O último reino

Princesa, Senhorita

— Você irá na minha carruagem, então não precisa ficar com esse nariz empinado fazendo um papel de boa princesa. 

Ele havia dispensado Mera, o que eu realmente agradeço, por mais que ela seja gentil e uma das poucas pessoas deste castelo que não me causam dor de cabeça, eu não gosto de ser observada enquanto estou com Dylan, as vezes ele me irrita e eu não posso bater nele com alguém vendo. 

No momento não faço ideia de onde estamos indo, mas Dylan estava vestindo um terno preto, a única coisa que reluzia nele era o brasão dourado de sua família grudado do lado esquerdo de seu peito. 

— Olha, eu realmente quero saber o porquê você gosta tanto de ficar me encarando enquanto andamos, se continuar por mais dois minutos vou dizer que já está totalmente apaixonada por mim, o que não é difícil.

Desvio o olhar enquanto solto uma pequena gargalhada e logo em seguida balanço a cabeça em negação.

— Em primeiro lugar, eu não estou de nariz empinado. Em segundo lugar, até eu chegar na sua carruagem podemos ver uma centena de funcionários. E em terceiro lugar, eu encaro tanto você porque estou derretendo de tanta ansiedade para o nosso casamento.

É claro que o terceiro lugar é um puro suco do exagero, talvez eu só esteja ansiosa para conseguir ordenar todos que vivem aqui. 

— Olha, então devo admitir que também estou ansioso, mas receio que esteja mais ansioso para lua de mel do que para o casamento em si, principalmente porque é uma tradição de gerações que o futuro herdeiro do trono seja concebido durante a lua de mel. 

Viro meu olhar para Dylan que sorria pervertidamente enquanto olhava para o chão evitando virar para mim que ainda continuava incrédula com o que tinha acabado de escutar. Eu não havia reação para aquele momento a não ser ficar boquiaberta.

— Não se preocupe princesa, eu serei gentil. A não ser claro, que a senhorita não queira. 

— Pode parar de me chamar assim, odeio que fiquem se dirigindo a mim como princesa e senhorita, eu sou uma guerreira. 

Ele para de caminhar por alguns segundos e solta seu braço do meu, virando de frente para mim e se curvando gravemente, em sinal de reverência.

— Se é assim que deseja, não irei te chamar mais de senhorita— ele volta a se virar para mim e se aproxima de mim o suficiente para que eu possa te escutar respirar, ele segura minhas mãos levemente enquanto me olha nos olhos— Afinal agora você é muito mais do que uma simples princesa, você agora é a minha Princesa Guerreira. 

Ele ri de um jeito debochado, com a intenção de me provocar e me deixar brava. Funcionou.

Chego mais perto dele ainda quase encostando a ponta do meu  nariz em sua bochecha, levanto um pouco meu olhar para conseguir enxergar seu, a rede que caia de meus olhos quase impediam de ver  aqueles olhos verdes esmeraldas que se não fosse pela diferença de altura estariam encontrando os meus por muito menos que alguns centímetros. Meu coração batia numa velocidade moderada, a sincronia de cada batida com o barulho do seu  suspiro era chocante, parecia que haviam sido programados para acontecer ao mesmo tempo.

 Levo minha mão direita que até então ele segurava para seu ombro e minha mão esquerda para o meio de seu peito sobre a gravata preta bem centralizada no meio da blusa, encaro ela por alguns instantes, logo desço minha mão por dentro de seu terno preto até sua costela,dou uma leve pressionada no local onde paro com minha mão. Percebo o olhar fixo de Dylan a cada movimento, não pude deixar de sorrir de canto, ele suspira quando paro. 

Levanto meu olhar novamente encarando os olhos verdes através da rede do chapéu preto de minha cabeça.

— Aqui. O que tem tatuado? 

Pressionei o local outra vez. Eu me referia a tatuagem que não consegui decifrar o que era quando Dylan saiu do banheiro no dia da iniciação. A respiração dele ainda tinha o mesmo intervalo de tempo, e ele ainda olhava nos meus olhos, intercalando entre um e outro.

— É um lobo com uma coroa na cabeça. 

— Porque? 

— Pra me lembrar que mesmo com uma coroa, eu sou só um lobo com uma alcateia. Eu sempre vou ter pessoas específicas a quem confiar, amigos de verdade. Usando uma coroa, todo mundo se passa por amigo, mas nem todos são do meu bando. 

— Uau, até que você pensa às vezes, tô impressionada. 

Sorrio para Dylan que balança a cabeça gargalhando. 

— Outra coisa, não me chama de Princesa. 

Me solto dele que gargalha mais uma vez e voltamos a andar em direção a carruagem, só que agora afastados.