Sombras do Passado - Livro 1

Capítulo 8

Olhei ao redor e percebi que todos estavam de pé olhando horrorizados para mim, Míria havia descido do altar, que escorria sangue para todos os lados, e agora estava ao lado da irmã com a mão tapando a boca em uma expressão de total surpresa, Vexa por outro lado estava com o olhar inexpressivo, mas suas mãos mostravam que ela estava pronta para lutar

— O que você tem a dizer sobre isso Ronald, que tipo de piada é essa? — Meu pai continuava apenas me pedindo perdão, sem parar ajoelhado ao meu redor. Sem entender nada eu me levantei e foi aí que eu finalmente entendi o que havia acontecido

Assim que me levantei senti o peso das asas nas minhas costas, quando virei meu pescoço as vi, extensas asas negras completamente sujas de sangue que escorria por elas e pingava no chão

Toquei meu cabelo cabelo havia crescido até a altura do pescoço. Corri para a mesa do altar, perdendo o equilíbrio a cada passo e peguei a primeira prataria que me apareceu e me olhei como em um espelho. Meus cabelos estavam completamente pretos, meus olhos estavam tão escuros quanto os de Tessa, profundos como o próprio vazio. Eu havia ficado tão leve quanto no dia anterior, eu conseguia sentir ar correr pelas minhas asas, eu conseguia senti-las como se fosse um segundo par de braços. Com um pensamento simples elas se abriram e revelaram sua extensão, longas, fortes e principalmente sombrias, não podia negar que elas eram lindas, mas elas estavam em mim, o que é que tinha acontecido comigo?

Me virei para observar Tessa e ela estava caída de joelhos me encarando boquiaberta, lágrimas escorriam de seus olhos, eu conseguia sentir a perda dela, estiquei meu braço em direção a ela

— Tessa — sussurrei baixo ela desviou o olhar de mim, eu senti um buraco atingir meu peito diante daquele ato. Abaixei minha mão e me virei para Vexa com a cara fechada — Que tipo de maldição você colocou em mim dia bruxa desgraçada, tire isso agora

Vexa gargalhou alto por um tempo

— Você acha mesmo que eu tenho poder suficiente para te transformar nisso garoto? Nem a mais forte das bruxas conseguiria fazer uma transmutação tão forte assim, nem mesmo Tessa conseguiria

— Não é possível, como? — eu olhei de novo para a bandeja que segurava na mão — Esse não sou eu, não pode ser...

— Meu querido Leo — Vexa começou a subir no altar ao meu encontro, lentamente, como um predador cercando a sua presa — Você foi posto sob uma maldição, bem provavel, desde o seu nascimento, uma maldição tão forte que nem resquícios dela ficou em você, tão perfeita que conseguiu modificar o seu ser completamente, durante 20 anos e eu tenho certeza que se não fosse pelo chá de purificação, ficaria em você até o dia da sua morte — ela chegou atrás de mim e começou a passar as unhas em minhas asas as arranhando, eu sentia suas unhas como se estivessem passando realmente em minha pele

Com um movimento rápido e involuntário com as asas eu a empurrei para trás

— Sai de perto de mim, monstro — respondi em defesa

— Que engraçado é você, Leonard — disse ela se aproximando novamente — Não sou eu que estou com um par de chifres na testa e nem com asas negras como estas. Eu posso até ser uma bruxa, mas quem mais se parece com um demônio aqui é você

— Cala a boca — gritei. A mulher apenas continuou falando

— Mas essas asas são realmente incríveis, até onde eu sei os demônios possuem asas, mas não asas com penas como essas, o que me leva a crer que você é uma cria de um demônio com um arcanjo, não tem outra explicação — ela riu com escárnio, ela parecia estar fascinada com a nova descoberta — Que espécime mais raro temos aqui Míria, acho que devemos estudá-lo