Sombras do Passado - Livro 1

Capítulo 1

Viver na torre mais alta do castelo era o que eu mais gostava, eu conseguia ver o reino inteiro, passava horas olhando para A Grande Cerca, uma floresta que ficava no lado leste do reino e que dividia o nosso reino dos das bruxas anciãs. Meu pai odiava que eu ficasse preso no quarto o dia inteiro apenas estudando sobre a nossa história e apreciando a vista pela janela, mas ora, eu tinha toda uma torre a minha disposição, quatro andares, um banheiro magnífico, uma biblioteca exclusiva , um quarto maior que a maioria das casas do reino e um terraço onde eu podia admirar as estrelas quase toda a noite. Definitivamente não precisava mais nada que aquilo, pelo menos não precisaria se não tivesse sido prometido a doce Tessa.

Tessa é única filha da Rainha das bruxas. Na época dos meus avós foram selados os dois mais importantes acordos do nosso continente, A Grande Cerca, como forma de proteção para nós humanos contra as bruxas e o matrimônio. No Fim da guerra, minha mãe estava grávida de mim e a monarca das bruxas estava grávida de Tessa, a gravidez de uma bruxa pode durar até meses e quanto mais tempo a criança fica na barriga de sua mãe, mais forte essa cria se tornará no futuro. Tessa nasceu de 22 meses para a surpresa de todos, a bruxa mais forte, a deusa das sombras eram como a chamavam desde o nascimento. Assim que nasceu Tessa foi prometida a mim que na época já tinha quase dois anos, mas só com 10 anos entendi o significado da nossa futura união e fui mandado para o colégio interno no sul do reino humano, na cidade de Valir. Estudei por quase sete anos a história do nosso continente, ou pelo manos a parte conhecida dela, a arte da esgrima e estratégias de guerra, mas apenas uma coisa eles faziam questão de me dizer todos os dias, me casar com Tessa ou entregar meu reino as bruxas.

Faz dois anos que voltei para a capital, e desde então três dias por semana eu sou enviado para além da cerca para me encontrar com Tessa. A primeira vez que a vi eu não conseguia pensar em mais nada a não ser que aquilo que via era realmente uma deusa, não uma deusa das sombras ou qualquer outra coisa macabra que contavam, mas uma deusa da luz. Sua pele era branca e brilhava como uma estrela, seu cabelo prata refletia a luz do sol a transformando realmente eu um ser de outro mundo, seu sorriso fazia até os pássaros no céu a observar, forte, doce e letal, essa ultima parte, eu só consegui entender mesmo quando me aproximei de Tessa e nossos olhos se encontraram pela primeira vez. Negros como o vazio, pareciam me sugar com se estivesse arrancando a alma de meu corpo. Com o tempo eu fui me acostumando a essa sensação, sua beleza estonteante fazia com que eu me perdesse completamente em meus pensamentos, havia momentos em que eu nem sabia o que estava fazendo. Mas no fundo, o que mais me importava era que ela me amava, e eu gostava muito dela, amar acho que era um sentimento muito profundo para se ter com uma pessoa que acabara de conhecer, mas para ela não era a primeira vez a me ver. Desde criança ela foi criada, treinada e educada para ser a minha esposa e unificar os dois reinos. Treinamento físico? Jamais, mas a arte das maldições ela dominava como ninguém, nem a sua própria mãe conseguia a superar, Tessa era uma obra divina, uma esposa perfeita. Com toda certeza eu a amaria, amaria profundamente, do fundo do meu ser. Mas o meu feitiço se esgotou rápido demais e toda a paz conquistada por séculos de luta, sangue e mortes, escorreu pelas mãos de meu pai.

Na última visita antes do matrimônio, não sei bem se estou realmente preparado para isso, mas minha recusa não é uma opção e nunca será. Adam, o cocheiro, me levava lentamente em direção à cerca, o caminho era estreito, mal cabia uma carruagem e as pedras estavam todas deslocadas devido as fortes chuvas do fim do verão. O sol já estava alto quando chegamos à metade do caminho, os campos ao nosso lado que antes tinham apenas gramíneas verdes como esmeralda, agora estava coberto por flores e rosas, ali era o chamado, Ponto da Paz, onde foi assinado o tratado que deu fim à Guerra. Diz o meu pai que após A rainha bruxa e o meu avô assinarem o tratado, toda aquela extensão antes era árida e coberta de sangue, floresceu imediatamente como uma benção dos próprios deuses e A Cerca foi criada no mesmo instante.