LOS ANGELES - BILL KAULITZ

capítulo 04 - FAKE

Helena: Me fale, o que você faz da vida?
Billy: Trabalho com música, mas estou parado agora
Helena: hm, músico? Que interessante. Será que poderei conhecer seu trabalho?
Billy: Ainda é cedo pra isso. Me diga, quem é você?
H: No momento, estou concluindo um doutorado.
B: Intelectual? Tenho que confessar, adoro pessoas que me falam coisas que eu não sei
H: Um sapiossexual?
B: A partir de agora, sim.

Me pego dando sorrisinhos atrás da tela e me estranho um pouco. Não imaginei que tão rapidamente eu iria me interessar por um cara pela internet e sem ver seu rosto antes, e pior, um estrangeiro alemão.
Fecho os olhos por alguns segundos, e quando abro, já está de dia. Fiquei até mais tarde conversando com Billy que adormeci, por sorte, hoje não tenho que ir á universidade, tenho um dia de folga. Pego meu celular para ver a hora e já são 9h15, e está bem quente hoje, no visor vejo uma mensagem de bom dia, é de Billy.

B: Bom dia flor do dia, quais os planos pra hoje?

Fico confusa se isso significa um convite para sair, mas acho cedo demais para isso, então apenas digo que tenho um compromisso.

H: Bom dia Billy, vou ver minha amiga hoje. O dia está lindo, não é? Não sabia que em LA o clima pode ser quente como no Brasil.
B: Aqui pode ser sim bem quente, sabe.

Logo cedo, Cindy me liga e me convida para irmos tomar um café na I love Cofee, a cafeteria da torta de morango, e parece que Cindy é conectada comigo, ela sempre sabe quando eu preciso ver-la.
Me arrumo rápido, coloco um conjunto de saia tubinho e um top colorido com cara de verão, uma rasteirinha, prendo o cabelo em um rabo de cavalo, pego meu óculos escuro e minha bolsa de sempre, e desço para encontrar com Cindy.
Chego e ela já está lá me esperando e também já tinha feito o pedido porque ela sabe que eu gosto de cappucino e torta de morango, é incrível como ela está sendo essencial pra mim sobreviver aqui.

- Alguma novidade, Helena?
- Olha, acho que o papo com Billy está rolando...
- Deixa eu ver

Cindy analisa toda a conversa e segundo ela, claramente Billy "está na minha". - Você precisa marcar e sair com ele
- Amiga, eu não sei, to tão nervosa com isso
- Você é uma mulher adulta, Helena. Não deve nada a ninguém, não precisa ter medo, se não for legal, deixa ele pra lá, não custa você conhecer ele
- Só depois que eu ver o rosto dele, não dá pra sair com alguém cuja única imagem que tenho em mente é o mamilo perfurado dele
- Então vamos pedir uma foto pra ele

Enquanto conversamos, o café chega e eu não sabia que estava faminta até começar a comer a tortinha.
Como um pedaço da torta e Cindy pede autorização para responder Billy, eu deixo.

H: Eu gostaria de ver seu rosto, Billy...
B: Tudo bem
*foto*

Eu e Cindy nos aconchegamos uma perto da outra para olharmos a foto, com entusiasmo e gritinhos, estou muito nervosa.
Estou surpresa e percebo que Billy é exatamente como eu imaginei.
Estava com óculos escuros, barba presente e bem delimitada, piercings na sombrancelha, lábios e no septo, alguns brincos e cabelo rosa pink.

È, ele é mil vezes melhor do que eu imaginei. Senti algo diferente ao olhar a foto, como se eu conseguisse vê-lo através da tela e sentisse-o, eu consigo agora sentir algo, será que...?

- Ele é muito bonito, Helena
Lembra muito o vocalista daquela banda
- Qual?
- Aquela dos anos 2000, de rock, como se chama mesmo?
- Não sei mesmo, Cindy
- Aquela do garoto de dreads e o irmão dele com cabelo espetado
- Tokio Hotel?
- ESSA MESMO, olha, até o piercing
- Não é possível...

Nos encaramos por um instante e começamos a pensar. Realmente, o rosto lembra muito aquele garoto do Tokio Hotel, é como se eu estivesse agora olhando para ele através do tempo, mas não é possível... Será?
Ao mesmo tempo que eu acho que só deve ser uma coincidência, pode também ser ele mesmo, afinal, eu to em Los Angeles, a cidade dos famosos. Mas o que um cantor famoso estaria fazendo em um aplicativo de relacionamentos e ainda fingindo ser outra pessoa, não faz sentido algum.
Cindy acredita fielmente que ele é o tal vocalista, mas eu não quero acreditar. Não quero mesmo pesquisar no google e acabar tendo a confirmação.
Estava tudo bem antes de saber quem era ele. Um namorado famoso? Nem pensar. Jamais. Nunca.

- Você precisa responder, Helena
- O que eu vou dizer? "Hey Billy, acho que você estava me enganando."

Cindy abriu o google e pesquisou por Tokio Hotel. E lá estava, Bill Kaulitz. Cabelo rosa. Acabou de lançar seu projeto solo, Billy. Como eu iria saber?
Como eu iria adivinhar que estava conversando com Bill Kaulitz no tinder sem saber que era ele? Porque ele finge ser outra pessoa? Porque não me contou? Que sorte a minha...

Eu conheço Tokio Hotel, escutava as músicas quando era adolescente, lembro de 2010 quando foram ao Brasil, mas eu não acompanhei, não sabia como estavam. Como iria adivinhar? Estou me sentindo tão culpada.

Pensei muito no que iria dizer, eu já estava me apegando, e vejo que ele é outra pessoa, e famosa ainda por cima.
Eu quero entender, porque fingir ser outra pessoa num aplicativo de namoros, quando ele pode ter a garota que quiser?
Porque ele se interessaria em mim, uma pessoa que não é ninguém? Só mais uma perdida em LA.
Uma enxurrada de pensamentos me cercam, e me afogam. Não sei o que fazer.

- Helena? Reaja.
- O que eu vou dizer, Cindy? Eu não estou feliz com isso.
- Você precisa dizer algo a ele.
- E se for um fake brincando comigo? E se for um golpe?
- Você vai precisar conversar com ele para saber, Helena.

Decidi ir pra casa.
Não queria falar com Bill.
Queria ficar sozinha e entender um pouco meus pensamentos. Nem eu sei porque fiquei tão brava assim. Acho que me senti enganada de novo.

Ao chegar em casa, tirei a saia e coloquei meu camisetão velho de sempre. Cindy foi pra casa dela, iria trabalhar a noite. Deitei na cama e fiquei olhando para o teto e um pouco sem reação comecei a pensar e ensaiar o que ia dizer para Bill. Quer dizer, se for ele mesmo.
Ainda não sei se acredito que seja ele ou que seja alguem se passando por ele, apesar de que ele também está se passando por outro alguém. Apesar de tudo, quero entender-lo, quero saber seus motivos, quero saber o que ele está realmente procurando.
Não quero ser usada, e nem enganada.
Decidi confrontar-lo.