"te amo, mas tenho medo
de amanhã achar a ideia absurda
de que cada palavra sua
se revele parte de um conto mentiroso
de que meu coração seja quebrado de novo
de que eu te machuque com os cacos pontiagudos
que me tornei
de que você me esmague e me dissolva
tornando-me pó reluzente
um nada eminente
espalhado pelo chão
tendo como única opção
sobreviver quebrado."
*Bill chamou seu médico, que foi me ver, e ele saiu para resolver suas coisas enquanto eu era atendida com privacidade na sua enorme sala de estar.
- Me conte, senhora Helena, como se sente? - um senhorzinho simpático e aparentemente muito experiente e confiável me faz várias perguntas
- Me sinto tonta e enjoada, e também um pouco ansiosa, minhas mãos soam e cada vez que penteio meus cabelos, sinto que metade dele vai embora.
- Qual a chance da senhorita estar grávida?
Minha ficha ainda não havia caido antes do médico me perguntar isso. Não me lembro quando foi a última vez que tive meu período, e não sei se estou atrasada. Eu devia ter pensado nisso antes.
Eu e Bill nos cuidamos, exceto quando estamos bêbados ou chapados, e acabamos esquecendo, mas não é possível que cometemos esse erro. Impossível.O senhorzinho me faz muitas perguntas, e também diz que é fundamental que eu diga se houve algum evento estressante ou traumático nos últimos dias.
Óbvio.
O merda do David.
Contei a ele uma parcela do que aconteceu, e quando terminei de relatar, ele parecia já saber o que eu tinha.- Bom, senhorita... Eu vou lhe prescrever um medicamento, um antidepressivo. Talvez seus sintomas podem estar refletindo no seu físico o que há no interior. No entanto, espeficifiquei na sua prescrição que você deve apresentar um teste de gravidez negativo, porque o remédio pode prejudicar, ok?
Era só o que me faltava. Além de ter que tomar um broxante em comprimido, ainda sou obrigada a fazer um teste de gravidez pra ter-lo.
Como que eu vou explicar a Bill?
"Oi, acho que estou grávida"Bill é amoroso e parceiro, mas jamais consigo imaginar sua reação. Eu tenho quase certeza de que não estou grávida, mas algo dentro do meu coração faz a pergunta: e se..?
Eu não seria uma boa mãe nem se eu tentasse.
Bill com certeza seria um bom pai, sem que se esforçasse.Sempre repudiei a ideia de ter filhos.
Desde o início do meu trágico relacionamento com David, ele me pertubava sempre sobre quando tentariamos ter um bebê. Eu dizia a ele que eu era muito jovem e que não queria que isso acontecesse, mas ele não me escutava. Dizia que era seu sonho e que queria ter uma menina, e em vários momentos, fingia que não tinha conseguido se controlar e gozava dentro de mim falando que foi sem querer.
Lembro de como eu me sentia mal e impotente quando isso acontecia.
Isso foi um dos motivos dos quais eu me tornava cada dia mais frígida em relação a ele. Sexo me enojava e eu tentava evitar sempre que podia.
Acho que talvez ele tenha me traído por isso.
Eu não dava mais a ele o que ele queria. Não sentia desejo algum e cada transa era um esforço gigantesco, e eu rezava para terminar logo, até quando realmente passei a evitar-lo.Com Bill, parece que eu retornei a adolescência quando os hormônios estão a mil e há uma libido insaciável. Mas de qualquer forma, ainda repudio a ideia de ter filhos.
Não sei definir o que estou sentindo. Talvez eu na verdade não esteja sentindo absolutamente nada. Vazio absoluto. Já me vi algumas vezes em alguma situação difícil ficar totalmente apática. É como me sinto agora, apática.Após a consulta, pego a receita e dobro bem para que caiba em meu bolso. Preciso conversar com Bill e pensar no que direi pra ele.
Eu não quero falar que o médico desconfiou de um possível feto e criar esperanças nele. Imagina se ele se animar com a ideia, eu não conseguiria ficar feliz e ele com certeza se frustraria.
Decido não falar nada para ele até ter certeza.Subo para o quarto e deito encolhida na cama, a espera de Bill.
Ele demora um pouco para chegar, mas quando chega vai direto me encontrar para saber como eu estou.
Traz consigo uma sacolinha com alguns chocolates, embora eu esteja extremamente enjoada, achei fofo seu gesto de carinho e os coloco dentro da gaveta ao lado da cama para que eu coma quando melhorar.Bill me pergunta sobre a consulta, e digo para ele apenas que o médico me receitou um antidepressivo para me ajudar com a crise de pânico e me recuperar um pouco. Eu disse a ele que Cindy se responsabilizaria por me trazer os comprimidos, embora ela nem tenha noção do que está acontecendo.
Ele precisa se ausentar pois teria uma reunião, mas voltaria pro almoço, então deixou um número de telefone de um moço que trabalhava para ele e para Tom fazendo "favores" como ir ao mercado ou farmácia.
A oportunidade perfeita para eu fazer esse maldito teste e ter meus comprimidos.
"vivo de obsessões
insisto e persisto
coisas que sei
que nunca terei
me sinto segura
se eu já sei
como tudo acaba..."
*
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LOS ANGELES - BILL KAULITZ
RomanceApós um dramático término, Helena se muda para Los Angeles com sua amiga para focar nos estudos e esquecer seu ex noivo. Por mais que sua cabeça esteja totalmente focada em seu Doutorado, ela tenta se distrair e se cadastra em um site de relacioname...