou uma vez que trabalhava com você, hein, eu não estou vendo. Cadê eles? — Curiosa, ela pergunta olhando ao redor com as sobrancelhas ralas unidas.


Rapidamente topo a boca da criança quando passamos por um dos colaboradores. Peço que guarde segredo, e ela ri, baixinho, abafando com a mão, concordando, como se realmente estivesse entendendo a saia justa que me causaria se alguém escutasse. Língua afiada como a da mãe! Chegamos no meu andar e apresento minha filha a Luana, minha secretária, que sorri amigavelmente e surpresa por eu ter essa pestinha como filha. Quase ninguém do meu círculo sabe sobre ela, e até prefiro que se mantenha dessa forma para não a expor muito.


Luana: Oi, Isabella! Você gosta de canetinhas? — ela tenta interagir.


Isabella: Gosto... Ele é meu e da minha mãe, sabia?


Com ciúmes da minha secretária, que está próxima a mim me orientando sobre a próxima reunião, Isabella me abraça pelo pescoço, mostrando como as coisas são com ela. Fico surpreso pela sua espontaneidade, e preciso segurar a risada com essa pérola da minha filha. Luana concorda com ela, rindo junto comigo das peripécias dessa criança cativante. Fico na torcida para que o tempo passe devagar para que eu possa curtir minha pequena mais um pouquinho desse tamanho. Estou amarradão nessa pestinha!



Dirigindo em direção ao prédio da Carla, onde ela já me espera para irmos até a nova sala para seu escritório, gargalho ao ver pelo retrovisor minha filha passando um batom transparente nos lábios e deixando sua boca brilhante. Ela é toda vaidosa, e o detalhe melhor são suas perninhas voando no banco, dobradas pelo calcanhar com um sapatinho rosa cheio de lantejoula, minúsculo. Embora a menina tenha muitos traços meus, Carla pariu a porra do próprio clone. Isabella é muito parecida com a mãe, em cada ação, na mania de acordar já ouvindo música alta, no modo de colocar os cabelos loirinhos atrás da orelha a todo o momento. As duas são iguais até mesmo no jeito de se comunicar, gesticulando com ênfase, a diferença é que minha filha é menos aterrorizante, e só porque ela é fofa e eu posso trazer para meus braços a hora que eu quiser.


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