Capítulo 47 :

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ARTHUR

Thiago: Levanta, Arthur! — Eu me sobressalto pela voz de trovão de Thiago soando repentinamente.


Dor de cabeça, vertigem, enjoo e boca seca são os principais sintomas de ressaca, e os sinto antes mesmo de me levantar do sofá. A segunda noite que eu repito esse ciclo. Desde quando deixei Isabella no colégio, sinto como se tivesse sido atropelado quando vi o desgraçado do Joaquim entrando com o carro no prédio da Carla enquanto eu estava saindo com minha filha. Ambos sozinhos no apartamento dela. Só de pensar no que aconteceu, me sinto angustiado. E um pateta por estar assim.


No final das contas, tudo só reforça que eu agi corretamente ao não me enfiar em um relacionamento. Dias atrás, ela me queria como família, agora já está com aquele babaca no apartamento com ela. Ou seja, o final seria o mesmo, eu aqui no meu apartamento sozinho, a diferença é que eu me antecipei. Isso significa que a porra do amor ou qualquer uma dessas balelas que tentam enfiar goela abaixo de todo mundo não existem para mim!


Arthur: Me deixa em paz, caralho!

Zonzo, com a cabeça pesando toneladas, tento sentar no sofá. Nesse momento, sinto que o efeito da bebida não passou muito bem. Por que eu estou vendo dois Thiago de fisionomias sérias e braços cruzados diante de mim?


Thiago: Chega dessa lamúria, acabou seu tempo de sofrer. Levanta, eu não aguento esse sofrimento, não, sério. Chega, acorda para a vida. Acha que vai fazer seus filhos felizes estando infeliz e bebendo para esquecer as coisas? Acha que a Carla conseguirá ser uma mãe completa estando infeliz, convivendo com o homem que ama mas não retribui? É isso que acha que é uma vida saudável para vocês dois e as crianças?


Desorientado e com os membros do corpo pesados, engulo em seco, a garganta áspera de tão seca. Tento limpar o rosto e enxergar as coisas com mais nitidez. Recosto a cabeça no sofá. A claridade chega de uma só vez para mim quando Thiago abre as cortinas sem minha permissão. Meus olhos ardem e lacrimejam.


Arthur: Filho da...! — Quando foi que eu achei uma boa ideia permitir que Thiago tivesse acesso livre à minha casa? — Não vou a lugar algum! — Com dificuldade de falar, caio novamente no sofá, morto de sono, mas Thiago me sacode novamente. — Porra, você é chato para caralho!


Quero ficar apenas mais uns dias no meu apartamento, sozinho e bebendo, até que esse vírus maldito do amor passe e eu volte à minha rotina em pleno vigor. Por ora, estou apenas existindo, comendo comida industrializada e enchendo a cara nesse apartamento vazio demais, assimilando que a desgraçada me deu o maior golpe de todos, o de misericórdia, colocando aquele paspalho no apartamento. Eu sabia que aconteceria cedo ou tarde, mas sinto que desci mais alguns metros no fundo do poço, e está doendo demais. O pior de tudo é a ironia da vida. Quando a gente não quer se envolver é exatamente o momento em que acontecem as coisas mais intensas. Sentimentos reais não passam rápido, não como eu gostaria, e eu sinto tanta saudade daquela infeliz, que o corpo dói. Ou talvez seja apenas gripe.


Thiago: Você está péssimo, Arthur. — Com tom bem-humorado, Thiago dá um tapinha nas minhas costas.


Arthur: Ah, vai à merda. Acha que não sei, porra?


Thiago: Você bêbado consegue ser ainda mais insuportável e boca suja. Sua casa parece um cativeiro, de tão escuro, sem contar a quantidade de lixo e garrafas no chão. Quando eu te dei a semana para organizar sua vida, não foi para isso! E a cura para isso nós sabemos qual é. Acorda, toma um banho, faz a barba e vá buscar sua mulher, caramba — ele ordena de forma decidida, como se eu fosse José, seu filho. Em seguida, me entrega um grande copo de água geladinha. Eu salivaria por ela se não estivesse com a boca tão ressecada.


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