Capítulo 19

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Nos últimos dois dias, Luci apareceu bem cedo, me levou para o celeiro e me fez transformar mais animais em monstros. As vacas ficavam enormes, então Luci decidiu que eu não deveria mais transformá-las e ficar apenas com os porcos e as ovelhas.

Na hora de mandá-los embora, eu sempre me sentia meio estranha, como se eles realmente entrassem dentro de mim, mas, depois de alguns segundos, aquela sensação estranha de preenchimento ia embora. Depois do segundo dia, Luci perdeu a motivação. Eu fazia questão de não fazer nada novo para ela, assim ela ficaria entediada e, uma hora, me largaria do meu pé, mas isso não deu muito certo.

— Ia te levar para treinar hoje, mas você precisa ficar perfeita para mais tarde.

O dia ainda nem havia amanhecido e aquela infeliz já estava me perturbando logo cedo.

— Me deixa dormir, Luci — respondi com a voz rouca e baixa, cobrindo minha cabeça com a coberta —. Mais tarde você enche minha paciência, mas agora não.

— Mais tarde eu volto — disse Luci. Pelo som dos seus passos, ela parecia estar indo em direção à porta, mas parou de repente —. Quase me esqueci, sua mãe pediu para que você escolhesse a cor do seu vestido de hoje.

— Preto — respondi, quase dormindo.

— Ótimo, quando voltar mais tarde, eu o trarei junto.

— Não venha com qualquer vestido, pelo amor dos deuses — resmunguei baixo. Luci apenas saiu, fechando a porta com cuidado para não fazer muito barulho.

Quase peguei no sono quando, do nada, algo muito grande caiu do meu lado na cama.

— Que porra é essa?! — gritei, saltando da cama.

— Não estrague o momento, vai — Lucien estava deitado na cama, ao lado de onde eu estava.

Pegando meu braço com força, ele me puxou de volta para a cama, e eu acabei deixando um gritinho fino sair, que o fez rir alto.

— Para de rir, seu... idiota! — xinguei-o, entrando de volta para as cobertas. Estava apenas com uma camisola fina e transparente; por um segundo, me esqueci disso. Será que Lucien havia percebido algo?

— Sério que "idiota" foi o xingamento mais forte que você encontrou para mim? — perguntou ele, com um sorriso bobo no rosto.

Ele estava com as roupas de sempre: uma calça e uma blusa preta, um cinto com duas facas presas e suas botas, que ele havia tirado antes de pular na cama.

— Você quer que eu te chame de quê? Vagabundo, puto, filho da...

— Melhor não terminar essa frase, mocinha — disse ele, segurando meu braço com força. Que audacioso.

— E você vai fazer o quê? Me bater? — perguntei, desvencilhando meu braço de sua mão.

— Eu vou... te castigar muito — ele pulou para cima de mim, me abraçando forte e me enterrando em seu peito forte e musculoso.

— Me solte, seu urso pegajoso, vai me passar essa sua doença humana nojenta — respondi, empurrando-o para longe, mas ele se recusou a se mover.

— Já que é assim, então se contamine mais, princesinha bruxa — ele me apertou ainda mais forte, me fazendo gritar, não de dor, mas de... alguma coisa. — Pegue toda essa peste para você também.

Quando percebi, ele já estava em cima de mim, envolto em seus braços, sendo apertada cada vez mais forte contra seu corpo. Aquilo não era uma boa posição; não me trazia lembranças tranquilas, não mais. Eu queria sair daquela situação, sair daquele lugar. Comecei a me debater como um peixe fora d'água para que ele me soltasse, mas ele resistia.

Sombras do Passado - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora