Capítulo 16

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A primeira semana foi a mais estranha e cansativa, minhas pernas estavam tremendo de tanto ficar em pé e minha cabeça doía quase por ficar controlando água para cima e para baixo, todo dia, toda hora, sem parar. Gael estava começando a ficar irritado porque no fim eu não saia da estaca zero.

Ele me colocou para treinar todo dia debaixo da cachoeira dizendo que enquanto eu não conseguisse fazer a água correr na direção oposta eu não voltaria para a capital. Me fazia pescar peixes, o que era particularmente, muito fácil, mas de resto, algumas bolas de água aqui, alguns jatos de água ali, nada além do normal. Eu mais parecia um bobo da corte brincando de jogar água nas crianças durante os dias quentes do verão do que com um filho de um demônio e um anjo.

— Você tem que sentir o poder saindo de você Leo — gritou ele na margem do rio — Ele é como uma extensão do seu corpo, apenas deixe com que ele tome forma

— Falar é fácil — retruquei — Quer vir aqui tentar?

Ele nem se deu ao trabalho de responder

Fechei os olhos por um momento e escutei o que Gael tinha sugerido, deixar ele tomar forma, eu já havia tentado fazer isso antes, mas quase nunca dava certo, sempre saia um pouco do controle no final.

O interessante era que eu sempre que fechava os olhos e me concentrava eu conseguia sentir cada fio de magia e água ao meu redor como se fosse realmente uma parte de mim que foi se soltando com o tempo.

Consegui perceber que o Gael havia se sentado em alguma coisa que parecia ser uma pedra às margens do rio, senti uma gota de água caindo de uma das folhas de uma árvore que ficava no fundo da nossa casa, e senti os pássaros voando à metros de altura, mas aquele parecia ser ápice do meu poder, eu não conseguia ir mais distante. Era uma habilidade bem útil, com isso eu conseguia sentir tudo e qualquer coisa viva que se aproximasse de mim, o único problema era que manter a concentração durante o dia inteiro era impossível. Na primeira vez que tentei usá-lo durante todo o dia eu cai desmaiado no meio da cozinha enquanto Gael me ensinava a fazer ensopado, foi um pouco trágico, acabei caindo desacordado no chão e levando todo o ensopado comigo deixando Gael sem um jantar decente.

Outra coisa que eu havia aprendido, era usar a água como proteção, ainda era difícil de controlá-la, ainda mais quando eu já estava usando outros poderes ao mesmo tempo. Mas pelo menos servia também para me ajudar na hora de cozinhar, eu facilmente conseguia criar luvas para segurar as panelas quentes e essas coisas, parece bobo, mas era legal, eu sentia que finalmente estava me entendendo, aprendendo sobre mim.

Regular a temperatura da água era uma coisa que eu havia aprendido também e com isso eu conseguia cozinhar bem mais rápido, eu conseguia controlar a temperatura da receita esfriando o que estivesse quente demais diminuindo a temperatura da água. Ainda tinha uma grande dificuldade em aquecer, creio que o motivo disso seja que eu não tenho habilidades com fogo, da próxima vez que eu visse meu pai eu o perguntaria se era possível fazer isso.

E desde ontem eu estava tentando criar tornados de água, o máximo que eu conseguisse, mas parecia que o poder se recusava a fazer o que eu queria e eu acabava sempre perdendo o foco tentando controla-lo do meu jeito.

— Quando quiser começar — gritou Gael sentado com as pernas cruzadas e comendo uma fruta estranha que havia pego enquanto vínhamos para a cachoeira

Comecei me concentrando no fluxo de água que corria da cachoeira, era forte, rápido e imparável, não havia como mudá-lo, não por métodos naturais. Eu estava sobre a água quando eu a forcei a rotacionar ao meu redor e em vários lugares no corpo do rio, pequenos redemoinhos começaram a ser formar

Sombras do Passado - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora