almoço real

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Entro no salão de jantar com o enorme barulho da porta se abrindo abafando as batidas de minha sapatilha no piso de cimento queimado. Ao contrário de mim, as damas de companhia não entram e ficam ao lado da porta. 

O mordomo puxa a cadeira para que eu me sente. Dyaln sentava à minha frente com seu pai, ao seu lado, posicionado na ponta mais próxima da enorme mesa. A primeira coisa que reparei ao entrar no salão foi o tamanho da mesa, algo desnecessário eu diria, não cheguei a contar, mas com certeza possuía mais de vinte lugares disponíveis. 

— Espero que tenha gostado de seus aposentos.— o rei se dirige a mim com uma linda taça entre os dedos de vinho sangrento, bebida mais típica e refinada do povo de Nohtingan.

— Sim. O achei bem delicado— a irmã de Dylan comia seu bolo tranquilamente enquanto me olhava com uma mecha encaracolada de seu cabelo loiro caindo sobre os olhos verdes. Seu sorriso era reconfortante e muito bonito, apesar de não parecer nada sincero.

— Quando vier morar conosco poderá mudar o que quiser, para que fique de seu agrado— Ainda não tinha pensado que quando a suposta guerra acabar terei de me mudar para Nohtingan. Isso não me soou boa coisa.

— O que irá colocar de enfeite? A cabeça dos inimigos que você arranca?!— Ray aparece do outro lado do salão, ele caminhava em direção a cadeira ao lado de Dylan, uma mulher o acompanhava, ela um pouco mais baixa que ele e sua pele era pálida. Ela aparentava ser mãe de Ray.

— Ray — Dylan se vira para o garoto com um olhar de repreensão— Use o pouco de modos que ainda lhe resta.

Eu não havia reparado, mas estas foram as primeiras palavras de Dylan na mesa. Seu rosto era de julgamento e raiva. Pela sua expressão parecia que não o queria ali.

A mulher que acabara de sentar a mesa olha com uma expressão claramente falsa de surpresa. 

— Dylan! Como pode falar desse jeito com seu primo. Não me lembro de sua mãe ter lhe dado essa educação.

— Eu acho tia, que invés da senhora se preocupar com minha educação, deveria adiantar-se na do seu filho.

A irmã de Dylan solta o garfo e faca no prato fazendo um barulho, ela sorri para ele com o rosto cheio de creme. Já seu irmão fitava a tia com os olhos semicerrados.

Pela atitude da menina pude deduzir que isto não acontece com tanta frequência. O que por alguns segundos me deixa triste, eu realmente adoraria ver essas intrigas de família durante as refeições.

— Façam o favor de se comportarem na frente da madame. Hoje ela é a princesa de Nohtingan, mas logo será a rainha, então mostrem que tem respeito.

O rei solta a taça de sua mão a deixando vazia em cima da mesa, fazendo com que o mordomo calmamente se aproxime e encha novamente. 

— Esta menina não sabe as funções de uma rainha em seu reino, sinceramente acredito que só irá conseguir procriar! — a mulher de rosto pálido solta estas palavras de um jeito sutil e delicado, até parecia que não se tratava de um insulto.

Solto minhas palavras afiadas com o mesmo tom de sutilidade tentando não aparentar ignorância ou deboche.

— Se esta será minha única função não vejo o motivo de não conseguir exercê-la.— Minha resposta atrai todos os olhares exceto de Dylan que encarava a taça de vinho entre os dedos com um sorriso ladino.— É claro que o maior problema será o gênero já que a preferência é masculina, dois não é? Um governaria Nohtingan e o outro lideraria as tropas de meu pai. Estou certa?

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